Tornou-se perigoso ser jornalista no século 21, avalia Lins da Silva

Para Carlos Eduardo Lins da Silva, os profissionais de imprensa estão cada vez mais vulneráveis às agressões de pessoas que têm divergências ideológicas ou divergências políticas sobre seu trabalho

 19/07/2021 - Publicado há 3 anos     Atualizado: 20/07/2021 as 15:18

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Em 2020, pelo menos 274 jornalistas foram presos e mais de 20 foram mortos enquanto faziam seu trabalho. Mas o que isso diz em relação à liberdade de imprensa no mundo? Para o colunista, professor e jornalista Carlos Eduardo Lins da Silva, isso é um sinal do aumento da periculosidade do exercício da profissão de jornalista no século 21.

“Uma das diferenças fundamentais de como o jornalismo existiu no século 20 e existe agora, é a mudança de paradigma sobre a respeitabilidade dos profissionais de imprensa em conflitos armados”, diz Lins da Silva. Ele destaca, em um passado recente, o título de imprensa estampado em uniformes e veículos para que esses profissionais fossem respeitados e ficassem fora de perigo. 

Na coluna Horizontes do Jornalismo desta semana, Lins da Silva destaca como isso mudou completamente. “Agora em 2021, tivemos até uma coisa mais dramática, mais intencional, quando o governo de Israel avisou jornalistas, que trabalhavam num prédio que abrigava vários profissionais de imprensa, que eles tinham uma hora para sair dali, porque o prédio seria atacado por suas forças. Eles tiveram que sair deixando todo seu material de trabalho e seu equipamento às pressas e sem poder depois continuar trabalhando nas mesmas condições que tinham antes.” Segundo ele, isso é uma demonstração de como se tornou perigoso ser jornalista no século 21, e é um demonstrativo dos governos, em especial os governos autoritários, que estão cada vez mais intolerantes, agressivos e belicosos com os jornalistas. 

A ONG Repórteres Sem Fronteiras divulgou a lista dos predadores da liberdade de imprensa da qual consta o presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, assim como o europeu Viktor Orban, da Hungria. Para Lins da Silva isso é outro demonstrativo da diferença que a imprensa enfrenta no século 21. “Antes era muito perigoso trabalhar em países de regiões do mundo em que a democracia não era bem estabelecida, era, em geral, em localidades que ficavam em continentes e subcontinentes, tradicionalmente, sem muita democracia e instituições estabelecidas, era ali que era mais perigoso trabalhar com jornalismo. Hoje em dia, até na Europa e, infelizmente, em nosso país, nós vivemos essa situação em que o governo estabelecido parece dedicar-se com empenho para tornar cada vez mais arriscada a profissão de jornalismo”, diz o professor. Ele destaca como cada vez fica mais perigoso para as pessoas trabalharem jornalismo, porque elas podem ser vítimas de agressão de qualquer dos lados que têm divergências ideológicas ou divergências políticas. “Uma situação muito difícil e que não sei se vai melhorar no curto prazo”, conclui Lins da Silva.


Horizontes do Jornalismo
A coluna Horizontes do Jornalismo, com o professor Carlos Eduardo Lins da Silva, vai ao ar quinzenalmente, segunda-feira às 8h30, na Rádio USP (São Paulo 93,7; Ribeirão Preto 107,9) e também no Youtube, com produção  da Rádio USP,  Jornal da USP e TV USP.

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