USP faz parceria com ONG e leva atendimento veterinário a regiões carentes

O Vetmóvel, projeto itinerante que percorrerá a cidade de São Paulo, fará sua primeira ação no dia 10 de dezembro, em Capão Redondo

 07/12/2016 - Publicado há 8 anos     Atualizado: 23/04/2018 às 15:04
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Foto: Marcos Santos/USP Imagens
Projeto prevê ações educativas para evitar abandono de animais – Foto: Marcos Santos/USP Imagens

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Oferecer orientação veterinária gratuita e educar tutores e cuidadores de animais que vivem em zonas carentes da cidade de São Paulo sobre assuntos como zoonoses, manipulação de alimentos, bem-estar animal, guarda responsável e controle populacional. Essa é a proposta do Vetmóvel, projeto itinerante de educação e orientação veterinária criado pela Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia (FMVZ) da USP em parceria com o Instituto Mapaa – ONG especializada no resgate em situações emergenciais, conscientização dos cuidados aos animais, adoção consciente e terapia assistida. O primeiro mutirão clínico será neste sábado, 10 de dezembro, das 9 às 17 horas, no CEU Feitiço da Vila, no Capão Redondo, zona sul de São Paulo.

“Escolhemos começar por essa região, porque é um dos bairros com menor acesso a serviços veterinários. Mais de 50% da população no bairro nunca utilizou nenhum tipo desses serviços”, conta a professora da FMVZ Paula Papa, uma das idealizadoras e responsável técnica do projeto.

Paula Pappa - Crédito: Estefânia Uchôa / CMADS
Professora Paula Papa – Foto: Estefânia Uchôa / CMADS

O trabalho no Capão Redondo começou no dia 18 de novembro, quando ocorreram as inscrições para o mutirão deste sábado. Os animais passaram por uma triagem e foram preparados para as cirurgias que serão realizadas no dia 10. No dia 3 de dezembro, foram realizadas palestras para os moradores da região. Além disso, cerca de 600 crianças, entre 6 e 10 anos, estudantes do CEU Feitiço da Vila, participaram de apresentações de teatro.

Paula explica que o projeto funciona da seguinte forma: uma equipe é enviada a uma escola, geralmente, um Centro de Educação Unificado (CEU), para fazer um trabalho inicial de identificação do perfil do ambiente em que aqueles alunos estão inseridos, descobrindo, por exemplo, o que eles entendem da relação entre seres humanos e animais, se sabem quais doenças os animais podem transmitir ou se existem muitos bichos na rua.

A partir das respostas, a equipe monta uma estratégia educativa direcionada àquela comunidade, especialmente às crianças do ensino fundamental, que inclui palestras, manuais impressos, peças teatrais e outras atividades. Durante as visitas, os estudantes são convidados a chamar seus pais e vizinhos para se inscrever no mutirão clínico, no qual são realizados exames, castrações e outros procedimentos, todos gratuitos.

O projeto envolve também a realização de pesquisas para diagnóstico dos problemas das comunidades da cidade que envolvam ações da medicina veterinária, tendo como um de seus principais focos o desenvolvimento de indicadores que permitirão, pela primeira vez, analisar os efeitos das campanhas educativas, clínicas e de castração a longo prazo. Passo fundamental para o desenvolvimento de ações e políticas que visem a reverter a árdua realidade dos animais abandonados nas ruas por todo o País.

“Hoje, em São Paulo, apenas o trabalho de castração não é suficiente. Então, além da educação, vamos construir indicadores que serão utilizados, posteriormente, para que possamos medir os efeitos da atuação do Vetmóvel – um conhecimento importantíssimo para a prevenção do aumento da população animal, e que não existe ainda no Brasil. Vamos melhorar a qualidade de vida das pessoas, dos animais e do ambiente onde vivem”, explica a professora da FMVZ.
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Atendimentos

O Vetmóvel foi adaptado a partir de um ônibus VW Apache 2005 para se tornar uma clínica veterinária. Com aproximadamente 20 metros quadrados, ele foi dividido em ambulatório, sala de higienização, sala cirúrgica, sala pós-cirúrgica e sala de degermação, onde serão esterilizados os equipamentos e materiais cirúrgicos.

