“A Alemanha é um país marcado por histórias traumáticas, já que foi aqui que se consolidaram as políticas de extermínio nazistas”, conta a artista e professora Giselle Beiguelman em sua coluna Ouvir Imagens (clique e ouça o player acima). “A cultura da memória, portanto, aqui é muito particular e acaba marcando profundamente o pensamento sobre as estéticas contemporâneas da contramonumentalidade.”
A professora cita um exemplo que toca e impressiona a todos: “Penso que o mais esclarecedor é uma obra que se chama Stolpersteine que, literalmente, significa pedras de tropeçar. Contrariando a lógica dos grandes marcos monumentais, as Stolpersteine são obras minúsculas, horizontais, e também difusas. Não criam um marco específico em um lugar. São paralelepípedos pequenos de metal, de bronze, que são incrustados na frente de casas onde famílias judias viviam e cada uma tem o nome das pessoas, e do nascimento que lá viveram até serem arrancadas para morrer em um campo de extermínio nazista”.
O projeto é do artista Gunter Demnig, 74 anos, que nasceu em Berlim. “É um trabalho que Demnig faz desde 1996, removendo paralelepípedos da rua e inserindo essas placas numa altura ligeiramente mais alta, forçando o tropeço e a atenção dos passantes para as histórias que ficaram nas ruas das cidades de toda a Alemanha”, explica. “Nesse tropeçar, se toma consciência de que algo muito trágico ocorreu. E que, apesar dessas mortes não terem sido reverenciadas à época da Segunda Guerra Mundial, nem por isso deixaram de ter histórias de vida que merecem e precisam ser rememoradas.”
Ouvir Imagens
A coluna Ouvir Imagens, com a professora Gisele Beiguelman, vai ao ar quinzenalmente, segunda-feira às 8h, na Rádio USP (São Paulo 93,7; Ribeirão Preto 107,9) e também no Youtube, com produção da Rádio USP, Jornal da USP e TV USP.
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