Zoológicos e aquários, espaços de biodiversidade, são locais de conhecimento, educação e pesquisa

Segundo José Luiz Catão Dias, as estruturas de poder, os governos municipais e estaduais veem os zoológicos como mais uma unidade de despesa sem grandes triunfos, o que considera um erro

 Publicado: 10/03/2025 às 10:30
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Duas araras azuis coladas uma à outra e se tocando com os bicos
As araras-azuis, espécie considerada “extinta na natureza”, são exemplos de animais que majoritariamente existem em cativeiro – Foto: Paulo Pinto/Agência Brasil
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Zoológicos e aquários podem ser considerados espaços ambíguos situados no ecossistema da cidade e nas discussões ambientais. Centros de biodiversidade, preservação e entretenimento, eles ocupam papéis, muitas vezes, criticados e subestimados, ao mesmo tempo que ignoram sua real motivação. O Zoológico de Schönbrunn, em Viena, é considerado o mais antigo do mundo. Aberto em 1752, o zoológico era conhecido como Casa Imperial das Feras e era voltado à recreação do imperador austríaco Francisco Esteban de Lorena e de sua família. Este fato reflete a inicial motivação desses espaços, focados em oferecer experiências visuais interessantes à população. Entretanto, com o avanço do tempo e da pauta climática sobre vida ambiental e animal, zoológicos e aquários assumiram um papel oposto à inicial motivação, centrado na biodiversidade, preservação e entretenimento.

Homem branco, na meia idade, calvície acentuada, barba e bigode e sorrindo para a câmera.
José Luiz Catão Dias – Foto: Loop

Segundo José Luiz Catão Dias, professor de Patologia Comparada na Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da USP, zoológicos e aquários, atualmente, são espaços subestimados pelo poder governamental, que permanece alheio aos seus benefícios. “Acho que, na maioria das vezes, as estruturas de poder, os governos municipais e estaduais veem os zoológicos como mais uma unidade de despesa sem grandes triunfos, o que eu acho que é um erro incrível, porque zoológicos têm um potencial de agregar conhecimento, educação, pesquisa, lazer e conservação muito grandes.”

Quando bem administrados e em boas condições, eles representam importantes centros de pesquisa científica e preservação para a cidade, acolhendo espécies ameaçadas e contribuindo para o incentivo ao conhecimento popular sobre a biodiversidade. “Eles têm uma importância muito grande para a questão da conservação, pesquisa e educação ambiental com relação à sociedade que os frequenta. Eu diria até que, para algumas espécies e grupos de animais, os aquários e os zoológicos são a última fronteira, na verdade, eles são a última opção.”

Importância para pesquisa

As araras-azuis, espécie considerada “extinta na natureza”, são exemplos de animais que majoritariamente existem em cativeiro. Elas são mantidas sobre os cuidados de zoológicos e criatórios, onde a reprodução e a preservação são instrumentalizadas para uma possível reintrodução na natureza, ao mesmo tempo que contribuem para a pesquisa científica sobre suas famílias.

Para Catão, esse seria um benefício indireto para os animais. “Uma ararinha azul mantida em cativeiro no zoológico está contribuindo por meio da pesquisa, da educação ambiental, para a conservação da espécie como um todo. Então, acredito que seja um benefício indireto desses animais que são mantidos sob cuidados humanos em cativeiro.”

A conservação de espécies atualmente é um importante fator para a permanência de animais em zoológicos e aquários. Um exemplo desse fenômeno recentemente se deu no Aquário de São Paulo, quando a ursa-polar Aurora deu à luz ao primeiro filhote de urso-polar nascido na América Latina, Nur. O evento foi recebido com festividades, pois, segundo especialistas, a reprodução de ursos-polares representa um grande desafio pela raridade de casais dessa espécie ao redor do mundo. Além disso, o acontecimento garante a continuidade de uma espécie que se vê constantemente ameaçada.

Para além destes, o professor destaca a boa alimentação e o tratamento veterinário adequado como benefícios adicionais, dependendo da instituição. E, por isso, ele ressalta a importância da fiscalização pelas instituições ambientais, como o Ibama e a Associação Latino-Americana de Zoológicos e Aquários (ALPZA), desses estabelecimentos e das condições oferecidas aos animais. “Acho que os zoológicos e os aquários precisam ser adequadamente vistoriados, mantidos, tanto pelos órgãos competentes quanto pelas suas próprias associações (…) Eles precisam de critérios para definição de qual é o tamanho de um recinto, qual é a alimentação adequada, qual é o tipo de profilaxia que é feita com vacinas para os diversos grupos de animais.”


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