Cadastro de endereços do IBGE é vital para construção de políticas públicas e enfrentamento de crises

O Cadastro Nacional de Endereços para Fins Estatísticos, realizado pelo IBGE, transforma dados em uma base georreferenciada com muitas utilidades

 Publicado: 05/07/2024
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Os dados do CNEFE são georreferenciados e têm diversas aplicações, inclusive no enfrentamento de calamidades públicas – Foto: Acervo IBGE
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Segundo o IBGE, o Cadastro Nacional de Endereços para Fins Estatísticos de 2022 (CNEFE) foi o primeiro a englobar 100% dos endereços, tendo acrescentado 34 milhões novos em relação aos que já estavam cadastrados. Para quem pensa que endereço é coisa simples, não é bem assim: o levantamento mostrou que o País tem 24,4 milhões de endereços sem número, mais do que um quinto do total, e 2,7 milhões de logradouros sem nome.

Endereços no Brasil

Foto: Daniel Silva – Fonte: GitHub

O CNEFE começou em 2005 e, desde então, tem sua base de dados atualizada conforme são feitos os Censos. Daniel da Silva, geógrafo da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP, comenta: “Ter essa precisão de localizar os domicílios é uma coisa muito nova no Brasil”. Para os que moram em centros urbanos, ter endereço pode ser algo dado; já na zona rural é comum que casas e até escolas ou repartições públicas não sejam bem demarcadas.

Por mais que pareça trivial, o efeito que isso gera é que dificulta o acesso a serviços de saúde, educação e afins. Sem o georreferenciamento não há nenhum dado oficial que indique qual melhor unidade a pessoa deve buscar. Silva conta que mesmo o TSE tem dificuldade de localizar todos seus pontos de votação, tornando-se um entrave para a democracia.

Aplicações práticas

Além de possibilitar que edifícios e ruas não endereçados possam receber um cadastro, a base do CNEFE possibilita uma ampla gama de estudos, adicionando uma dimensão espacial aos domicílios. “Estamos acostumados a ver o domicílio só como um endereço, agora esse endereço é um ponto no mapa e esse ponto no mapa possibilita você criar e estabelecer mais uma série de relações”, explica ele.

Os dados do Censo ajudam a trazer uma nova possibilidade para entender alguns tipos de concentração de ocorrência de doenças, por exemplo. O geógrafo comenta o caso da leptospirose para ilustrar a ideia: “É uma doença que acontece muito em áreas de alagamento, em áreas com problemas de saneamento etc.; quando você consegue cruzar as informações de maneira espacial, você consegue entender que a doença pode estar associada a outras características dos domicílios”.

Na prática, sabendo quais as condições das casas e das ruas – se são asfaltadas, se há saneamento e afins –, o Estado tem mais condição de traçar áreas de risco e construir políticas públicas com base nisso. O mesmo se aplica à dengue e a várias outras doenças. O ponto é que há uma vasta gama para se utilizar o estudo ao se cruzar a base de dados do CNEFE com outras pesquisas.

Importância dos dados em crises

Segundo o próprio IBGE, “os dados do CNEFE ajudaram o poder público a enfrentar calamidades em Alagoas e Pernambuco, em 2010, em Brumadinho (MG), em 2019, em São Sebastião (SP), em 2023, e no Rio Grande do Sul, em 2024”. Sobrepondo o mapa de onde houve o alagamento ou deslizamento com os do CNEFE é possível entender o perfil da área e população de uma forma muito ágil.

Mesmo após o desastre, com as moradias perdidas e os dados consequentemente desatualizados, o estudo continua relevante. “Poderemos entender onde aquelas pessoas estavam, aonde elas foram e como a distribuição das pessoas mudou”, explica Silva. Ele resume a ideia: “[o CNEFE] é um reflexo muito importante da realidade para o planejamento das políticas futuras”.

*Sob supervisão de Paulo Capuzzo e Cinderela Caldeira


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