Violência como questão de saúde pública entra em foco no plano estratégico da OMS

Marcelo Nery explica colaboração do NEV com a Opas e aborda principais propostas para o plano 2026/2031

 25/11/2024 - Publicado há 3 meses
Imagem de parte da cabeça de uma criança, uma menina, com a mão direita tapando o ouvido direito
“Infelizmente, pela falta de estrutura, a escola, em vez de ajudar a reduzir os impactos que essa violência teria sobre os adolescentes, acaba potencializando, exatamente porque não é um ambiente adequado”, aponta o professor Dácar – Foto: Ulrike Mai via Pixabay – CC
Logo da Rádio USP

O Centro Colaborador da Organização Mundial da Saúde (OMS) do Núcleo de Estudos da Violência (NEV) da USP participa de reuniões na Organização Pan-Americana de Saúde (Opas)/OMS sobre plano estratégico 2026/2031, a fim de enfatizar a violência, a impunidade e as políticas de segurança ineficazes como fatores que afetam a saúde pública. Assim, a violência afeta não apenas as vítimas diretas, mas também a saúde física e mental da população em geral.

Marcelo Nery, doutor em Sociologia, pesquisador de Transferência Tecnológica do NEV e coordenador do Centro Colaborador da OMS participa das discussões do plano estratégico da Opas para 2026-2031. Ele explica que o Centro Colaborador é uma instituição que contribui com temas complexos em áreas específicas de competência técnica. “O NEV é uma dessas instituições. A ideia, pela expertise do NEV e pelo conhecimento, é contribuir com aspectos relacionados à violência, crime, políticas públicas e direitos humanos. Como o NEV desenvolve pesquisa e compartilha dados relacionados a esses temas, a OMS acreditou que o NEV poderia contribuir.”

Desde 2005, o NEV atua como centro colaborador da OMS, sendo redesignado até o período de 2028. Segundo Nery, essa parceria reflete a complexidade das demandas da OMS, que requerem o suporte de instituições com expertise técnica. “O nosso principal foco, já que os problemas são muito grandes, é enfatizar que ainda sofremos o impacto da pandemia. Muito precisa ser feito, mas quais são as prioridades? Cada um dos stakeholders apresenta argumentos para que o tema que ele acha prioritário seja colocado nos documentos da OMS”, ressalta.

Homem negro, ainda jovem, de barba e bigode, terno escuro, colarinho branco
Marcelo Nery – Foto: NEV USP

NEV e OMS

Nas reuniões para o plano estratégico, o NEV propôs maior destaque às ciências humanas — sendo um dos poucos Centros Colaboradores a não focar diretamente na questão da saúde —, com pautas sobre violência contra crianças e adolescentes, além de abordagens sobre populações carcerárias e povos originários. Pouco documentados, esses problemas foram ressaltados pelo NEV: “Na pandemia, ressaltou aos olhos de todos como a população carcerária estava vulnerável com relação à questão de saúde. Outra questão diz respeito aos povos originários. Sem sombra de dúvidas, a relação entre violência e saúde para povos originários gera problemas específicos e demanda ações específicas, e não poderia ser esquecido nos documentos da OMS”, afirma.

Conforme o especialista, um dos focos fundamentais que o NEV tenta mostrar para a sociedade em geral e para as instituições é que, em problemas de diferentes áreas, grupos específicos têm vulnerabilidades específicas. “A partir disso, a gente começa a perceber como é fundamental uma política pública adequada à população e focada nas populações mais vulneráveis. Ligado a isso, um dos principais problemas para que políticas públicas sejam executadas é a falta de confiança nas instituições. É necessário transparência e aproximação desses grupos vulneráveis com instituições”, comenta.

As propostas do NEV foram bem recebidas pela Opas, que incorporou temas sugeridos pelo núcleo, como o impacto da violência no sistema carcerário e nas comunidades indígenas. Ele complementa: “Sem sombra de dúvidas, a questão da criança e adolescente é uma coisa que vai estar presente nos documentos, principalmente relacionado às questões de uso de entorpecentes, mas cada vez fica mais sensível à OMS questões, por exemplo, ligadas a suicídio, que também é uma questão relacionada a crime violento e violação de direitos, direta e indiretamente”.

Com o progresso nas discussões, a próxima etapa será em janeiro de 2025, com a definição de indicadores para monitorar os avanços. “A ideia é, além de dar maior fechamento a tudo que tem sido discutido até agora, começar a pensar nos indicadores.” Para ele, essa etapa é crucial para assegurar resultados efetivos.


Jornal da USP no Ar 
Jornal da USP no Ar no ar veiculado pela Rede USP de Rádio, de segunda a sexta-feira: 1ª edição das 7h30 às 9h, com apresentação de Roxane Ré, e demais edições às 14h, 15h, 16h40 e às 18h. Em Ribeirão Preto, a edição regional vai ao ar das 12 às 12h30, com apresentação de Mel Vieira e Ferraz Junior. Você pode sintonizar a Rádio USP em São Paulo FM 93.7, em Ribeirão Preto FM 107.9, pela internet em www.jornal.usp.br ou pelo aplicativo do Jornal da USP no celular. 


Política de uso 
A reprodução de matérias e fotografias é livre mediante a citação do Jornal da USP e do autor. No caso dos arquivos de áudio, deverão constar dos créditos a Rádio USP e, em sendo explicitados, os autores. Para uso de arquivos de vídeo, esses créditos deverão mencionar a TV USP e, caso estejam explicitados, os autores. Fotos devem ser creditadas como USP Imagens e o nome do fotógrafo.