Um sonho presente na cabeça de muita gente, principalmente dos jovens, é o de ser um nômade digital, algo nem tão novo assim, essa ideia remonta no mínimo aos idos de 2006, mas se tornou muito popular com a pandemia. Trabalhar de forma remota num país estrangeiro, de preferência à beira mar, passou a ser, nas palavras de Luli Radfahrer, a grande cenoura de burro. “Nossa que legal, mas isso tudo é uma grande ilusão. Eu acho que talvez eu seja um pouco antiquado, mas eu acho que tem lugar de trabalho e tem lugar de descanso […] é muito legal estar na Costa Rica se você está num hotel descansando, agora imagine que você está lá na Costa Rica e você tem que achar um lugar para morar e você não sabe o que é caro ou que é barato, você tem uma série de outros custos.” Para o colunista, uma das coisas em que não se pensa muito, mas que é importante, é a adaptação a uma tranquilidade de trabalho. “Por exemplo, eu sei aonde comprar cabo, eu sei que, por exemplo, eu tenho duas lojinhas eletrônicas perto de mim, uma é mais cara, a outra, mais barata, a mais cara tem alguns produtos que a mais barata não tem. Eu sei aonde eu posso comprar bateria às quatro da tarde, essa tranquilidade do trabalho a gente não leva muito em conta.”
O isolamento é um outro ponto a ser levado em conta, já que o nômade digital não terá junto de si sua família e seus amigos. O resultado é que as pessoas que eventualmente conhecer também serão nômades. “Enquanto isso, seus amigos de verdade ficaram para cá e foram fazendo outros amigos. Todos os seus laços sociais começam a se desgastar. Então, no fundo, eu acho o seguinte: “Você quer trabalhar remoto, de algum lugar legal, vai, mas vai pensando que é um pequeno intervalo. É muito melhor você montar um escritório bacana aqui na sua casa, trabalhar direitinho aqui, ganhar dinheiro e daí você vai para um lugar desses para curtir”.
Datacracia
A coluna Datacracia, com o professor Luli Radfahrer, vai ao ar quinzenalmente, sexta-feira às 8h, na Rádio USP (São Paulo 93,7 ; Ribeirão Preto 107,9 ) e também no Youtube, com produção da Rádio USP Jornal da USP e TV USP.
.