A microbiota intestinal, composta de bilhões de microrganismos, tem ganhado destaque no cenário científico por seu impacto em várias áreas da saúde, como a digestão, o metabolismo e até o sistema nervoso. Para entender mais sobre o papel desses microrganismos e como eles influenciam nosso corpo, conversamos com a professora Lara Natacci, do Departamento de Nutrição da Faculdade de Saúde Pública da USP e diretora clínica da DietNet. Ela explica como a microbiota intestinal se forma, como ela afeta nosso bem-estar e qual a relação entre ela e questões como obesidade e saúde mental.
A microbiota se trata de um conjunto de microrganismos que habitam o intestino humano e que desempenham papéis essenciais para o bom funcionamento do corpo. Esses microrganismos incluem bactérias, fungos e vírus, que auxiliam na digestão e absorção de nutrientes, funções imunológicas e até emocionais. “Seres humanos apresentam microbiota em vários locais do corpo, como, por exemplo, a nossa pele, a nossa boca, o nosso nariz, o trato respiratório superior e até o trato geniturinário. A microbiota intestinal é a mais estudada entre elas porque ela possui uma enorme quantidade de microrganismos e tem várias funções vitais, como a produção de vitaminas, regulação do sistema imunológico e até comunicação com o cérebro”, explica.
Como se forma a microbiota?
A formação da microbiota intestinal começa desde o nascimento, com a transferência de microrganismos da mãe para o bebê, especialmente durante o parto normal. A partir daí, a microbiota vai se moldando ao longo da vida, sendo influenciada pela genética, pelo ambiente e, principalmente, pelos hábitos de vida, como a alimentação. “A microbiota é diferente conforme a pessoa, de acordo com a sua ascendência genética, conforme o seu ambiente também, então a gente acaba formando a nossa microbiota baseada nesses fatores. Ela varia conforme fatores genéticos e ambientais, como os alimentos que consumimos”, comenta.
A alimentação tem um papel fundamental na composição e desenvolvimento da microbiota. Dietas ricas em frutas, legumes, verduras, cereais integrais e alimentos probióticos favorecem o crescimento de microrganismos benéficos, enquanto uma dieta desequilibrada pode promover o crescimento de bactérias prejudiciais. “Dependendo do que a gente consome podemos ter uma microbiota mais saudável. Nossa alimentação é o que provê o substrato para o desenvolvimento desses microrganismos, além de permitir que, uma vez desenvolvidos, usem esses alimentos para produzir algumas substâncias e metabólitos que vão ter a ação benéfica no nosso corpo”, detalha.
A microbiota e o ganho de peso
Uma das áreas de estudo sobre a microbiota é sua relação com o ganho de peso e a obesidade; os pesquisadores ainda não têm conclusões definitivas. No entanto, estudos recentes indicam que a composição da microbiota intestinal pode variar entre pessoas com peso saudável e obesas. “Estudos mostram que pessoas obesas têm uma microbiota diferente, com predominância de microrganismos que favorecem a absorção de energia dos alimentos”, afirma Lara Natacci.
Esses microrganismos alterados podem produzir substâncias que afetam o metabolismo e a saciedade. “Alguns dos substratos que essa microbiota produz são chamados de ácidos graxos de cadeia curta. Eles têm várias funções no nosso organismo e são produzidos pela fermentação das fibras alimentares. Esses ácidos graxos de cadeia curta têm um papel muito importante na regulação da nossa saciedade. Um deles em específico é responsável pela estimulação da liberação de hormônios intestinais que dão aquela sensação de saciedade. Por isso, é importante a ingestão desses alimentos ricos em fibras, frutas, legumes, verduras, cereais integrais, leguminosas e sementes oleaginosas.”
A obesidade e a microbiota podem influenciar-se mutuamente. “É uma relação bidirecional. A obesidade pode alterar a composição da microbiota, assim como uma microbiota desequilibrada pode contribuir para o ganho de peso”, afirma. “É importante lembrar que a microbiota é apenas um dos fatores que influenciam o ganho de peso. Hábitos como o consumo de alimentos saudáveis, a prática regular de exercícios e o gerenciamento do estresse têm um papel crucial na regulação do peso”, finaliza.
*Sob supervisão de Paulo Capuzzo e Cinderela Caldeira
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