O Brasil revela um preocupante quadro de trombose, com 165 internações diárias, de acordo com um levantamento realizado pela Sociedade Brasileira de Angiologia e de Cirurgia Vascular a partir de dados do Ministério da Saúde. O maior cuidado com a saúde vascular, nesse cenário, é apontado pela entidade como algo de extrema importância.
Walter Campos, cirurgião vascular do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP (HC FMUSP), explica que há dois tipos de trombose: venosa e arterial. A forma de trombose tratada pelo levantamento é a trombose venosa profunda, em que há a formação de coágulos no sistema venoso profundo. “Com os mesmos fatores de risco, o maior número de casos de trombose muitas vezes está relacionado a diagnósticos mais frequentes”, considera.
Atendimento dos casos
O especialista afirma que os principais sintomas clínicos são o inchaço e dor na palpação, devido ao entupimento da veia que prejudica o retorno de sangue. Outra preocupação em quadros mais agudos da trombose venosa profunda é a embolia pulmonar, em que o coágulo atinge a artéria pulmonar e causa sintomas torácicos.
“Falta de ar, até a arritmia e óbito, que é o quadro mais grave de embolia pulmonar”, destaca Campos. Apesar de sintomas característicos, o cirurgião também considera os pacientes assintomáticos cujos coágulos não chegam a interromper completamente o fluxo sanguíneo e, consequentemente, não produzem reações.
Fatores de risco
Pacientes em longos períodos de imobilização pós-cirurgia estão entre os grupos de risco de desenvolver a doença, na medida em que a falta de movimentação pode favorecer a formação de coágulos no sistema venoso profundo. “Outra causa que é um fator de risco da trombose, quando a trombogenicidade aumenta, trata-se do uso de hormônios, principalmente associado ao cigarro”, pontua o profissional.
Walter Campos também explica como a hereditariedade se relaciona com os perigos de desenvolver trombose, visto que, por vezes, há modificações genéticas nos processos específicos de coagulação. “Em uma condição que se chama trombofilia, o paciente tem uma cascata de coagulação, fatores que vão se ativando para formar o coágulo, e esses paciente tem alterações de alguns fatores de coagulação que aumentam a chance de formar o quadro de trombofilia”, avalia.
Relação com a covid-19
Durante o período agudo da pandemia do coronavírus, muito se discutiu sobre a relação entre a doença e a trombose. O especialista comenta que alguns pacientes com covid-19 tiveram seus sistemas venosos lesionados, principalmente na camada mais interna, denominada endotélio.
Sem essa proteção, o sangue entra em contato com o colágeno subendotelial que é trombogênico, ou seja, aumenta as chances de se formar um coágulo. Dessa forma, a partir de estudos clínicos de casos de covid-19, descobriu-se que a piora de quadros da doença relaciona-se à trombose e lesões internas nos vasos pulmonares, de acordo com Campos.
Causas do aumento
O especialista avalia que, sem um cenário de urgência, como o a pandemia de coronavírus, há a possibilidade de um maior número de diagnósticos de trombose, além de uma melhor formação dos profissionais no pronto-socorro para atender e investigar os casos com exames específicos. Assim, uma vez diagnosticado o problema, Campos afirma a necessidade de um acompanhamento constante para evitar um agravamento do quadro.
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