Grupo da USP investiga como o benzopireno pode causar câncer

Pesquisa pretende entender os mecanismos pelos quais a substância pode induzir a transformação maligna em células humanas

 21/09/2017 - Publicado há 7 anos
O carcinógeno benzopireno é encontrado na fumaça do cigarro, de escapamentos automotivos, da queima de madeira e em carnes excessivamente grelhadas na brasa ou defumadas – Foto: Marcos Santos/USP Imagens

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Presente na fumaça do cigarro, de escapamentos automotivos, da queima de madeira e em carnes excessivamente grelhadas na brasa ou defumadas, o benzopireno é um potente agente cancerígeno pertencente à classe dos hidrocarbonetos policíclicos aromáticos (HPAs).

Entender os vários mecanismos pelos quais essa substância pode induzir a transformação maligna em células humanas é o objetivo de um projeto de pesquisa apoiado pela Fapesp e coordenado pela professora Ana Paula de Melo Loureiro na Faculdade de Ciências Farmacêuticas (FCF) da USP.
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Resultados preliminares foram divulgados em agosto passado durante o V Symposium on Epigenetics and Medical Epigenomics, realizado em São Paulo.

Segundo a pesquisadora, o objetivo é identificar as vias celulares, isto é, as sequências de reações biológicas, envolvidas no desenvolvimento do câncer e, assim, encontrar possíveis alvos para a prevenção ou tratamento da doença.

“Testes mostraram que a suplementação das culturas celulares com nicotinamida ribosídeo, um dos componentes da vitamina B3, protegeu as células e impediu a transformação maligna. Agora pretendemos entender por quais mecanismos isso acontece e se esse composto pode ser usado na quimioprevenção”, conta ela.

Parte do projeto foi desenvolvida por Tiago Franco de Oliveira, bolsista Fapesp de pós-doutorado. A fase atual, envolvendo a suplementação com nicotinamida ribosídeo, constitui o projeto de doutorado de Everson Willian Fialho Cordeiro, também com bolsa Fapesp.

Metodologia

Os experimentos estão sendo realizados com células normais do pulmão – mais precisamente do epitélio brônquico. Essas células são incubadas com o benzopireno durante uma semana. Por ser esta uma substância de rápida absorção e biotransformação, revela a pesquisadora, precisa ser reposta diariamente nas culturas.
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Células de pulmão em meio semissólido contendo agarose – Foto: Divulgação

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No final do período de incubação, as células são transferidas para um meio semissólido contendo agarose, um polissacarídeo obtido de algas, com a finalidade de impedir a adesão à placa de cultura. Análises durante o período de incubação revelaram a ocorrência de alterações no DNA – tanto genéticas (lesões capazes de originar mutações na sequência de nucleotídeos) quanto epigenéticas (aumento dos níveis de 5-metilcitosina, o que altera a expressão de genes).

Ao final, as células expostas ao carcinógeno e suplementadas com nicotinamida ribosídeo não se mostraram capazes de crescer no meio de ágar – apresentando comportamento semelhante ao das células-controle (não expostas ao benzopireno).

“Sabemos que as células tumorais têm o metabolismo alterado, projetado para o crescimento. Agora pretendemos investigar de que modo a suplementação com nicotinamida ribosídeo protegeu contra a transformação de células que estavam em contato com uma substância conhecidamente carcinogênica”, finaliza.

Karina Toledo / Agência Fapesp, com edição do Jornal da USP (Leia aqui o texto original)


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