Nas últimas eleições presidenciais argentinas, o candidato Javier Milei venceu as eleições. Alguns fatores explicam a vitória de Milei: primeiro foi o insucesso do governo peronista, esse insucesso sucedeu a um outro fracasso, o de Maurício Macri na presidência da Argentina. A situação argentina hoje é extremamente complexa e delicada: a crise econômica é devastadora, a inflação é crescente e a desvalorização da moeda nacional é uma realidade. O segundo fator é o cansaço do povo argentino em relação aos políticos tradicionais. Milei apareceu justamente como um candidato chamado outsider – candidato de fora da política -, criticando a política tradicional e fazendo promessas chamadas pouco usuais, como fechar o Banco Central e dolarizar a economia. Aos poucos, porém, ele parece tomar pé da realidade e transformar a sua plataforma original de campanha.
Milei fala agora numa possível dolarização, a longo prazo, pelas palavras do seu futuro ministro da Economia, indicado por Macri, Caputo, ele promete fechar o Banco Central e, entre as promessas em relação à política externa Argentina, Milei havia prometido romper relações diplomáticas com a China, o segundo maior parceiro argentino, e deixar o Mercosul. Com relação a esse fato e com relação à concretização das suas demais promessas, Milei necessita ter governabilidade, que é mais do que ganhar as eleições. É preciso ter maioria no Congresso e Milei elegeu poucos deputados e senadores, ele não conseguiria aprovar uma lei que retirasse a Argentina do Mercosul.
Parece que vivemos hoje uma situação em que Milei começa a rever as suas promessas de maneira muito importante. Em relação à dolarização, o seu ministro da Economia, indicado por Maurício Macri, Luis Caputo, afirma que talvez a dolarização seja possível a longo prazo, mas não garante que ela ocorrerá. E com relação ao Mercosul, após criticar sucessivamente o presidente brasileiro, Milei enviou a sua futura chanceler, Diana Mondino, para convidar o presidente brasileiro para participar de sua posse – isso indica uma reviravolta em relação aos contornos iniciais do que parecia ser a política externa de Milei.
Na verdade, Brasil e Argentina são parceiros históricos desde os anos 80, há relações muitos sólidas e há uma cooperação em vastas áreas, como a área espacial, a área militar, a área nuclear, sem falar nas intrínsecas relações econômicas que Brasil e Argentina mantêm. O Brasil é o principal destino das exportações argentinas, e Brasil e Argentina são fundamentais hoje para o Mercosul e são fundamentais para que o Mercosul possa não apenas continuar o seu processo de integração, robustecer esse processo de integração e eventualmente incorporar novos parceiros, mas é fundamental também para que o Mercosul possa celebrar novos acordos comerciais com outros blocos e países e um desses acordos é o acordo com a União Europeia. Esse acordo está prestes a ser celebrado e será fundamental, seja para a economia brasileira, seja para a economia argentina. A presença da Argentina no Mercosul e relações sólidas com o Brasil são indispensáveis para o progresso daquele país e para o desenvolvimento portenho no futuro.
Um Olhar sobre o Mundo
A coluna Um Olhar sobre o Mundo, com o professor Alberto Amaral, vai ao ar quinzenalmente, terça-feira às 8h, na Rádio USP (São Paulo 93,7; Ribeirão Preto 107,9 ) e também no Youtube, com produção da Rádio USP, Jornal da USP e TV USP.
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