Cidades inteligentes: ciência e tecnologia como aliadas para o futuro urbano

Fabio Kon explica que as cidades inteligentes podem auxiliar em diferentes desafios urbanos, seja nas áreas da mobilidade, saúde ou climatologia

 18/11/2024 - Publicado há 4 meses

Foto: Rafael_Neddermeyer por Pixabay
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O conceito de cidades inteligentes tem se consolidado como uma solução promissora para os desafios urbanos contemporâneos, unindo tecnologia e gestão eficiente. Fabio Kon, professor do Departamento de Ciência da Computação do Instituto de Matemática e Estatística (IME) da USP, destaca o papel da tecnologia na melhoria da qualidade de vida nos centros urbanos. Coordenador do projeto InterSCity, desenvolvido pela USP, ele ressalta como a ciência da computação pode auxiliar na gestão urbana por meio de ferramentas inovadoras, como dashboards e sistemas de análise de dados.

Kon aponta que, embora as cidades inteligentes utilizem tecnologia de ponta, o sucesso de sua aplicação depende de como essas ferramentas são empregadas, dependendo da população e dos governantes elegidos. “Podemos ter a tecnologia usada para tornar a vida melhor ou pior. Se a gente quiser uma cidade onde tenha câmeras em todos os lugares vigiando a população, isso vai ser excelente para governos totalitários poderem combater a oposição e coisas do gênero, mas tem outro lado também. O consenso dos urbanistas é que as cidades saudáveis são aquelas onde há muitas áreas verdes, uma boa infraestrutura de calçadas e ciclovias, a população se locomove majoritariamente a pé, de bicicleta ou de transporte coletivo e há poucos carros. Então, a tecnologia pode ser usada para levar a uma cidade mais saudável e humana”, comenta.

Projeto InterSCity

Fabio Kon – Foto: IME

Apesar do potencial, as iniciativas ainda são tímidas no Brasil. Kon destaca experiências pontuais, como o uso de ferramentas computacionais na gestão de linhas de ônibus em São Paulo, mas lamentou a falta de adoção em larga escala. “Atualmente, como a maioria dos sistemas estão começando a ser informatizados, esses sistemas geram dados, só que muitas vezes o dado não é utilizado de uma forma inteligente para embasar políticas públicas. Um exemplo é o Sistema Único de Saúde (SUS), que tem registros em bancos de dados com informações detalhadas sobre a saúde da população. Mas essa grande quantidade de dados, embora disponível, é muito pouco utilizada para embasar as políticas públicas”, afirma.

No projeto InterSCity, que surgiu com o objetivo de ajudar nas políticas públicas urbanas, dashboards já ajudam a visualizar informações estratégicas para gestores de saúde, permitindo ações mais assertivas. Além disso, o professor cita outras pesquisas, a fim de melhorar também a mobilidade urbana.

Dificuldades

As mudanças climáticas também entram na pauta das cidades inteligentes. Kon ressalta que eventos extremos, como enchentes, podem ser previstos com antecedência, permitindo o planejamento dinâmico de rotas de transporte coletivo e a mitigação de impactos. “A gente precisa preparar a cidade para essa nova realidade, os eventos extremos vão ser cada vez mais frequentes, mas a computação pode ajudar nisso também. Tudo isso é possível e precisa ser feito para que as nossas cidades sejam mais resilientes às mudanças climáticas”, informa.

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Cidades inteligentes ou resilientes?

O maior desafio, no entanto, está na gestão pública. Segundo Kon, a implementação de projetos de longo prazo esbarra na visão imediatista de muitos políticos, mais preocupados com resultados rápidos para fins eleitorais. “É difícil convencê-los de que vale a pena investir em ciência como embasamento das políticas públicas. Nós, como cidadãos, temos que nos esforçar para eleger políticos que valorizem a ciência e as políticas públicas baseadas em evidências, porque aí vamos ter um ambiente mais propício para ter cidades realmente inteligentes”, defende. Ele também destaca a necessidade de parcerias entre universidades e governos para avançar nesse campo, e o projeto InterSCity é um exemplo de como a ciência pode ser aplicada para enfrentar os desafios urbanos do futuro.


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