“Tudo é o contrário do que parece”, essa é a frase utilizada pela colunista para definir o assunto de sua coluna de hoje (4). O primeiro-ministro da Etiópia, Abiy Ahmed, vencedor do Prêmio Nobel da Paz de 2019, está promovendo uma guerra civil em seu país, que pode desestabilizar não só sua nação como toda a região.
Abiy Ahmed, que se tornou símbolo da paz no ano passado por dar fim a um duradouro conflito contra a Eritreia, agora declara guerra à etnia Tigray, que — relembra Marília Fiorillo — “ironicamente está no norte da Etiópia, próximo à Eritreia”. Segundo a ONU (Organização das Nações Unidas) e a Cruz Vermelha, a ofensiva armada já deixou milhões de pessoas sem comida e remédios, provocou a fuga de centenas de milhares de tigrays para o vizinho Sudão e assassinou inúmeros civis.
A situação fica ainda mais crítica quando se considera que o líder etíope interrompeu toda a comunicação do país, via internet, rádio ou televisão e, além disso, vem impedindo que jornalistas estrangeiros entrem no país. A liderança Tigray, a Frente de Liberação do Povo do Tigray (TPLF), dominava a coalizão política até 2018, quando a armada de Abiy Ahmed, da etnia Oromo, chegou ao poder e dissolveu o sistema federalista. Em setembro, a TPLF desafiou o governo e fez eleições regionais, considerada ilegais, e assim iniciou outro conflito.
A especialista relembra que o primeiro-ministro não é o primeiro vencedor do Nobel da Paz “especializado em limpezas étnicas”. Sua predecessora seria a birmanesa Aung San Suu Kyi, que recebeu o prêmio em 2009 e o teve retirado em 2018, visto que autorizou na Birmânia a matança de Rohingyas, que tiveram suas vilas queimadas e sua população assassinada por militares budistas.
“A limpeza que precisamos está no vocabulário, é eliminar a expressão novo normal e chamar as coisas pelo nome, esses episódios são aberrações! Chega de banalizar os crimes contra a humanidade, colocando-os nas contas de novidades contemporâneas”, completa Marília Fiorillo.
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Conflito e Diálogo
A coluna Conflito e Diálogo, com a professora Marília Fiorillo, vai ao ar quinzenalmente sexta-feira às 8h, na Rádio USP (São Paulo 93,7; Ribeirão Preto 107,9 ) e também no Youtube, com produção da Rádio USP, Jornal da USP e TV USP.
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