No dia 23 de novembro, o ministro dos Negócios Estrangeiros de Portugal, Augusto Ernesto dos Santos Silva, ministrou a palestra Conhecimento, informação e ação política: estão os intelectuais sendo substituídos pelas redes sociais?, na Sala do Conselho Universitário, no prédio da Reitoria, em São Paulo.
O evento foi organizado pela Cátedra Jaime Cortesão, da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH), em parceria com o Consulado-Geral de Portugal, o Instituto Camões e o jornal Folha de S. Paulo. Estavam presentes, entre outras autoridades, o embaixador de Portugal no Brasil, Jorge Tito de Vasconcelos Nogueira Dias Cabral, e o cônsul-geral de Portugal em São Paulo, Paulo Lourenço.
O reitor da USP, Marco Antonio Zago, abriu o evento falando um pouco sobre a formação, a carreira e a importância da produção intelectual do ministro, especialmente nas áreas de sociologia, educação e cultura. “O ministro é, em primeiro lugar, um acadêmico, com uma sólida carreira nas universidades portuguesas. Ele é professor catedrático da Faculdade de Economia da Universidade do Porto, instituição com a qual a USP tem uma intensa e longa relação.”
Com a mediação do jornalista Uirá Machado, editor do caderno Ilustríssima do jornal Folha de S. Paulo, a palestra abordou a importância das mídias sociais nos dias de hoje e como elas estão alterando o papel dos intelectuais e jornalistas.
“As democracias representativas atualmente enfrentam diferentes ameaças, mas duas delas criam os temas para a palestra de hoje: a ameaça populista e a ameaça da desinformação ou fake news. O populismo se caracteriza por um antielitismo (a ideia de que as elites estão completamente separadas do povo), por um antipluralismo (a ilusão de que o povo é representado por uma unidade inteira, sem qualquer divisão, e aqueles que exprimem uma dissidência tendem a ser excluídos) e pela abordagem moralística e emocional da política”, explicou o ministro.
Sobre a desinformação, Santos Silva defendeu que há três diferenciações que devem ser consideradas: entre informação e propaganda; entre as notícias e os boatos; e entre os fatos e as opiniões sobre os fatos. “Há mesmo um risco de os intelectuais serem substituídos pelas mídias sociais, e nós devemos considerar esse risco possível como uma verdadeira ameaça à natureza das nossas democracias. Uma ameaça de que a racionalidade se torne secundária, de que a análise e a pesquisa sejam substituídas pelas campanhas morais”, afirmou.
“A alternativa não é combater as redes sociais. A alternativa é trazer para as redes sociais a razão, a mediação e as instituições. Devemos reafirmar a função dos intelectuais, isto é, sustentar que é preciso mais pesquisa, mais debate, mais exame crítico. Precisamos de mais intelectuais e jornalistas presentes nas redes sociais, o que significa uma utilização mais capaz e de interesse público dessas enormes potencialidades dos novos meios de comunicação. Mais jornalismo na mídia e nas redes sociais significa também mais capacidade de produção de informação distinta da mera propaganda, produção de notícias distintas dos rumores e produção de fatos distintos das puras ilusões sobre os fatos”, concluiu Santos Silva.
Clique aqui para assistir, na íntegra, à palestra do ministro português Augusto Santos Silva.