A equipe de atendimento é composta de estudantes que fazem residência no Hospital Veterinário (Hovet) da USP e estudantes de graduação da FMVZ. Como explica a professora, os residentes realizam o atendimento aos animais e coordenam as atividades, enquanto os alunos de graduação atuam como observadores.

Paula ressalta que, no entanto, nem todos os casos serão atendidos. “Problemas mais comuns, como catarata, não serão abordados. Mas, em alguns casos, orientamos a pessoa a como conseguir esse serviço”, afirma. No caso da castração cirúrgica, a professora diz que, a princípio, apenas fêmeas de 0 a 2 anos de idade podem realizar o procedimento, enquanto machos podem receber a castração química a qualquer idade.

 

Parceria

A professora conta que o projeto foi idealizado em 2013 e concorreu aos editais da Pró-Reitoria de Cultura e Extensão (PRCE) da USP. “Ele foi aprovado e recebemos uma verba de R$ 180 mil”, afirma. “Porém, com a mudança de administração da Universidade, esse dinheiro acabou não chegando com o valor completo e, como estávamos esperando receber o restante, não conseguimos reformar o ônibus que tínhamos naquele ano.”

Em 2014, a ONG Mapaa surgiu com uma proposta de parceria que poderia fazer o projeto sair do papel. “Eles vieram nos procurar, porque eles tinham uma unidade móvel e estavam tentando reformá-la de acordo com as exigências do Conselho Regional de Medicina Veterinária [CRMV]. Então, pediram nossa ajuda para entrar com a parte mais técnica de medicina veterinária e fazer essa intermediação com o conselho”, explica a professora. Após um tempo de negociação, surgiu a ideia de alterar o projeto inicial e adaptá-lo para utilizar a unidade oferecida pela ONG para realizar os atendimentos.

Foto: Marcos Santos/USP Imagens
O projeto inclui pesquisas para embasar ações e políticas para reverter a realidade dos animais abandonados nas ruas – Marcos Santos/USP Imagens

Trabalhando há cinco anos com o resgate e ressocialização de animais em situação de risco, a ONG se uniu aos profissionais da Universidade para idealizar o projeto que surgiu com base no alto número de animais abandonados no Brasil. “Hoje, milhares de cães e gatos vivem em circunstâncias de abandono total, sem higiene, acompanhamento veterinário e alimentação digna, além de estarem sujeitos a agressões e maus-tratos. No País, já existem mais cães do que crianças dentro das famílias e por mais que não exista um dado concreto, sabemos que o número deles nas ruas é bastante grande. Para nós, um animal na rua é muito e este projeto vai ajudar a reverter essa realidade que nasce na desinformação e na falta de acesso ao conhecimento e ao atendimento veterinário” explica Mikael Freitas, fundador e diretor administrativo do Instituto Mapaa.

A campanha de conscientização também é parte importante do projeto, segundo a professora. Antes de adotar ou comprar um animal de estimação, ela afirma que é necessário considerar alguns fatores, como, por exemplo, a disponibilidade de tempo e de espaço físico que o guardião tem a oferecer.

“Tanto para cães quanto para gatos, é muito complicado adquirir um animal e deixá-lo em casa sozinho. As pessoas acabam abandonando esses animais por conta de problemas de comportamento que foram causados por elas”, diz Paula, que complementa: “Também é necessário ter disponibilidade financeira, esses animais têm de ir ao veterinário, ser vermifugados, vacinados e receber assistência conforme vão envelhecendo. Se tudo isso estiver em ordem, então a família pode escolher qual tipo e porte de animal quer adquirir baseado no perfil dos seus membros, como, por exemplo, se são mais sedentários ou ativos”.

Com informações da Assessoria de Comunicação da ONG Mapaa

 


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