Exercício recupera perda de massa óssea e muscular após bariátrica

Resultados preliminares são de pesquisa com pacientes do Hospital da Clínicas que realizaram cirurgia para redução de estômago

 30/10/2017 - Publicado há 6 anos
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Comparados ao grupo sem treinamento regular após a cirurgia, pacientes que se exercitaram perderam 60% mais gordura corporal e visceral; tiveram ganhos expressivos de força e função musculares; e apresentaram melhoria nos parâmetros associados à diabete, bem como queda no risco de doenças cardiovasculares – Foto: Lorrie Graham/Wikimedia Commons

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Exercício físico minimiza perda de massa óssea e muscular em pessoas que foram submetidas à cirurgia bariátrica. Segundo uma pesquisa feita na USP, a atividade física não só reduz estes efeitos adversos como também potencializa os benefícios do procedimento cirúrgico.

As constatações fazem parte de um estudo, cujos dados ainda são preliminares, feito por pesquisadores da Escola de Educação Física e Esporte (EEFE) da USP, com pessoas que passaram pelo tratamento de combate à obesidade no Hospital das Clínicas (HC) da Faculdade de Medicina da USP (FMUSP).

Os pacientes tiveram acompanhamento durante nove meses. Três meses após o procedimento, um grupo foi submetido a um programa de exercícios físicos, enquanto que outro não teve atividade física estruturada indicada. Foram prescritos exercícios de força e aeróbicos, três vezes por semana. No decorrer deste período, foram feitas algumas avaliações para verificação da composição corporal, da funcionalidade e dos parâmetros metabólicos, entre outros.

Três meses após a cirurgia, todos os pacientes obtiveram os benefícios clássicos proporcionados pelo procedimento cirúrgico – redução de peso e gordura corporal e melhora dos parâmetros de risco cardiovascular e metabólicos. Porém, neste mesmo período estes ganhos vieram acompanhados de significativa redução de massa óssea e de força muscular, efeitos associados à cirurgia.

Para autores de estudo, é necessário dar mais atenção à mudança comportamental de quem passa pelo procedimento – Imagem: Wikimedia Commons

Os resultados mais interessantes foram constatados seis meses depois para os pacientes que incluíram em sua rotina diária o exercício físico. Segundo Hamilton Roschel, da Escola de Educação Física e Esporte (EEFE) da USP, um dos autores da pesquisa, o grupo que se exercitou perdeu mais gordura corporal e visceral – cerca de 60%, do que o grupo que apenas realizou a cirurgia; obteve ganhos expressivos de força e função musculares; teve melhora dos parâmetros metabólicos relevantes relacionados à resistência e sensibilidade à insulina; e apresentou queda nos fatores relacionados ao risco de doenças cardiovasculares, além de menor perda óssea.

Roschel não é contrário à realização da cirurgia bariátrica porque, segundo o pesquisador, o procedimento já tem comprovada eficácia na melhora de parâmetros de saúde em indivíduos obesos. O que se propõe é “dar mais atenção à mudança comportamental de quem passa pelo procedimento”. No pós-cirúrgico, os pacientes precisam continuar sendo acompanhados por uma equipe multidisciplinar com psicólogo, nutricionista e a inclusão de um profissional de educação física, conclui.

Cirurgia bariátrica

O procedimento é cada vez mais recomendado para o combate à obesidade, um problema de saúde pública de proporções endêmicas no mundo. Segundo o Ministério da Saúde, a obesidade no Brasil cresceu cerca de 60% nos últimos dez anos, índice que pode ter contribuído para o aumento da prevalência de doenças crônicas como diabete tipo II, hipertensão, doenças hepáticas gordurosas e cardiovasculares e alguns tipos de cânceres.

“A prática de exercício físico não só reduz os efeitos adversos do procedimento cirúrgico como também potencializa os benefícios”, relata Hamilton Roschel, um dos autores da pesquisa – Foto: EEFE/USP

Indivíduos com IMC (índice de massa corporal) acima de 40 ou maior que 35 associado a comorbidades clínicas já possuem indicação para cirurgia bariátrica. Em janeiro de 2017, foi incorporada ao SUS (Sistema Único de Saúde) a videolaparoscopia nos procedimentos de cirurgias bariátricas. Informações da Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica (SBCBM), relatam que das 100 mil cirurgias realizadas no ano passado no País, apenas 10% foram feitas na rede pública.

O estudo Efeitos do treinamento físico em pacientes submetidos à cirurgia bariátrica: um estudo clínico, controlado e randomizado está sendo realizado pelo Grupo de Pesquisa em Fisiologia Aplicada e Nutrição, da Escola de Educação Física e Esporte (EEFE) da USP, sob coordenação dos pesquisadores Hamilton Roschel e Bruno Gualano (e seus alunos de doutorado Wagner Dantas, Saulo Gil, Igor Murai e Carlos Merege), em parceria com os médicos Marco Aurélio Santo e Roberto Cleva, ambos do Hospital das Clínicas (HC) da Faculdade de Medicina da USP (FMUSP). A pesquisa conta ainda com parceria internacional do médico John Kirwan, da Cleveland Clinic, nos Estados Unidos.

Mais informações: e-mail hars@usp.br, com Hamilton Roschel.

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