Você já ouviu falar no termo tecno-otimismo? Segundo o professor Luli Radfahrer, da Escola de Comunicações e Artes, é a crença de que a tecnologia pode resolver tudo, o que inclui os grandes desafios globais, como mudança climática, pobreza, assistência médica e por aí vai. “O mundo é muito diferente do que ele era há 20 ou 30 anos, então o mundo do futuro vai ser bacana. A gente está vendo, por exemplo, a inteligência artificial em diagnóstico médico; antes você tirava uma radiografia, essa radiografia às vezes saia meio tremida, tinha que tirar de novo. Hoje o técnico já vê a radiografia antes de ela sair, ela não gasta mais chapa e, muitas vezes o computador já analisa antes mesmo de o médico ver. Quando você pega um exame de sangue, você já tem o diagnóstico quase ali no papel do exame de sangue”, diz.
Se o tecno-otimismo existe, o mesmo acontece com sua contraparte, ou seja, o tecno-pessimismo. “A coisa mais doida é você pensar que a tecnologia é tão bacana, mas algumas coisas não vão ser resolvidas com mais tecnologia. A desigualdade não diminuiu com mais tecnologia, a gente tem mais tecnologia e a gente continua tendo guerra, tem mais tecnologia e a gente tem um monte de problemas.” Como exemplo disso estão aí o aumento da vigilância, crises gigantescas de depressão ou ansiedade ou a preocupação com o desemprego causado pela tecnologia, sem contar os impactos ambientais oriundos do lixo eletrônico.
Resumo da ópera: o melhor mesmo é ficar no meio-termo, a meio caminho entre o tecno-otimismo e o tecno-pessimismo. “Eu preciso ter uma abordagem equilibrada, a tecnologia não é nenhuma panaceia, mas ela também não é vilã. A ideia de eficiência é uma ideia da Revolução Industrial, ela não resolve todos os problemas […] a gente precisa entender o uso do martelo para não martelar o próprio dedo. Regulamentação, inovação com inclusão social, um foco na tecnologia centrada no ser humano e não no lucro direto da máquina, quer dizer, a gente hoje está criando uma coisa tão doida que você escreve para a máquina, você faz vídeos para que a máquina leia e daí a máquina devolve o vídeo para você. Mas antigamente eu fazia o vídeo para outro ser humano ver. Então, o que está acontecendo? A gente pegou uma coisa muito nova e, do mesmo jeito que o adolescente quando pega uma moto ou um sujeito quando pega um drone ou uma câmera, a gente precisa começar a entrar num equilíbrio e usar direito a tecnologia. Mal ela só não vai fazer se a gente souber usar”, arremata Radfahrer.
Datacracia
A coluna Datacracia, com o professor Luli Radfahrer, vai ao ar quinzenalmente, sexta-feira às 8h, na Rádio USP (São Paulo 93,7 ; Ribeirão Preto 107,9 ) e também no Youtube, com produção da Rádio USP Jornal da USP e TV USP.
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