Em terras africanas, a Igreja Universal do Reino de Deus (Iurd) adota uma postura que possibilita a diminuição da rejeição da religião. A constatação foi feita em uma pesquisa de doutorado realizada na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) pelo antropólogo Silas Fiorotti. Em entrevista ao Novos Cientistas, o pesquisador falou de suas constatações e observações.
“Ao contrário do que ocorre no Brasil, em Moçambique a Iurd não demoniza religiões de matrizes africanas por questões culturais, e essa postura lhe concede um aumento na popularidade tal que torna possível a luta por poder político no país”, descreve Fiorotti.
Lá em Moçambique, segundo o antropólogo, “o espírito ancestral da família é muito bem quisto e respeitado, então se a igreja combatê-lo estará combatendo a família”. Ele percebeu, em sua análise do discurso religioso, que houve uma mudança de abordagem por parte da Iurd com o intuito de evitar a ofensividade para com a cultura e os costumes do país. Tendo isso em mente, a igreja praticou algo que, análogo ao movimento brasileiro literário-cultural do século 20, a antropofagia, pode ser chamado de “religiofagia”. A Iurd levou sua religião para Moçambique, mas não se limitou a ela: adaptou-se e assimilou religiões nativas do país.
“Nos cultos, eles trazem pastores moçambicanos para assessorar. Por exemplo, a chamada ‘sessão do descarrego’ é dirigida por um pastor moçambicano, porque ele tem a sensibilidade de não expulsar um espírito familiar, de não falar nada ofensivo, nem usar objetos que possam ser interpretados de forma ofensiva.” Tudo isso é feito para que não ocorram deslizes desrespeitosos do ponto de vista cultural e evite-se a rejeição.
O podcast Os Novos Cientistas vai ao ar toda quinta-feira, às 8 horas, dentro do Jornal da USP no Ar, que é apresentado diariamente pela jornalista Roxane Ré (das 7h30 às 9h30) na Rádio USP FM (93,7 MHz).
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