Na coluna desta semana, o professor Martin Grossmann comenta sobre o livro Emergências Culturais. O livro é resultante da titularidade de Néstor García Canclini e sua equipe de pesquisa, formada pelos pós-doutorandos Juan Ignacio Brizuela (argentino) e Sharine Machado Melo (brasileira) como também pela mestranda (mexicana) Mariana Martínez Matadamas. A obra é resultado da pesquisa que Canclini propôs, capitaneou e desenvolveu com essa equipe entre setembro de 2020 e março de 2022 como titular da Cátedra Olavo Setubal de Arte, Cultura e Ciência da USP, Cátedra esta estabelecida em 2015 em parceria entre o IEA-USP e o Itaú Cultural. Canclini é o primeiro estrangeiro e o 6º a ocupar este posto.
Antes de falarmos sobre o livro, cabe ressaltar que Néstor García Canclini é um filósofo-antropólogo no aqui-agora, no jetztseit, como teorizado por Walter Benjamin em suas teses sobre filosofia da história publicadas em 1942. O “agora” benjaminiano é o tempo experienciado criticamente na atualidade, é o tempo vivido, e não aquele idealizado e tampouco normatizado.
Canclini opera crítica e corajosamente no contemporâneo de forma singular e original nos proporcionando leituras e entendimentos inusitados da cultura contemporânea, que enriquecem e referenciam a nossa existência.
Nesse sentido, assim como tivemos cientistas, engenheiros, médicos, atuando na linha de frente, no aqui-agora durante a emergência causada pela pandemia, temos também intelectuais comprometidos a aclarar, entender o comportamento e conhecimento humanos em tempos extraordinários, ao se debruçarem na complexidade de uma situação de escala global, assustadora e ainda, de certa forma, indescritível, que foi a pandemia da covid-19.
Para Canclini e sua equipe, a pandemia nos colocou em uma situação de laboratório sociocultural ao interromper a vida normal não só de indivíduos, coletivos, como também das instituições presenciais. Fomos obrigados, entre outros, a repensar os dispositivos e as plataformas digitais como cenários onde se institui o social.
A pandemia, eles entendem, incitou uma reimaginação das instituições culturais impelindo-nos a superar o lugar-comum dos mais representativos de equipamentos da institucionalidade cultural como museus, cinemas, festivais e outras atividades presenciais.
A pandemia criou a necessidade de “experimentar outros modos de comunicar e tornar presentes as artes na vida social”.
O sucesso desta pesquisa, que ocorre em tempo real, está certamente ancorada na extensa e profícua trajetória do filósofo-antropólogo. Isto fica evidente quando nos deparamos com as perguntas que foram lançadas por esse coletivo de pesquisa. São perguntas certeiras que inspiram respostas elaboradas e muito reveladoras. Criam também uma dinâmica muito instigante que proporciona aos leitores um vivo contato com essa pesquisa comparada, que relata criticamente o que ocorreu durante a pandemia nos territórios da cultura principalmente nos dois países envolvidos, o Brasil e o México. Traz também, em seu último capítulo, uma reflexão coletiva acerca dos processos da própria pesquisa nessas condições muito peculiares. Um desenlace metalinguístico fascinante.
O livro já se encontra nas livrarias.
Saiba mais em:
- http://www.iea.usp.br/
noticias/livro-instituicoes- politicas-culturais-brasil- mexico - https://www.edusp.com.br/
livros/emergencias-culturais/ - https://www.canclinibrasil.
iea.usp.br/ - https://jornal.usp.br/radio-
usp/astor-piazzola-e-nestor- canclini-se-aproximam-na- poetica-da-musica-e-da- ciencia/
Na Cultura, o Centro está em Toda Parte
A coluna Na Cultura o Centro está em Toda Parte, com o professor Martin Grossmann, vai ao ar quinzenalmente, terça-feira às 9h, na Rádio USP (São Paulo 93,7; Ribeirão Preto 107,9) e também no Youtube, com produção da Rádio USP, Jornal da USP e TV USP.
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