Segundo o professor João Paulo Machado de Sousa, não, perfeccionismo não é doença. No Minuto Saúde Mental desta semana, o professor informa que, na psicologia e na psiquiatria, o perfeccionismo é considerado um traço de personalidade, ou seja, um modo de funcionamento da pessoa que irá determinar como ela lida com as demandas da vida cotidiana em geral.
“As pessoas que têm este traço como um dos pilares de seu funcionamento costumam apresentar um grau de exigência impossível de ser satisfeito na realização das mais diferentes tarefas. Como é impossível satisfazer essa exigência na maior parte dos casos, o perfeccionista tem suas expectativas frequentemente frustradas, o que pode gerar um nível importante de incômodo e sofrimento que acaba afetando sua relação com o trabalho e com outras pessoas nos diversos ambientes que frequenta, como em casa ou no trabalho, por exemplo.”
Na classificação de problemas de saúde mental mais utilizada pelos profissionais hoje em dia, o DSM-5, o perfeccionismo aparece como um traço de personalidade associado aos comportamentos compulsivos e ao transtorno de personalidade obsessivo-compulsivo. O transtorno de personalidade obsessivo-compulsivo não é a mesma coisa que seu parente mais próximo, o transtorno obsessivo-compulsivo (ou TOC), embora a relação entre os dois seja bem estreita. Mas isso é assunto para outra conversa.
Ainda segundo Sousa, apesar de muita gente encarar o perfeccionismo como uma característica positiva ou como um “defeito desejável” a ser mencionado em entrevistas de emprego, o perfeccionismo frequentemente faz com que a pessoa fique mais focada em evitar o fracasso do que atingir o sucesso de maneiras criativas, o que pode dificultar a convivência profissional e o cumprimento de metas e projetos. “Como diz o ditado, o ótimo é inimigo do bom”, afirma.
Para o professor, sendo um traço de personalidade, o perfeccionismo provavelmente está “instalado” na mente do indivíduo desde muito cedo, mas há evidências de que o ambiente também determina sua manifestação, já que pessoas mais jovens parecem apresentar níveis cada vez maiores de perfeccionismo, o que pode estar relacionado à competitividade profissional e a tendências pouco realistas e padrões impossíveis propagados pelas redes sociais.
Minuto Saúde Mental
Apresentação: João Paulo Machado de Sousa
Produção: João Paulo Machado de Sousa e Jaime Hallak
Coprodução e edição: Rádio USP Ribeirão
Coordenação: Rosemeire Talamone
Apoio: Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia em Medicina Translacional, iniciativa CNPq e Fapesp
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