Livro de Canclini analisa o comportamento humano na pandemia de covid-19

O professor Martin Grossmann avalia “Emergências Culturais”, lembrando que a pandemia criou a necessidade de “experimentar outros modos de comunicar e tornar presentes as artes na vida social”

 11/07/2023 - Publicado há 1 ano

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Na coluna desta semana, o professor Martin Grossmann comenta sobre o livro Emergências Culturais. O livro é resultante da titularidade de Néstor García Canclini e sua equipe de pesquisa, formada pelos pós-doutorandos Juan Ignacio Brizuela (argentino) e Sharine Machado Melo (brasileira) como também pela mestranda (mexicana) Mariana Martínez Matadamas.  A obra é resultado da pesquisa que Canclini propôs, capitaneou e desenvolveu com essa equipe entre setembro de 2020 e março de 2022 como titular da Cátedra Olavo Setubal de Arte, Cultura e Ciência da USP, Cátedra esta estabelecida em 2015 em parceria entre o IEA-USP e o Itaú Cultural. Canclini é o primeiro estrangeiro e o 6º a ocupar este posto.

Antes de falarmos sobre o livro, cabe ressaltar que Néstor García Canclini é um filósofo-antropólogo no aqui-agora, no jetztseit,  como teorizado por Walter Benjamin em suas teses sobre filosofia da história publicadas em 1942. O “agora” benjaminiano é o tempo experienciado criticamente na atualidade, é o tempo vivido, e não aquele idealizado e tampouco normatizado.

Canclini opera crítica e corajosamente no contemporâneo de forma singular e original nos proporcionando leituras e entendimentos inusitados da cultura contemporânea, que enriquecem e referenciam a nossa existência.

Nesse sentido, assim como tivemos cientistas, engenheiros, médicos, atuando na linha de frente, no aqui-agora durante a emergência causada pela pandemia, temos também intelectuais comprometidos a aclarar, entender o comportamento e conhecimento humanos em tempos extraordinários, ao se debruçarem na complexidade de uma situação de escala global, assustadora e ainda, de certa forma, indescritível, que foi a pandemia da covid-19.

Para Canclini e sua equipe, a pandemia nos colocou em uma situação de laboratório sociocultural ao interromper a vida normal não só de indivíduos, coletivos, como também das instituições presenciais. Fomos obrigados, entre outros, a repensar os dispositivos e as plataformas digitais como cenários onde se institui o social.

A pandemia, eles entendem, incitou uma reimaginação das instituições culturais impelindo-nos a superar o lugar-comum dos mais representativos de equipamentos da institucionalidade cultural como museus, cinemas, festivais e outras atividades presenciais.

A pandemia criou a necessidade de “experimentar outros modos de comunicar e tornar presentes as artes na vida social”.

O sucesso desta pesquisa, que ocorre em tempo real, está certamente ancorada na extensa e profícua trajetória do filósofo-antropólogo. Isto fica evidente quando nos deparamos com as perguntas que foram lançadas por esse coletivo de pesquisa. São perguntas certeiras que inspiram respostas elaboradas e muito reveladoras. Criam também uma dinâmica muito instigante que proporciona aos leitores um vivo contato com essa pesquisa comparada, que relata criticamente o que ocorreu durante a pandemia nos territórios da cultura principalmente nos dois países envolvidos, o Brasil e o México. Traz também, em seu último capítulo, uma reflexão coletiva acerca dos processos da própria pesquisa nessas condições muito peculiares. Um desenlace metalinguístico fascinante.

O livro já se encontra nas livrarias.

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Na Cultura, o Centro está em Toda Parte
A coluna Na Cultura o Centro está em Toda Parte, com o professor Martin Grossmann, vai ao ar quinzenalmente, terça-feira às 9h, na Rádio USP (São Paulo 93,7; Ribeirão Preto 107,9) e também no Youtube, com produção da Rádio USP,  Jornal da USP e TV USP.

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