O escultor e artista plástico Emanoel Araújo morreu nesta quarta-feira, dia 7 de setembro, em São Paulo. Segundo nota divulgada pelo Museu Afro Brasil, do qual era fundador e curador, Araújo foi encontrado sem vida por um funcionário do museu em sua residência, no bairro da Bela Vista, região central da capital. O velório se iniciou nesta quinta-feira, às 9 horas, no museu, localizado no portão 3 do Parque do Ibirapuera. Já o sepultamento ocorreu no Cemitério da Consolação às 16 horas.
Nascido em 1940, no Recôncavo Baiano, o artista realizou sua primeira exposição aos 19 anos, ainda em sua terra natal. Na década de 1960, mudou-se para Salvador, onde estudou gravura na Escola de Belas Artes da Universidade Federal da Bahia (UFBA). Em 1966, recebeu sua primeira premiação nacional, no Museu de Arte Contemporânea (MAC) da USP, pela participação na 2ª Exposição Jovem Gravura Nacional. Seis anos depois, foi premiado internacionalmente com medalha de ouro na 3ª Bienal Gráfica de Florença, na Itália.
Dentre outros prêmios e honrarias no Brasil, também se destacam os Prêmios Ciccillo Matarazzo, recebidos em 1998 e 2007, e o Prêmio Clarival do Prado Valladares, em 2020. No mesmo ano, recebeu a Medalha Zumbi dos Palmares, entregue pela Câmara Municipal de Salvador. No ano seguinte, foi agraciado com a Medalha Tarsila do Amaral, pelo Governo do Estado de São Paulo.
No IEB da USP
Sua trajetória está ligada à gestão cultural de grandes patrimônios nacionais. Araújo fazia parte de um conselho consultivo do Instituto de Estudos Brasileiros (IEB) da USP, criado pela professora Diana Vidal, antiga diretora, visando a receber colaboração de pessoas do meio artístico cuja trajetória tinha reconhecimento público.
“Emanoel Araújo é um artista e intelectual com forte reconhecimento público. Ele sempre foi muito ativo, não só como artista mas como gestor público”, lembra a professora Sônia Salzstein, atual diretora do IEB. Ela destaca sua atuação enquanto diretor do Museu de Arte da Bahia, da Pinacoteca do Estado de São Paulo e do Museu Afro Brasil, o qual idealizou e fundou em 2004.
Durante sua gestão no Museu Afro Brasil, a exposição Africa Africans, da qual foi curador, foi premiada como melhor exposição de 2015 pela Associação Brasileira de Críticos de Arte. Como curador independente, sua exposição Francisco Brennand Senhor da Várzea, da Argila e do Fogo recebeu o Prêmio Paulo Mendes de Almeida, como a melhor exposição realizada no País no ano de 2017.
“Além de sua colaboração nos museus, sua figura é importante por valorizar a questão racial na sociedade brasileira em um momento em que isso não se colocava de maneira tão aberta. O próprio nome do museu é uma visão inspiradora da contribuição africana e da herança negra para a arte e a cultura brasileira. Qualquer brasileiro deve ter noção desse débito”, afirma a diretoria do IEB.
De acordo com a nota publicada pelo Museu Afro Brasil, Araújo estava trabalhando atualmente para levar ao museu, em novembro, uma exposição temática sobre o bicentenário da Independência, entrelaçando duas datas: o 7 de setembro, dia da proclamação da independência do País, na capital paulista, e 2 de julho de 1823, data de efetivação do movimento da independência baiana que efetivou o processo de emancipação do Brasil. “Um homem singular, muito suave e com essa vocação pública muito forte. Ele teve essa capacidade de articular muita gente em torno de si. Esse lado se sobressaiu”, diz.
Páginas de museus, coletivos, políticos e figuras como Gilberto Gil e Caetano Veloso lamentaram a perda de Emanoel Araújo pelas redes sociais. O governador de São Paulo, Rodrigo Garcia, decretou luto oficial de três dias no Estado.
Com informações do Museu Afro Brasil