A vocação docente está prevista como fim da pós-graduação desde o seu primeiro plano nacional, publicado em 1965. Mas, desde então, novas possibilidades de carreiras surgiram e tomaram o espaço da prática docente no mestrado e doutorado. É o que observa Carlos Gilberto Carlotti Jr., pró-reitor de Pós-Graduação da USP.
“Por isso, erroneamente questionam se o pós-graduando deve ter habilidades pedagógicas”, diz Carlotti. “Independentemente do seu ramo de atividade, o estudante deve ter uma formação didático-pedagógica, porque assim ele desenvolverá uma série de habilidades de raciocínio, contextualização e de apresentação de ideias.”
Para preencher a lacuna no ensino da docência aos mestrandos e doutorandos, a Pró-Reitoria de Pós-Graduação (PRPG) da USP criou, no ano passado, um grupo de estudos para formular práticas de formação didático-pedagógicas aos alunos da pós-graduação stricto sensu (mestrado e doutorado).
“Nosso plano é oferecer atividades que transformem o ensino da docência em uma pauta permanente na pós-graduação”, diz Luiz Felipe Pinho Moreira, coordenador do grupo de estudos e professor da Faculdade de Medicina da USP (FMUSP).
Em 19 de junho, a PRPG realizou sua primeira ação para implementar esse ensino. O seminário Formação Didático Pedagógica na Pós-Graduação contou com a participação da professora da Faculdade de Educação (FE) da USP e ex-pró-reitora de Graduação, Selma Garrido Pimenta, e com o administrador Bruno Martins, que discutiu as novas tendências do mercado de trabalho.
Estão previstos para o segundo semestre a realização de novos seminários e o lançamento de um curso on-line que abordará tópicos como a docência no ensino superior, a prática docente e os processos de ensino-aprendizagem, o planejamento da prática pedagógica — o professor como mediador e organizador do ambiente de aprendizagem —, e avaliação da aprendizagem e da prática pedagógica. Outro curso, Introdução à Pós-Graduação na Universidade de São Paulo, já está disponível no site da PRPG.
Docência e pós-graduação
Para a professora Selma Garrido, o domínio da área de conhecimento e das habilidades de docência são igualmente importantes para a formação de pós-graduandos. “É isso que deveria estar sendo exigido dos professores quando ingressam nas universidades, mas não existe um curso para prepará-los.”
“Quando as pessoas chegam na graduação, há uma tendência de pensar que o estudante já está pronto, porque ele passou pelo funil do vestibular. Por isso, a universidade só deveria pensar em pesquisa, e não no ensino. Isto é um ledo engano”, analisa Selma. Segundo a pedagoga, a graduação ainda é uma etapa da escolarização do estudante e tem a missão de formar pessoal, humana e profissionalmente.
“O ensinar não se reduz a um conjunto de técnicas”, diz Selma. Ele está conectado à capacidade de elaborar soluções, de fazer interpretações interdisciplinares, analisar o contexto das situações e não apenas ter uma visão específica da área.
De acordo com o Plano Nacional de Pós-Graduação vigente, formar 19 mil doutores anualmente e dobrar a proporção deles para cada mil habitantes até 2020 são algumas metas propostas pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes). Na perspectiva de Selma, a formação crítica e reflexiva, em detrimento da tecnicista, é a mais desejável para a pós-graduação, visto que “os profissionais que saem das universidades têm um compromisso com a sociedade”, afirma.