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A transição energética é um dos temas centrais na atualidade, e entender como diferentes países gerenciam suas redes de energia pode fornecer informações valiosas para um futuro mais sustentável. Dessa forma, alguns países podem atuar conjuntamente na troca de experiências e informações para aprimorar seus sistemas energéticos. Segundo o professor Fernando de Lima Caneppele, da Faculdade de Zootecnia e Engenharia de Alimentos (FZEA) da USP, o Brasil e o Chile, por exemplo, possuem matrizes energéticas distintas, mas compartilham desafios e oportunidades na busca por uma energia mais eficiente e limpa.
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Geografia e clima
No Brasil, a matriz energética é predominantemente composta por fontes renováveis, com a hidrelétrica representando cerca de 60% da geração elétrica. Apesar de ser uma fonte limpa, o docente conta que essa dependência expõe o País a riscos como secas prolongadas, enchentes e demais impactos das mudanças climáticas. Para garantir a distribuição de energia, o Brasil conta com uma extensa rede de transmissão que conecta todas as cinco regiões de seu território.
Já o Chile apresenta uma matriz energética mais diversificada, com destaque para as energias solar e eólica. De acordo com o especialista, o país tem investido significativamente nessas fontes, aproveitando suas condições climáticas favoráveis, especialmente no deserto de Atacama. No entanto, sua rede de transmissão enfrenta desafios únicos devido ao formato geográfico do país, que se estende de norte a sul em uma faixa estreita.
Diversificação
Segundo o docente, o Brasil tem grande potencial para expandir sua geração de energia renovável, especialmente em fontes como solar, eólica e biomassa. Para ele, a diversificação da matriz pode reduzir a dependência das hidrelétricas e aumentar a resiliência do sistema energético. Além disso, a modernização da rede de transmissão e o desenvolvimento de tecnologias de armazenamento são essenciais para melhorar a eficiência de sistemas complexos.
No Chile, conforme explica Caneppele, as principais oportunidades estão na expansão das energias solar e eólica, além da descentralização da geração e integração de tecnologias inteligentes na rede elétrica. A transmissão de energia ao longo dos mais de 4.300 km do país representa um desafio logístico e técnico, mas também uma chance de implementar soluções inovadoras para o gerenciamento da rede.
“Uma possibilidade promissora para o Chile é o desenvolvimento da produção de hidrogênio verde, utilizando energia renovável para eletrólise da água. Essa tecnologia poderia tornar o país um exportador de energia limpa, ampliando sua relevância no cenário internacional de energia sustentável”, destaca.
Desafios
Apesar de características distintas, Caneppele aponta que os desafios nos dois países são igualmente complexos. No Brasil, a manutenção e expansão da infraestrutura de transmissão são cruciais para garantir uma distribuição eficiente, especialmente em regiões isoladas. A integração de fontes intermitentes, como solar e eólica, apesar de extremamente benéfica, exige altos investimentos em armazenamento e modernização da rede.
No Chile, a crescente presença de fontes renováveis intermitentes apresenta desafios técnicos e econômicos, além da necessidade de expansão da infraestrutura de transmissão para novas regiões de geração. O docente explica que a transmissão de energia ao longo do país requer soluções avançadas para garantir eficiência e confiabilidade a médio e longo prazo.
Trabalho conjunto
Segundo Fernando de Lima Caneppele, a transição energética é um processo complexo e multifacetado, e tanto o Brasil quanto o Chile podem se beneficiar com a troca de experiências e colaboração em projetos de energia limpa. Para ele, a diversidade de recursos naturais e os desafios geográficos oferecem uma oportunidade para exploração de soluções inovadoras e adaptáveis.
“Ao promover políticas que incentivem investimentos em tecnologias limpas e pesquisa em novas soluções energéticas, os dois países podem liderar a transição para um futuro energético mais sustentável. A cooperação bilateral e o compartilhamento de estratégias podem acelerar esse processo e garantir um fornecimento de energia seguro e eficiente para as futuras gerações”, analisa Caneppele.
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