Filtro dos sonhos, apanhador dos sonhos, caçador dos sonhos. São diferentes os nomes usados para o amuleto ligado à cultura indígena. Segundo a crença, ele é um purificador de energias e traz sabedoria e sorte a quem o possui. A partir da confecção desses filtros, jovens que estão cumprindo medidas socioeducativas na Fundação Casa de Lorena, interior de São Paulo, têm aprendido sobre empreendedorismo.
A iniciativa é organizada por alunos da Escola de Engenharia de Lorena (EEL) da USP. Eles integram a Enactus, uma organização mundial de estudantes que trabalha com empreendedorismo social. O grupo fez parceria com a Fundação Casa para trabalhar com jovens da instituição.
Um desses projetos é o João de Barro, que funciona desde agosto de 2017. Uma vez por semana, os universitários organizam duas oficinas: produção de artesanatos e empreendedorismo. Eles ensinam sobre precificação de produtos, cores, marketing, entre outras informações, além da confecção de filtros dos sonhos a partir de quatro técnicas diferentes.
“Inicialmente, a ideia era realizar oficinas socioemocionais, juntamente com a aplicação de artesanato. Depois, trabalhamos na confecção de almofadas e, hoje, estamos com o filtro dos sonhos, que é o que mais funciona para os meninos”, comenta Cássia Alves, 20 anos, estudante de Engenharia Química da EEL e uma das líderes do projeto, que conta com outros nove participantes.
As oficinas são organizadas em turmas de 12 a 15 jovens escolhidos pela própria equipe pedagógica da Fundação Casa. Alguns deles, que já realizaram o curso, trabalham como replicadores, auxiliando os demais participantes.
Os filtros são vendidos pela comissão do projeto a partir do Instagram ou de eventos do Grupo Enactus EEL. Quem tiver interesse, é só entrar em contato pela rede social. Uma parte da renda volta para o próprio projeto para compra de mais material. A outra retorna à fundação para compra de itens para os jovens internos, como bolas de basquete, filtro de água para a quadra etc.
Em tempos de pandemia
Em março, o Estado de São Paulo entrou em isolamento social devido à pandemia de covid-19. Assim, o João de Barro teve que fazer uma pausa. “Mantivemos contato com a Fundação Casa e discutimos a possibilidade de aplicar oficinas on-line. A fundação fechou uma plataforma para isso e estamos esperando a confirmação de uso. Em agosto, vamos começá-las”, conta Cássia.
Nesse tempo de pausa, o grupo manteve a divulgação no Instagram. “Estamos produzindo conteúdos para desmistificar a ideia que se tem dos meninos. Muita gente tem preconceito com a Fundação Casa, então trabalhamos conteúdos nesse sentido, além de expor os filtros do sonho para vendê-los.”
Oportunidade de emprego
O grupo Enactus EEL já tem planos para novas ações com jovens da Fundação Casa de Lorena, como o Canário: oficinas de barbearia com empreendedorismo. A ideia surgiu em 2019, a partir do João de Barro e do contato com um juiz da cidade. “Ele queria fazer um projeto voltado à vida dos meninos após a passagem pela fundação”, conta Adriele Braga, 24 anos, estudante de Engenharia Química da EEL e líder do projeto.
Ela ressalta um fator diferencial da ação: oferecer oportunidade de emprego após a passagem pela fundação. “Selecionaremos meninos que estão próximos de sair, assim eles irão para uma barbearia, recebendo um estágio remunerado. O juiz liberou uma verba para o projeto voltado para a compra dos materiais a serem usados nas barbearias e para pagar a bolsa para os meninos.”
A ideia da barbearia veio de uma demanda dos próprios internos. Uma parceria foi fechada com cinco barbeiros da cidade de Guaratinguetá, vizinha a Lorena. “Eles ensinam a parte prática e nós organizamos oficinas de empreendedorismo. Passados três meses, os meninos terão um estágio remunerado dentro da barbearia, no qual conseguirão colocar em prática tudo aquilo que ensinamos.”
O Canário terá duração total de seis meses, três dentro da fundação, com as oficinas empreendedoras e de barbearia, e três com os estágios remunerados. “Conseguimos toda a documentação para liberar o projeto, e iríamos começar sua aplicação no início deste ano, mas veio a pandemia”, diz Adriele.
Agora, a previsão é iniciar o projeto presencialmente em 2021, enquanto isso o grupo pensa alternativas para manter o contato com os jovens. “Estamos planejando fazer alguns vídeos sobre a questão empreendedora e passar a todos da fundação. Também pensamos em fazer vídeos dos barbeiros, contando um pouco sobre como é ter um próprio negócio, dificuldades e superações, para encorajar os meninos”, diz Adriele.
Além dos dois projetos com a Fundação Casa, o grupo Enactus da EEL, que existe desde 2015, é responsável pelo Biguá, que oferece aulas de robótica em escolas públicas, e o Cigana, com oficinas de panificação, a partir do bagaço de malte, de grande valor nutricional.
O projeto Cigana tem parceria com o Centro de Referência e Assistência Social (CRAS), mas, com a pandemia, teve que pausar as atividades. O grupo não ficou parado e fez campanha de arrecadação de dinheiro para a compra de kits de higiene. Mais de 800 famílias foram ajudadas.
No caso do projeto Biguá, houve mudanças na grade escolar das escolas e a disciplina de robótica foi descontinuada. Agora, o grupo Enactus está estruturando uma proposta de oferecer a oficina fora das escolas.
Para mais informações, acesse:Enactus EEL-USP Facebook: https://www.facebook.com/enactuseel/ Instagram: https://www.instagram.com/enactus.eel.usp/?hl=pt-br WebSite: http://enactuseelusp.com.br/ |
Ouça no player abaixo entrevista de Cássia Marcorin Alves para o Jornal da USP no Ar, Edição Regional.