Alimentos ultraprocessados de origem vegetal podem aumentar risco de doenças cardiovasculares

Maria Laura Louzada alerta os consumidores para verificarem não apenas a origem, mas também o tipo de processamento utilizado nos produtos

 Publicado: 21/06/2024
Fotomontagem com imagens de Flaticon e Freepik
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Ultraprocessados de origem vegetal estão associados a doenças cardíacas em estudo feito pela USP em parceria com o Imperial College London e Agência Internacional de Pesquisa em Câncer (Iarc). A pesquisa contou com mais de 118 mil participantes, com idades de 40 a 69 anos. Uma das autoras do estudo, a pesquisadora Maria Laura Louzada, do Núcleo de Pesquisas Epidemiológicas em Nutrição e Saúde (Nupens) da Faculdade de Saúde Pública da USP, comenta os resultados obtidos e a relação dessa classe de alimentos com as doenças cardiovasculares.

De acordo com a pesquisadora, a grande inovação do estudo foi pela primeira vez acompanhar a rotina de alimentação com fonte vegetal em uma amostra muito grande de pessoas em um largo período de tempo. Ela afirma que o primeiro passo foi identificar os alimentos originados a partir das plantas e separá-los em não ultraprocessados, como cereais, sementes, frutas e verduras, e os ultraprocessados, como refrigerantes, snacks, sucos artificiais e alguns tipos de doces e salgados.

A especialista conta que, muitas vezes, as pessoas tentam substituir os produtos de origem animal por aqueles que são oriundos de plantas para evitar problemas de saúde. No entanto, muitas vezes o processo industrial com esse tipo de comida também pode gerar riscos, como no caso de salsichas processadas e nuggets artificiais que tentam substituir as carnes tradicionais. “As pessoas cada vez mais estão se preocupando com sua alimentação e consomem esses produtos vegetais achando que são totalmente saudáveis. Mas existe o risco durante esse processamento da comida vegetal”, conta.

Maria Laura Louzada 

Doenças

Conforme Maria Laura, as incidências de doenças cardiovasculares na população estudada variaram de acordo com os alimentos consumidos. Ela diz que um aumento de 10% na contribuição de alimentos vegetais não ultraprocessados significou uma redução de 7% no risco das doenças cardiovasculares, ao passo em que a contribuição dos ultraprocessados aumentou o risco dessas enfermidades em cerca de 5%.

Além disso, ela explica que o consumo dos não ultraprocessados representou uma redução de 13% na taxa de mortalidade em decorrência desses problemas, enquanto a ingestão de ultraprocessados elevou os riscos de óbito em 12%. “O principal achado que temos, portanto, é que nós temos as plantas, mas quando dividimos em grupos, vemos comportamentos absolutamente opostos para a saúde; então é preciso alertar para o consumo de carne e ultraprocessados, mas de todos esses tipos de alimento, tanto os de origem animal, quanto os de origem vegetal”, esclarece.

Políticas públicas

Segundo Maria Laura Louzada, a população está cada vez mais preocupada com a qualidade dos alimentos ingeridos e seus impactos ao meio ambiente, mas não adianta trocar os problemas ambientais por danos à saúde. Ela reforça que é de fundamental importância a busca por conhecer qual a forma de processamento empregada em cada alimento e algumas políticas públicas já estão observando esse fator, como a Portaria da Cesta Básica, que excluiu os ultraprocessados da lista de alimentos presentes na cesta.

“Atualmente estamos na discussão da Reforma Tributária, em que existe a chance de discutir a desoneração dos alimentos saudáveis da cesta básica. Uma tributação seletiva dos alimentos ultraprocessados, já se tem evidências de experiências em outros países, não impactou no bolso da população e ainda diminuiu o consumo de ultraprocessados em relação ao consumo de alimentos saudáveis”, finaliza.


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