Foto: Marcos Santos/ USP Imagens

Entre cores e formas, Maurício Nogueira Lima está no MAC

O artista, arquiteto e professor é homenageado com exposição que reúne obras criadas entre 1971 e 1995

 15/07/2022 - Publicado há 2 anos     Atualizado: 26/07/2022 as 17:06

Texto: Leila Kiyomura

Arte: Ana Júlia Maciel

A história de um pernambucano que veio para São Paulo iluminar a cidade com a sua arte está no Museu de Arte Contemporânea (MAC) da USP. O arquiteto, artista e professor da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU) da USP, nascido em Recife em 21 de abril de 1930, é homenageado na exposição Maurício Nogueira Lima: Forma e Cor. São 20 serigrafias do acervo do instituto que leva o nome do artista e uma pintura de coleção particular. As obras reunidas trazem uma amostra de uma ampla produção realizada entre 1971 e 1995. “As serigrafias demonstram o amadurecimento do artista concreto em um momento de maior liberdade no uso e desenvolvimento das suas pesquisas  cromáticas”, observa Stela Politano, curadora do Instituto Maurício Nogueira Lima. A mostra reúne também documentos e estudos realizados pelo artista.

Quando o visitante começar a percorrer a mostra, vai se deparar com uma sala onde pode ver e ouvir o artista em um vídeo gravado em 1985, onde ele explica as razões que o levaram à serigrafia. “É um processo muito interessante de multiplicação em obra de arte”, observa. “Não é uma gravura, mas uma forma de impressão.” Conta com detalhes o projeto que vai desenvolvendo na serigrafia, o layout com cores, onde cada cor é pintada à parte. São desenhos que ele vai tirando dos próprios quadros.

No vídeo, os visitantes do MAC têm uma aula com o professor da FAU, onde ele fez mestrado e doutorado e lecionou até a sua morte, em 1º de abril de 1999. “A documentação selecionada dialoga com essa produção e amplia a discussão para a didática de Maurício Nogueira Lima, desenvolvida ao longo dos seus mais de 30 anos de docência”, lembra a curadora. “Foi professor de Projetos, de Desenho e de Comunicação Visual também na Universidade Mackenzie, na Fundação Armando Álvares Penteado (Faap) e na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo de Santos.”

A curadora Stela Politano – Foto: Arquivo Pessoal

“O ideal concreto, de possibilitar uma arte acessível, pode ser visto ao longo da trajetória do artista e nos seus diversos projetos.”

Stela observa que esses estudos programados do professor demonstram como o artista projetava suas construções visuais a partir de uma mesma base. “O quadrado, a superfície horizontal, o desenho, as cores… A narrativa visual estabelecida pela seleção das pranchas nos conduz a procurar o produto final dos estudos nas serigrafias, nas capas de revista, nos cartazes, folders e até mesmo nas intervenções urbanas. Assim, a tríade do artista é estabelecida: a democratização, a didática e a cidade. O ideal concreto, de possibilitar uma arte acessível, pode ser visto ao longo da trajetória do artista e nos seus diversos projetos.” No vídeo, o professor defende a serigrafia como um processo de democratização da arte e a arte para todos. “A serigrafia é mais barata, muitos podem adquirir, enquanto o quadro é um objeto único, só uma pessoa possui ou fica apenas no museu.”

A exposição de Maurício Nogueira Lima no Museu de Arte Contemporânea (MAC) da USP – Foto: Marcos Santos

“Maurício Nogueira Lima foi o mais jovem integrante do Grupo Ruptura, que reuniu, em São Paulo, artistas abstratos geométricos no início da década de 1950”, comenta Stela Politano. “Ao lado de Waldemar Cordeiro, Geraldo de Barros e Luis Sacilotto, Nogueira Lima desenvolveu uma sólida carreira como artista concreto, tendo exposto pinturas geométricas na 3ª, 4ª e 6ª Bienais de São Paulo. Com essa produção, foi convidado pelo artista suíço Max Bill a tomar parte na célebre mostra Konkrete Kunst (Arte Concreta), realizada em Zurique, em 1960.”
A curadora ressalta que, como outros artistas do Grupo Ruptura, Nogueira Lima voltou-se para a figuração logo após o golpe de 1964. “Nesse período apropriou-se de imagens dos meios de comunicação de massa para construir trabalhos de alto impacto visual: ídolos do cinema, do futebol e da música pop são protagonistas nas pinturas, assim como sinais gráficos e onomatopeias que denunciavam de maneira velada a violência instituída pelo novo regime.”

