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Passados dez anos, ainda hoje são sentidas as repercussões da série de mobilizações de massa ocorridas simultaneamente em cidades de todo o Brasil no ano de 2013. Para discutir e contrastar opiniões sobre o movimento que ficou conhecido como as Jornadas de Junho de 2013, será realizado o seminário Visões de Junho: Textos e Contextos, de 8 a 11 de agosto, a partir das 16h, no Conjunto Didático de Filosofia e Ciências Sociais, da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP. Haverá transmissão ao vivo pelo canal da FFLCH no Youtube e, para obter o certificado de participação, é preciso se inscrever neste link.
Serão debatidos alguns dos mais importantes trabalhos acadêmicos publicados nos últimos anos acerca do assunto, além de fomentar o diálogo com atores que estiveram diretamente implicados nos acontecimentos políticos daquela época. Entre os participantes estão professores e pesquisadores da USP, como o jornalista Eugênio Bucci, o sociólogo Jean Tible, a filósofa Marilena Chauí, a historiadora Lilia Schwarcz e o filósofo Vladimir Safatle; e de outras universidades, entre eles, Roberto Andrés (Universidade Federal de Minas Gerais) e Douglas Barros (Universidade Federal de São Paulo), além de convidados como Bruno Torturra (ex-Mídia Ninja), Lucas Monteiro “Legume” (ex-Movimento Passe Livre) e Ana Cláudia Mielke (Intervozes).
“A ideia de organizar este seminário surgiu, em primeiro lugar, de uma percepção de que as Jornadas de Junho seguem sendo uma incógnita para os analistas políticos, em geral, e para as esquerdas e o campo popular, em particular. Isso se dá em virtude, claro, da complexidade do evento, mas também das disputas de narrativa em torno dele. Além disso, acreditamos que uma compreensão apurada a respeito do significado político de Junho é essencial para se pensar um novo ciclo de disputas políticas no País (que, no entanto, já começou)”, afirma Matheus Ichimaru, doutorando em Filosofia pela USP e um dos organizadores do evento, ao lado de Pedro Ivan de Sampaio (USP) e Thomás Zicman de Barros (Sciences Po). A coordenação é dos professores da USP Alberto G. Ribeiro de Barros e Sérgio Cardoso.
Segundo Matheus, a nova literatura produzida a respeito do assunto auxilia nesta tarefa, citando os livros de Roberto Andrés, Angela Alonso, Rodrigo Nunes, entre outros autores. “No seminário, buscaremos cotejar estes trabalhos com outros que foram produzidos ao longo desses dez anos, bem como ouvir atores políticos que estiveram diretamente implicados nos eventos em questão. Por fim, pensamos que realizar um seminário a respeito de Junho em agosto pode lhe conferir a vantagem do olhar retrospectivo e, talvez, consigamos oferecer um espaço de reflexão coletiva no qual algum tipo de ‘balanço’ a respeito do assunto seja produzido”, espera.
Entre as várias obras que serão discutidas durante o evento, estão Junho: potência das ruas e das redes (Friedrich Ebert Stiftung, 2014), de Alana Moraes, Bernardo Guttiérrez, Henrique Parra, Hugo Albuquerque, Jean Tible e Salvador Schavelzon; Junho e os dez anos que abalaram o Brasil: 2013–2023 (Usina, 2023), de Carolina Freitas, Douglas Barros e Felipe Demier; A forma bruta dos protestos: das manifestações de junho de 2013 à queda de Dilma Rousseff em 2016 (Companhia das Letras, 2016), de Eugênio Bucci; Só mais um esforço: como chegamos até aqui ou como o país dos ‘pactos’, das ‘conciliações’, das ‘frentes amplas’ produziu seu próprio colapso (Vestígio, 2022), de Vladimir Safatle; e A razão dos centavos: crise urbana, vida democrática e as revoltas de 2013 (Zahar, 2023), de Roberto Andrés.
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Contexto político
O protesto que começou contra o aumento da tarifa de R$ 0,20 no transporte público, no início de junho de 2013, evoluiu para uma série de manifestações, unindo cidadãos de diferentes posições políticas que foram às ruas para reivindicar melhorias não só no transporte – já que não houve o aumento das tarifas de ônibus – mas também na saúde, na educação e no trabalho. Outras grandes manifestações, unidas à organização da luta do Movimento Passe Livre (MPL), ocorreram naquele mesmo mês: no dia 11 de junho, o protesto atraiu cerca de 5 mil pessoas na região central paulistana, marcado pela forte presença das forças policiais, culminando no ato de 13 de junho, com um grande movimento de convocação organizado através das redes sociais. O sentimento de insatisfação generalizada deu início a um movimento conhecido como Jornadas de Junho, que ocorreu durante o governo da petista Dilma Rousseff, tornando-se um marco no cenário político brasileiro.
Diversos fatores conflitantes emergiram e a questão da tarifa apenas revelou os muitos problemas enfrentados pelas metrópoles. Os protestos passaram então a dar voz a outros discursos, criticando, por exemplo, os altos gastos públicos com a Copa do Mundo de 2014, sediada no Brasil, e a corrupção. Além disso, nos anos seguintes, o Brasil ainda viveu o ápice da operação Lava Jato, o impeachment da presidente Dilma Rousseff, a prisão de Lula, a eleição de Jair Bolsonaro e o fortalecimento de movimentos antidemocráticos que culminaram na invasão e depredação das sedes dos Três Poderes, mostrando que os atos de 2013 continuam a repercutir no País.
Programação completa
Terça-feira, 8 de agosto
- Das 16h às 18h30: Exposições de Douglas Barros (Unifesp) e Um grupo de militantes na neblina, com mediação de Ronaldo Tadeu de Souza (USP)
- Das 19h às 21h30: Exposições de Eugênio Bucci (USP) e Jean Tible (USP), com mediação de Bianca Tavolari (Cebrap/Mecila)
Quarta-feira, 9 de agosto
- Das 16h às 18h30: Exposições de Bruno Torturra (ex-Mídia Ninja), Lucas Monteiro ‘Legume’ (ex-MPL) e Ana Cláudia Mielke (Intervozes), com mediação de Conrado Corsalette (Nexo)
- Das 19h às 21h30: Exposições de Pablo Ortellado (USP) e Paulo Arantes (USP), com mediação de Pedro Ivan de Sampaio (USP)
Quinta-feira, 10 de agosto
- Das 16h às 18h30: Exposições de Maria Caramez Carlotto (UFABC) e Marilena Chauí (USP), com mediação de Sérgio Cardoso (USP)
- Das 19h às 21h30: Exposições de Roberto Andrés (UFMG) e Miguel Lago (Ieps), com mediação de Luna Zarattini
- Sexta-feira, 11 de agosto
16h: Encerramento, com exposições de Vladimir Safatle (USP) e Lilia Schwarcz (USP), e mediação de Thomás Zicman de Barros (Sciences Po)
O seminário Visões de junho: textos e contextos ocorrerá de 8 a 11 de agosto, às 16h, nos Auditórios 8 e 14 do Conjunto Didático da Filosofia e Ciências Sociais da FFLCH/USP (Av. Prof. Luciano Gualberto, 315, Cidade Universitária). Gratuito. A transmissão será pelo Youtube nos seguintes links: dia 8 de agosto; dia 9 de agosto, dia 10 de agosto e dia 11 de agosto. Mais informações e inscrições neste link.