O estudante da USP Breno Pejon em frente à Universidade de Seul na conclusão do intercâmbio na Coreia - Foto: Arquivo Pessoal

Coreia do Sul e USP aproximam laços e querem mais intercambistas no país asiático

Ações dentro do campus divulgam cultura coreana e apoiam internacionalização; USP promoveu intercâmbio de 56 estudantes para uma das 23 instituições parceiras em cinco anos

 27/06/2022 - Publicado há 3 anos     Atualizado: 06/07/2022 às 10:04

Leonardo Câmara e Valentina Moreira

País localizado no sul de uma península no leste asiático, com paisagens montanhosas e templos históricos. Reconhecido pelo alto desenvolvimento em tecnologia, pela sua cultura pop e intensos investimentos em educação. A Coreia do Sul tem sido cada vez mais procurada por estudantes brasileiros: foram 56 alunos da USP em intercâmbio no país nos últimos cinco anos, mesmo com a pandemia da covid-19. 

Para ampliar as relações que o país tem com a Universidade, a Agência USP de Cooperação Acadêmica Nacional e Internacional (Aucani) tem trabalhado na construção de mais áreas de interesse para mobilidade acadêmica. Além da parceria com 23 instituições coreanas, a Aucani conta, desde novembro de 2021, com o Korea Corner, espaço que oferece cursos e eventos de divulgação da cultura coreana dentro do Centro Intercultural Internacional da USP. 

No início de junho, foi realizada no local a Feira Cultural da Coreia 2022, que trouxe aspectos interessantes da cultura coreana, como a gastronomia, o idioma e os jogos tradicionais. Além disso, foi possível passear pelos principais pontos turísticos do país por meio do recurso de realidade virtual e conhecer oportunidades de estudo. O objetivo por trás dessas ações é estabelecer um avanço cooperativo em ensino, pesquisa e extensão.

A internacionalização não acabou por conta da pandemia, pelo contrário, alguns laços foram até mais fortificados. Então, é importante aproveitar esse panorama que a USP oferece”, destaca Paulo Braz, diretor de Mobilidade Acadêmica da Aucani. Segundo ele, é possível participar de eventos e cursos relacionados à língua estrangeira, à gastronomia, ao esporte e à música no campus antes da imersão no exterior.

Paulo Henrique Braz Silva - Foto: Arquivo pessoal

Paulo Braz, diretor de Mobilidade Acadêmica da Aucani - Foto: Divulgação/FO USP

Além das oportunidades oferecidas pela Aucani, o aluno que deseja realizar intercâmbio na Coreia também pode concorrer a uma vaga em editais específicos da unidade em que estuda. 

Korea Corner no Centro Intercultural Internacional da USP - Fotos: Divulgação/Aucani e Cecília Bastos/USP Imagens

Um dos objetivos da Feira Cultural da Coreia 2022 foi divulgar o Korea Corner, espaço reservado no Centro Intercultural Internacional da USP para a promoção da cultura sul-coreana. O centro também engloba o Corner de Israel e pretende inaugurar outros espaços dedicados a outros países. O Korea Corner pode ser visitado de segunda a sexta-feira, das 10h às 16h, ou por meio de um tour virtual, disponível neste link

Clique no player a seguir para conferir como foi a feira.

Um estudante brasileiro na Coreia do Sul

Breno Pejon fez intercâmbio na Universidade de Seoul - Foto: Arquivo pessoal

Pensar em fazer intercâmbio na Coreia do Sul pode trazer certa insegurança. Em razão da pouca familiaridade com o idioma, é comum que alunos interessados no país se sintam apreensivos em relação à comunicação e, por isso, optem por outros destinos. Breno Pejon, aluno de Ciências da Computação do Instituto de Ciências Matemáticas e de Computação (ICMC) da USP em São Carlos, estudou por oito meses na Universidade de Seul e conta que, em geral, não há razão para tal medo.

Sem falar o coreano de antemão, Pejon lembra que, na sua experiência, o idioma não foi um empecilho. “Fui sem saber a língua porque sabia que lá eles tinham aula de coreano. Nos aeroportos, lugares públicos, tudo é sinalizado em coreano e em inglês, então eu não passei muito apuro. Só com o inglês dá para se virar bastante.”

O interesse do estudante pela região começou em razão do jogo League of Legends, que, segundo ele, conta com muitos times coreanos e campeonatos sediados no país. O intercambista conta que viu uma oportunidade de aprender uma nova língua e ter contato com uma cultura que já tinha curiosidade. Assim, na própria universidade, ele frequentou aulas de coreano e computação, e comenta que não sentiu dificuldade em acompanhar o conteúdo, já que a cobrança era semelhante à da USP. 

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Breno Pejon, estudante da USP em São Carlos e intercambista na Coreia - Foto: Arquivo pessoal

Em relação à adaptação, Pejon relata que recebeu ajuda para se enturmar. “A Universidade de lá oferece um orientador que ajuda os estrangeiros e está à disposição para qualquer dúvida. Também tem um grupo que é feito com todos os alunos, que organiza eventos para os intercambistas conhecerem outras pessoas e reunir todo mundo.”

Fora do ambiente universitário, ele afirma que a principal dificuldade que enfrentou foi o estranhamento dos coreanos. “Você é um destaque porque é fácil reconhecer que você é estrangeiro. Em questão de comportamento isso tem dois lados. Eu fui rejeitado por vários táxis, mas quando precisei ir ao hospital, tinha uma moça que ficava comigo andando para lá e para cá só para me ajudar e garantir que eu não me perdesse.”