“É na década de 1970 que o artista direciona o olhar aos problemas visuais do meio urbano na tentativa de  repensar o espaço para neutralizar a poluição urbana por meio da cor.”

Nos anos 70, Nogueira Lima volta à arte concreta como método e princípio artístico. “A reprodutibilidade do objeto artístico e sua democratização, ideais encontrados no manifesto dos concretos
paulistas, são experimentados em seus múltiplos serigráficos”, observa a curadora. “É também na década de 1970 que o artista direciona o olhar aos problemas visuais do meio urbano, na tentativa de repensar o espaço para neutralizar a poluição urbana por meio da cor.”
Interessante observar o desenho do arquiteto habitando a cidade. Na exposição, há fotos de suas intervenções cromáticas na então sede do MAC na Cidade Universitária, em 1983, e na Praça Roosevelt, em São Paulo, em 1984.

As obras expostas foram criadas entre 1971 e 1995 – Foto: Marcos Santos

A curadora Stela sugere a visita a alguns dos estudos e projetos desenvolvidos nesse período, como a Empena São Bento (1979) e as paredes/estruturas lineares das estações de metrô Santana e São Bento (1990), onde há alguns dos elementos plásticos de suas serigrafias. “Maurício Nogueira Lima buscava a seriação e a multiplicação da forma e da cor, visando a uma redistribuição social da criação artística que tanto o fascinava, preocupado em expandir seus estudos e multiplicá-los entre os pares, os alunos, os professores, os amigos e o público.”

“Apresentar a exposição Maurício Nogueira Lima: Forma e Cor no MAC é uma possibilidade de retornar o Maurício Nogueira Lima em um cenário múltiplo: um museu público e universitário.”

O Instituto Maurício Nogueira Lima foi constituído em novembro de 2014 e seu estatuto, registrado em fevereiro de 2015 na cidade de Campinas (SP). “A sua fundação surgiu por iniciativa de Selma Sevá, esposa do artista. É uma associação civil sem fins lucrativos e vem se consolidando na conservação e difusão das produção plástica de Maurício Nogueira Lima”, esclarece Stela Politano. “A instituição detém a guarda do acervo do artista e, desde sua fundação, vem se dedicando à preservação desse acervo, pesquisa e construção da fortuna crítica do artista, catalogação da produção artística e autenticação de obras.”

Na exposição, os visitantes podem assistir a um vídeo em que Maurício Nogueira Lima fala sobre sua obra – Foto: Marcos Santos

“Apresentar a exposição Maurício Nogueira Lima: Forma e Cor no MAC foi uma possibilidade de retornar o Maurício Nogueira Lima em um cenário múltiplo: um museu público e universitário”, afirma Stela. “Ele teve uma longa relação com os museus paulistanos, que possuem em suas coleções muitas pinturas importantes das décadas de 50, 60 e 70. No caso específico do MAC, é muito relevante para a sua trajetória como artista, arquiteto e professor.”

A exposição Maurício Nogueira Lima: Forma e Cor fica em cartaz até 25 de setembro, de terça-feira a domingo, das 10 às 21 horas, no Museu de Arte Contemporânea (MAC) da USP (Avenida Pedro Álvares Cabral, 1.301, Ibirapuera, em São Paulo). Entrada grátis. São obrigatórios o uso de máscara e comprovante de vacinação contra a covid-19. Mais informações podem ser obtidas pelo telefone (11) 2648-0254.


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