Henrik Sjögren, descobridor de uma doença ocular que leva seu nome

Síndrome de Sjögren é o nome da doença pelo qual é conhecida até hoje e que, segundo Eduardo Rocha, gerou certa discussão em torno de epônimos e de sua aplicabilidade no caso em questão

 05/07/2023 - Publicado há 1 ano

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Esta edição da coluna do professor Eduardo Rocha é dedicada a um médico oftalmologista que deu seu nome a uma doença para a qual chamou a atenção no início do século 20. Há quase um século, Henrik Sjögren passou a observar e estudar casos clínicos de pessoas que se apresentavam com falta de lágrima, de saliva e dores pelo corpo que lembravam reumatismo. Ele nomeou essa condição de Ceratoconjuntivite sicca, mantendo a tradição europeia de nomes latinos para tópicos médicos e biológicos e apresentou uma tese com a caracterização dessa doença. Sua tese acabou reprovada pela banca e ele seguiu sua vida, até que, nos anos 1940, um outro médico australiano traduziu do sueco para o inglês o trabalho e impulsionou novas pesquisas, caracterizando essa doença, que acabou consagrada com o nome de síndrome de Sjögren, usado até hoje.

Rocha diz que essa síndrome continua com as características que ele descreveu, “e hoje sabemos que ela afeta mais mulheres, na faixa dos 50 anos e tem meios de diagnósticos de laboratório e biópsia que ajudaram a confirmar, diferenciar de outras causas de secura e melhoraram o tratamento. Assim, Sjögren continua sendo citado, décadas depois, pelo epônimo que ele ajudou a criar”. Epônimo é o ato de dar nome de alguém a uma coisa ou estrutura, prática também comum na medicina.

Rocha explica que artigos acadêmicos, às vezes, questionam se seria adequado rever a síndrome de Sjögren para sindrome Sjögren, uma forma semântica mais adequada – uma vez que ele a descreveu inicialmente, mas não possuía a doença, como em outros epônimos – ou doença de Sjögren, que seria uma forma mais simples de definir essa condição, mas o epônimo aqui resiste. Epônimos podem correr o risco de cristalizar um conhecimento, simplificando e dificultando que variações sejam consideradas para entender a complexidade de cada paciente no caso de uma doença. Por outro lado, podem se tornar malditos, por outros feitos descobertos na biografia desses homenageados que, em paralelo à descoberta de um feito médico, tiveram condutas históricas reprováveis. E outros epônimos simplesmente caducam porque a linguagem dinâmica e o uso consagram termos mais simples, ou novas descobertas revelam que um fenômeno médico, biológico ou mesmo uma doença precisa ter a nomenclatura desmembrada, detalhada e revista.


Fique de Olho
A coluna Fique de Olho, com o professor Eduardo Rocha, vai ao ar quinzenalmente, quarta-feira às 8h30, na Rádio USP (São Paulo 93,7; Ribeirão Preto 107,9) e também no Youtube, com produção da Rádio USP, Jornal da USP e TV USP.

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