O Produodopa é um tratamento para a síndrome de Parkinson que esteve em estudo nos últimos anos e agora está começando a entrar no mercado. Os seus primeiros indícios são muito positivos, como no vídeo de Damian Gath, um britânico que antes mal conseguia colocar açúcar no seu café, mas que agora apresenta pouquíssimos sintomas da síndrome. Roberto Parise, professor da Faculdade de Ciências Farmacêuticas da USP, diz que, “comparativamente ao uso dos medicamentos tradicionais, existe, sim, uma chance de ser um tratamento superior”.
Ele coloca que ainda é preciso fazer mais estudos e dar mais tempo para que o novo tratamento se prove em definitivo, mas não nega que o Produodopa tem um “grande potencial”. Vale lembrar, no entanto, que é um tratamento do tipo paliativo e que não existe ainda uma cura para o Parkinson.
Quais são as novidades?
A grande diferença que esse medicamento trouxe é a forma com a qual é ingerido: através de um tubo subcutâneo que libera as substâncias aos poucos ao longo do dia. Enquanto os tratamentos atuais funcionam à base de medicamentos sólidos que são ingeridos via oral, o Produodopa é uma pequena bomba que oferece, segundo Parise explica, “uma liberação estável e consistente dos fármacos ao longo do dia e da noite, evitando as flutuações de concentração dos níveis de dopamina no cérebro, o que é geralmente comum para os tratamentos orais”.
Apesar de parecer banal, é uma mudança grande, pois os pacientes de Parkinson que fazem o uso oral de medicamentos sofrem das oscilações on/off (do inglês, ativo/inativo). Ou seja, há uma oscilação dos sintomas constantemente e muitos precisam fazer mais de 20 usos de medicamentos ao dia para evitar essa montanha-russa. Já o Produodopa, por distribuir as substâncias em níveis homogêneos, “consegue manter basicamente constante os níveis de dopamina, que é o mediador envolvido no Parkinson, reduzindo as oscilações on/off que muitos pacientes acabam experimentando com os tratamentos tradicionais e com as repetidas doses administradas durante o dia”.
Como exemplo, John Whipps conta à BBC sua experiência: “Eu acordava no meio da noite com tremores internos e tomava mais medicamentos, mas a bomba [subcutânea do Produodopa] continua injetando através da noite”. Como durante o sono não é possível fazer uso constante dos medicamentos orais, os sintomas ressurgem; já com o novo método, isso não é mais problema.
Como ele age no corpo
A química, na verdade, é bem semelhante aos medicamentos tradicionais, sendo apenas adaptada para ser mais solúvel. Isso se dá ao fosfatar os pró-fármacos convencionais do uso oral, a levodopa e a carbidopa, tornando-os foslevodopa e foscarbidopa. Essas substâncias que compõem o Produodopa, segundo Parise, “são utilizadas para melhorar, principalmente, a solubilidade desses fármacos, permitindo a administração contínua através da infusão subcutânea”.
“Uma vez dentro do organismo, as substâncias foslevodopa e foscarbidopa são convertidas nas formas ativas, que são a levodopa e a carbidopa, e, obviamente, atuam da mesma maneira para aumentar os níveis de dopamina no nível cerebral e aliviar os sintomas”, explica o professor. Nesse sentido, a inovação do Produodopa não está tanto em agir de uma maneira diferente no cérebro, pois usa mecanismos químicos semelhantes para a regulação da dopamina. A novidade está, sim, em tornar o medicamento convencionalmente sólido em solúvel, permitindo que ele seja injetado diretamente no sangue.
A importância da dopamina está em sua função de conduzir correntes nervosas ao corpo, atuando como um mensageiro químico. O problema é que a síndrome de Parkinson está associada à degeneração de uma área do cérebro denominada “substância negra”, que é justamente onde a dopamina é produzida. Assim, a comunicação entre o cérebro e os músculos fica prejudicada, ocasionando os sintomas de movimentos involuntários súbitos, tremores e dificuldade de coordenação. Para isso, faz-se a reposição de dopamina artificialmente.
Pontos de atenção
O Produodopa oferece grandes benefícios e é promissor, mas ainda existem algumas desvantagens pontuais. O professor comenta, por exemplo, que uma inserção subcutânea é mais invasiva do que o uso oral dos medicamentos, o que pode ocasionar “dor, inchaço e até, dependendo da situação, acontecer algum tipo de infecção”. Além disso, por requisitar uma administração motora mais delicada e precisa, a manutenção de agulhas e pequenos aparelhos pode ser difícil para portadores de Parkinson que estejam com os sintomas aparentes.
Assim, Parise não coloca o Produodopa como uma substituição definitiva do tratamento convencional. Por hora ele é principalmente indicado para pacientes com a síndrome em estágio mais avançado, além de que o custo pode ser outro impeditivo: se o tratamento oral de Parkinson já é caro, o Produodopa é ainda mais, podendo chegar a US$ 60 mil. Ele ainda não é produzido no Brasil e está sendo implementado em apenas alguns países, como Estados Unidos e Reino Unido.
*Sob supervisão de Paulo Capuzzo e Cinderela Caldeira
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