Breno foi intercambista na Coreia entre janeiro e dezembro de 2021; à direita, com alunos da Universidade de Seul na porta do alojamento de estudantes internacionais - Foto: Arquivo pessoal

Ainda assim, o aluno do ICMC recomenda muito que outros estudantes façam intercâmbio no país asiático. Ele destaca que a vida escolar durante o ensino médio e o regime de trabalho após o ensino superior são muito exigentes na Coreia do Sul. Por isso, a faculdade é, muitas vezes, o momento mais propício para os coreanos usufruírem da socialização. Para o estudante, esse é o maior ganho do intercâmbio: a oportunidade de fazer grandes amigos.

“Antes de ir, eu era muito tímido, não gostava de conversar com muitas pessoas. Lá, sinto que meu lado social foi mais forçado. Eu tinha um colega de quarto, então toda hora tinha alguém para conversar, alguma coisa para fazer. Foram alguns meses, mas parece que foram anos. Era uma relação muito próxima e a gente se conheceu muito. Eu sinto muita falta disso.” 

Como planejar a internacionalização?

Entre as possibilidades de intercâmbio, é possível elaborar um projeto de mobilidade a fim de cursar disciplinas por um período curto de 30 dias, um longo de três a seis meses ou até mesmo um de dois anos para dupla diplomação. Há a possibilidade também de mobilidade com o objetivo de obter experiência em um estágio específico, para realizar parte de um projeto de pesquisa ou de envolver-se em atividades de cultura e extensão, como no caso de cursos de inverno.

Mestrandos e doutorandos têm as mesmas possibilidades, especialmente de desenvolverem suas teses em outro país. Usualmente, o prazo mínimo é de seis meses, mas é possível estendê-lo para obtenção de dupla titulação. A tendência é da procura se concentrar em faculdades estadunidenses e europeias, mas existem vagas em universidades coreanas bem ranqueadas internacionalmente, como a Universidade Nacional de Seul e a Universidade da Coreia.

Quanto ao receio de alguma barreira linguística, Braz esclarece que não configura um obstáculo para as experiências que não focam na língua ou literatura do país. “Outras áreas como tecnologia, saúde, enfim, muitas das atividades, sobretudo de pesquisa, podem ser realizadas em inglês.” 

É possível se preparar para as vagas de intercâmbio dos editais ou para bolsas de estudo por meio de cursos. A Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP oferece cursos de bacharelado e de licenciatura em língua coreana, enquanto a Aucani apresenta cinco cursos preparatórios para o teste de proficiência na língua inglesa. 

Os editais são lançados com base em acordos de cooperação entre a USP e as instituições estrangeiras. Essas parcerias podem ser feitas pela própria Aucani ou pelas unidades, que podem ter pré-requisitos específicos. Confira a seguir os critérios comuns para a mobilidade pela Aucani.

O que é preciso para fazer intercâmbio na Coreia do Sul durante a graduação?

Critérios para a mobilidade pela Aucani USP

Completar

40%

dos créditos obrigatórios do curso sem dependências

Média normalizada acima de

5,0

Quanto melhor o histórico,
maior é a chance

Comprovar

proficiência

na língua inglesa
ou língua coreana

Não ter

penalidades

por desistência fora do prazo de editais anteriores

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O candidato que não tiver condições de arcar com custos adicionais, como passagem, moradia, alimentação e transporte, pode solicitar auxílio financeiro. Pós-graduandos, por exemplo, podem encontrar bolsas de pesquisa em fundações de apoio à pesquisa como CNPq, Capes e Fapesp. 

Já os graduandos podem ser candidatos a bolsas de mérito acadêmico oferecidas pela USP e por parcerias como a do banco Santander, que apoia o desenvolvimento de projetos de educação da Universidade desde 2001. No caso do banco, Braz comenta que existe um edital que concede bolsas de estudos especificamente para instituições asiáticas.

Ele explica também o valor médio das bolsas. “Existem bolsas para os intercâmbios de curta duração, mínimo de 30 dias até 90 dias, que estão atualmente em R$ 14 mil. Nos intercâmbios de duração um pouco maior, ou seja, três meses até seis meses, esse valor dobra para R$ 28 mil. [O valor] não era reajustado desde 2015 e foi uma necessidade que a atual administração observou, para que o valor da bolsa não seja um impeditivo na inscrição de alunos, somente pelo seu perfil socioeconômico.”

As agências internacionais também são uma fonte de apoio. Organizações de fomento ao ensino na Coreia do Sul podem oferecer suporte financeiro para a permanência estudantil e cada local fornecerá o financiamento de acordo com critérios individuais — mérito, condição socioeconômica, pesquisa, entre outros. 

O acompanhamento dos estudos ou do estágio é realizado pelas comissões de mobilidade de cada instituto em conjunto com a Aucani. Esses órgãos estarão disponíveis para eventuais problemas acadêmicos, irão avaliar o plano proposto ao término da internacionalização, assim como o quanto foi cumprido por meio de relatórios e documentos.

Segundo o professor, a Aucani também deseja ampliar as chamadas para a vinda de coreanos à USP. Ele afirma que “a perspectiva é que a gente, em um futuro a médio prazo, consiga oferecer mais disciplinas em língua inglesa. Além disso, [a ideia] é fazer chamadas específicas para receber esses alunos em atividades de pesquisa e de estágios”.

Braz reforça que é fundamental montar um plano de intercâmbio até alcançar a quantidade de créditos necessários para participar dos editais. “A Universidade tem uma quantidade infinita de ações ligadas à internacionalização que devem ser aproveitadas pelos alunos. Aproveitem, se inscrevam, façam os cursos. Mesmo pensando na mobilidade tradicional, ela é um planejamento, uma construção. Aproveitem esse período inicial do estudo para construir essa mobilidade.”

Para mais informações sobre mobilidade acadêmica pela Aucani, clique aquiOs interessados na cultura coreana podem acessar o site do Centro Cultural Coreano.


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