Em outubro de 2024 fortes chuvas atingiram a cidade de São Paulo, derrubando árvores nas fiações elétricas e causando apagões que, em alguns pontos da cidade, chegaram a durar quatro dias. Longe de ser um acontecimento isolado, outros apagões ocorreram também em 2023 em consequência de tempestades.
Com eventos climáticos extremos acontecendo com cada vez mais frequência, em decorrência das mudanças climáticas trazidas pelo Antropoceno, especialistas do mundo inteiro pensam em soluções para proteger redes elétricas das adversidades do clima. Fernando de Lima Caneppele, da Faculdade de Zootecnia e Engenharia de Alimentos (FZEA) da USP, explica os caminhos para aumentar a segurança energética no Brasil.
Resistência mecânica
Caneppele explica que a proteção das fiações é um desafio também em nações geladas, que enfrentam periodicamente tempestades de neve: “Nas regiões árticas e subárticas os desafios impostos pela neve e gelo são substanciais, as linhas de transmissão e distribuição podem ficar sobrecarregadas com o peso do gelo acumulado, causando rompimento. As tempestades de gelo em particular são conhecidas por criar uma camada espessa de gelo sobre as linhas elétricas, levando ao colapso das estruturas de suporte”.
Para combater o problema de forma prática, empresas investem em tecnologias avançadas, como linhas que sacodem automaticamente o gelo acumulado ou revestimentos espessos que impedem o acúmulo de material congelado na superfície dos cabos. A implementação de redes inteligentes também funciona como mitigação das fortes nevascas e o método pode ser espelhado aqui no Brasil para combater os impactos de apagões nas cidades: “As redes inteligentes, smart grids, são outra estratégia importante para aumentar a resiliência em condições adversas. Elas utilizam sensores e sistemas automatizados para monitorar e redirecionar o fluxo de energia elétrica, minimizando apagões”, expõe Caneppele.
Matriz diversa
As fortes secas que assolam periodicamente o Brasil também impõem desafios para a produção estável e contínua de energia elétrica, visto que a produção hidrelétrica sozinha corresponde a 55% da produção energética em nosso país (dados da Agência Nacional de Energia Elétrica). Diversificar a matriz energética, apostando em energias limpas e renováveis, é também uma forma de fortalecer a soberania energética nacional. O professor detalha: “Há uma necessidade crescente de diversificar as fontes de energia e investir em alternativas como a energia solar e eólica. Essas fontes renováveis não apenas contribuem para a redução das emissões de gases de efeito estufa, mas também aumentam a resiliência da rede ao fornecer fontes alternativas de energia durante períodos de escassez hídrica”.
Outra tecnologia desenvolvida para aumentar a estabilidade das redes são baterias de grande escala, que armazenam altas quantidades de energia durante períodos de baixa demanda e liberam em momentos de interrupção da rede.
O papel da população
Caneppele explica que apenas mudanças na rede e desenvolvimento de novas tecnologias não são o suficiente para combater os apagões decorrentes de catástrofes naturais. É preciso criar protocolos para que a população se engaje na corrida pela restauração plena da matriz. “A conscientização pública sobre os desafios e soluções para resiliência da rede elétrica é crucial. Programas educacionais e campanhas de comunicação ajudam a população a entender a importância da preparação e a participar ativamente na mitigação dos impactos dos eventos climáticos extremos cada vez mais frequentes.”
O poder público também tem grande parcela de responsabilidade no combate aos apagões: “Políticas públicas desempenham um papel vital na promoção da resiliência da infraestrutura elétrica. Planos de contingência, treinamentos regulares para equipes de resposta a emergências e parcerias com governos locais e nacionais são essenciais para garantir respostas eficazes. Incentivos para investimentos em tecnologias resilientes, regulamentações que exigem a manutenção preventiva e a modernização da infraestrutura e programas de apoio à pesquisa e desenvolvimento também são essenciais para enfrentar os desafios climáticos”, finaliza Caneppele.
*Sob supervisão de Cinderela Caldeira e Paulo Capuzzo
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