Por que pouco lembramos de nossas memórias na infância?

Segundo Sonia Brucki, o cérebro se mantém em formação até por volta dos 20 anos, o que faz com que, principalmente em crianças mais jovens, a fixação das memórias não ocorra de forma tão contundente

 Publicado: 24/06/2024
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O cérebro se mantém em formação, com uma completa mielinização, até por volta dos 20 anos – Foto: rawpixel/Freepik
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O fascínio do cérebro humano é algo que instiga a humanidade a fazer diversos estudos e pesquisas a fim de entender a sua complexidade. Uma dessas curiosidades está relacionada à memória e ao fato de as pessoas em geral não conseguirem recordar de memórias geradas no início da primeira infância — pelo menos, até os três anos e meio de vida —, processo chamado de amnésia infantil.

De acordo com Sonia Brucki, coordenadora do Grupo de Neurologia Cognitiva e do Comportamento do Hospital das Clínicas (HC) da Faculdade de Medicina (FM) da Universidade de São Paulo, esse esquecimento de memórias está relacionado ao desenvolvimento e formação do cérebro, que afeta a manutenção da memória. Apesar disso, ela explica: “Não quer dizer que a criança, o bebê, não esteja formando memórias, mas nós temos o amadurecimento cerebral, a mielinização, desenvolvimento de sinapses, neurônios que estão em formação, em crescimento, em multiplicação. Então, você não tem todo o processo necessário para a memorização pronto para que ela ocorra da forma que nós conhecemos”.

Características da memorização

Conforme a especialista, o cérebro se mantém em formação, com uma completa mielinização, até por volta dos 20 anos. Isso faz com que, principalmente em crianças mais jovens, a formação das memórias não ocorra de forma tão contundente, e traços de memória que não foram tão importantes se percam, mas o conteúdo principal é mantido.

Sonia Maria Dozzi Brucki – Foto: Fapesp/Reprodução

“As memórias que nós lembramos com mais frequência ficam mais fortalecidas. Informações que foram irrelevantes na sua vida, se não tiver nenhuma importância, vão ser esquecidas. Relembrá-las várias vezes vai ativar o circuito em que elas foram incorporadas no cérebro e cada vez que você relembra vai ter a produção de novas sinapses, novas proteínas, e assim por diante”, afirma. Além disso, Sonia comenta que também existem as memórias de trabalho, geralmente fáceis de serem esquecidas por se tratarem de informações que serão usadas momentaneamente, enfraquecendo o seu traço de memória.

Ela ainda explica que o processo da memória também está relacionado à capacidade de linguagem, evento que ocorre apenas cerca de um ano e meio após o nascimento. Contudo, a memorização também depende de outros fatores: “Formação de sinapses, que é a comunicação entre os neurônios, ativação de proteínas, alteração de liberação de neurotransmissores, alterações estruturais das sinapses, dos neurônios, da densidade dessas sinapses, e aí se formam as memórias. Então é um processo complexo”.

Após receber a informação, seja de forma visual, verbal, olfativa e auditiva, Sonia acrescenta que essa memória vai ser captada e processada no nosso hipocampo, principalmente. “Ao longo das horas seguintes, e anos, ela é estocada no nosso córtex em regiões, então as memórias mais auditivas estão mais próximas da região auditiva no nosso cérebro temporal. E assim elas vão se espalhando pelo cérebro e têm as conexões dessas várias áreas para que você relembre, consiga puxar essa memória de volta para o estágio consciente”, finaliza.

*Sob supervisão de Paulo Capuzzo e Cinderela Caldeira


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