Rodoanel incompleto não é o único desafio para a mobilidade urbana em São Paulo

Claudio Barbieri da Cunha explica que trecho Norte seria essencial para diminuir o tráfego de caminhões na Marginal Tietê, mas ainda carece de outras medidas complementares

 Publicado: 11/12/2024 às 11:30
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Imagem aérea do trecho norte do Rodoanel, ainda incompleto
O trecho Norte do Rodoanel, atualmente incompleto, exemplifica os desafios enfrentados pelo projeto -Foto: sp.gov.br
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O Rodoanel Governador Mário Covas, prometido como solução para aliviar o trânsito de São Paulo, é alvo de uma complexa discussão sobre sua eficácia no longo prazo. Para o professor Claudio Barbieri da Cunha, da Escola Politécnica (Poli) da USP, o problema não está na capacidade de a via atender à demanda atual, mas em um fenômeno observado globalmente: grandes obras viárias tendem a estimular o crescimento urbano em seu entorno, o que, no médio e no longo prazo, anula os ganhos de fluidez no trânsito. “Nenhuma via, no longo prazo, vai atender à demanda”, reitera.

Um ponto crucial levantado pelo especialista é a falta de mecanismos de controle e tarifação associados a obras como o Rodoanel. “Isso acaba estimulando muito a demanda, porque sinaliza para a sociedade que ela pode se deslocar mais longe a custo muito baixo, que não significa só o que se gasta, mas também o tempo. Essas obras precisam ser acompanhadas de outras medidas que normalmente não são muito populares, mas que são adotadas em outras grandes capitais”, comenta.

Homem de meia idade, branco, vestindo camisa amarela
Claudio Barbieri da Cunha

Ele cita o exemplo de Londres, que implementou a congestion charge — uma taxa para reduzir o fluxo de veículos nas áreas centrais. Segundo Barbieri da Cunha, o Brasil ainda precisa avançar nesse tipo de discussão, que frequentemente é desviada para temas como carga tributária e falta de transporte público.

Rodoanel incompleto

O trecho Norte do Rodoanel, atualmente incompleto, exemplifica os desafios enfrentados pelo projeto. Essa parte, crucial para tirar caminhões da Marginal Tietê — que permanece congestionada, mesmo com o acréscimo de novas faixas nos últimos anos —, foi adiada devido a preocupações ambientais, já que atravessa áreas sensíveis como mananciais e o sistema Cantareira. Cunha afirma que a sobrecarga da Marginal Tietê ressalta a importância do trecho Norte, mas os atrasos na conclusão dessa etapa continuam prejudicando a efetividade do projeto como um todo.

“A construção desse trecho acabou ficando por último por causa de muitas discussões. Se ele é muito distante de São Paulo, depois da Serra da Cantareira, desvia muito e vai ser pouco atrativo. Se é mais próximo da metrópole, antes da Serra da Cantareira, fica muito caro porque precisaria desapropriar muita área urbana”, complementa. O professor explica que uma alternativa tomada foi a decisão de incluir túneis nesse trecho, que inclusive impede ou dificulta ocupações desordenadas no entorno do Rodoanel, já que ele pode se tornar um atrativo para a expansão urbana. Apesar disso, ele reconhece que mesmo obras viárias planejadas, com restrições, tendem a atrair ocupações espontâneas, muitas vezes irregulares e proibidas.

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Barbieri da Cunha afirma que a construção do trecho Norte talvez fosse a medida prioritária do Rodoanel — muito em relação à retirada dos caminhões da Marginal Tietê —, mas alerta sobre a possibilidade de a obra incentivar moradores a se deslocarem para regiões mais distantes em busca de terrenos baratos. “Como vamos fazer para evitar que esse Rodoanel não acabe sendo uma via rápida? Esse é um desafio que ainda não encontramos”, reflete. A obra, embora essencial, só será verdadeiramente eficiente se acompanhada de medidas complementares que enfrentem a complexidade da mobilidade em uma metrópole como São Paulo.

*Sob supervisão de Paulo Capuzzo e Cinderela Caldeira


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