O PT está preparado para reconstruir o País?

Para José Álvaro Moisés, o partido tem alguns desafios a enfrentar, o principal deles na área econômica, pois o êxito do governo Lula está muito ligado ao sucesso na condução dos rumos da economia

 08/03/2023 - Publicado há 2 anos

Logo da Rádio USP

Decorridos 43 anos de sua fundação, o PT iniciou o seu terceiro mandato na Presidência da República. Para o professor e cientista político José Álvaro Moisés, isso mostra enorme resiliência do partido diante das duras críticas que sofreu por causa do Mensalão e do Petrolão de anos atrás. O que se pergunta, porém, é se o PT está preparado para reconstruir o País depois dos quatro anos destrutivos de Bolsonaro e da tentativa de golpe de Estado de 8 de janeiro. Moisés lembra que o PT é um dos únicos partidos de massa do Brasil; diferentemente de boa parte dos demais partidos, nasceu de baixo para cima, invertendo uma velha tendência histórica da política brasileira. Desde seu nascimento, definiu o enfrentamento das desigualdades sociais como o seu grande objetivo.

“Mas algumas vezes, na prática, o PT se afastou disso, o partido sofreu derrotas importantes, teve os seus principais líderes presos por causa da questão da corrupção, mas soube se recuperar, mantendo a imagem de que é o único grande ator que tem um compromisso com a questão social”, observa o colunista, que enfatiza que as ações do partido, como a ideia de combater a corrupção das elites tradicionais, lhe granjearam o apoio além dos setores populares da classe média, o que acabou se perdendo em grande parte, principalmente por conta das experiências do Mensalão e do Petrolão, fatores que alimentaram fortemente o antipetismo e que tiveram um papel crucial nas eleições de 2018.

No entanto, o partido se recuperou em face da revogação de decisões judiciais anticonstitucionais que atingiram o ex-presidente Lula e teve um papel de suma importância diante das ameaças da democracia representadas pelo governo do ex-presidente Jair Bolsonaro. “O PT assumiu parte da liderança na luta contra o golpismo e o autoritarismo dos últimos quatro anos. Isso o reaproximou dos setores da classe média que defendem a democracia.” Moisés acredita que essa reaproximação só vai durar enquanto estiver vinculada ao êxito econômico do governo petista, o primeiro grande desafio do partido.

O professor lembra ainda que o terceiro governo de Lula não nasceu como um governo do PT, mas como um governo de uma frente democrática mais ampla que as forças da esquerda do País. “Por isso, o segundo grande desafio do governo Lula é manter essa frente, não voltar a práticas hegemonistas do passado e aprofundar o compromisso do partido com a democracia. Paradoxalmente, a tentativa de golpe de Estado de 8 de janeiro criou condições favoráveis para isso, o presidente ganhou o apoio de muitos setores e das principais instituições democráticas do País. Tem uma base importante para avançar como um governo de frente democrática, mas ainda precisa demonstrar que quer isso com toda a clareza.”


Qualidade da Democracia
A coluna A Qualidade da Democracia, com o professor José Álvaro Moisés, vai ao ar quinzenalmente,  quarta-feira às 8h30, na Rádio USP (São Paulo 93,7; Ribeirão Preto 107,9 ) e também no Youtube, com produção da Rádio USP,  Jornal da USP e TV USP.

.


Política de uso 
A reprodução de matérias e fotografias é livre mediante a citação do Jornal da USP e do autor. No caso dos arquivos de áudio, deverão constar dos créditos a Rádio USP e, em sendo explicitados, os autores. Para uso de arquivos de vídeo, esses créditos deverão mencionar a TV USP e, caso estejam explicitados, os autores. Fotos devem ser creditadas como USP Imagens e o nome do fotógrafo.