Na noite desta quarta-feira (09), Fernando Villavicencio, candidato à presidência do Equador, foi assassinado com três tiros na cabeça após comício de campanha em uma escola da cidade de Quito. Villavicencio, jornalista investigativo de formação, defendia causas como a luta anticorrupção, o combate ao crime organizado, os direitos indígenas e o meio ambiente.
Na última semana, o candidato denunciou ameaças da organização criminosa Los Choneros, além de, previamente, responsabilizá-la por qualquer ataque contra ele, sua família e equipe. No entanto, no início da madrugada de hoje (10), o grupo Los Lobos assumiu a autoria do crime em vídeo divulgado nas redes sociais.
Rafael Villa, professor do Departamento de Ciência Política da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas e do Instituto de Relações Internacionais da USP, explica que o assassinato de Fernando Villavicencio se enquadra em um cenário de crise política e de insegurança pública que o Equador tem enfrentado.
O atual presidente, Guillerme Lasso, determinou estado de emergência por 60 dias e manteve o dia das eleições, que ocorrerá em 20 de agosto.
Assassinato e autoria
O professor comenta que uma das principais lutas do candidato era contra o crime organizado e sua relação corrupta com a política do Equador. Além disso, destaca que as opiniões de Villavicencio eram muito bem posicionadas em sua carreira política e, assim, poderiam estar relacionadas com sua morte e as circunstâncias da revelação de sua autoria.
No vídeo divulgado por Los Lobos, a autoria do ataque é feita sob o pretexto de que Villavicencio recebeu um suposto financiamento da organização e “não cumpriu com as suas promessas”. Na visão de Villa, a situação ainda é muito ambígua, uma vez que esse discurso vai de encontro com a agenda pública anticorrupção e anti-crime organizado do candidato.
Diante dessa ambiguidade, o professor nota uma tentativa de desmoralizar o candidato e a política equatoriana. Outro aspecto levantado refere-se a uma possível disputa das organizações criminosas acerca da autoria do crime, na medida em que se torna mais uma forma de demonstrar poder e influência.
“Cada vez que aparece um político que tente denunciar e enfrentar grupos criminosos com sua proposta de agenda de segurança pública, o método é a eliminação dessa figura”, ressalta Villa, ao observar o aumento de assassinatos no meio político. Assim, mesmo que Villavicencio estivesse distante da primeira colocada (Luisa González) nas pesquisas eleitorais, o candidato estava em ascensão, visto que seu posicionamento diante do combate ao crime impacta diretamente na sociedade, que enfrenta uma escalada na criminalidade.
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