Dando sequência à série de entrevistas sobre os Objetivos Estratégicos da USP, o pró-reitor de Pesquisa e Inovação Paulo Alberto Nussenzveig, falou com o Jornal da USP sobre o processo de definição dos dez objetivos estratégicos específicos da pró-reitoria que dirige, os planos para alcançar essas metas e as iniciativas que já estão sendo desenvolvidas para aprimorar a pesquisa e a inovação na Universidade.
Os 12 objetivos estratégicos da USP, apresentados no Conselho Universitário do dia 20 de agosto, abrangem as atividades-fim da Universidade – graduação, pós-graduação, pesquisa e inovação, cultura e extensão universitária e inclusão e pertencimento – e a gestão administrativa. Além dos objetivos gerais, também foram definidos os dez objetivos estratégicos para cada uma dessas áreas.
Até o final deste ano, as pró-reitorias e a Coordenadoria de Administração Geral (Codage) deverão apresentar as metas definidas, o plano de ação para atingir essas metas e quais serão os indicadores utilizados para mensurar o desenvolvimento desses objetivos, que deverão ser implementados até o final de 2025.
A construção dos objetivos estratégicos, tanto gerais quanto específicos, faz parte do Projeto Missão, Visão, Valores, Objetivos e Metas para Pró-Reitorias e Gestão.
Jornal da USP – Como foi o processo de levantamento dos objetivos estratégicos da Pró-Reitoria de Pesquisa e Inovação (PRPI)?
Paulo Nussenzveig – Estávamos inseridos no processo geral do Projeto Missão, Visão, Valores, Objetivos e Metas para Pró-Reitorias e Gestão. Desde o final do ano passado, trabalhamos para discutir e definir quais seriam as competências da PRPI e quem seriam os nossos stakeholders.
A Universidade tem uma série de competências e a pró-reitoria possui instrumentos para explorar melhor esse potencial na área de pesquisa e inovação. Nesse sentido, nosso levantamento teve como principal objetivo determinar os instrumentos capazes de aumentar a sinergia dessas competências. Foram organizadas reuniões com os membros da comunidade, para discutir e definir as competências e os instrumentos de que dispomos e, no final, foi realizado um workshop no campus de Lorena para apresentar os resultados.
Jornal da USP – Nesse sentido, quais seriam os instrumentos e competências?
Paulo Nussenzveig – Tradicionalmente, a pró-reitoria já é responsável por três importantes programas da Universidade na área de pesquisa: o Programa de Iniciação Científica e Tecnológica, o Programa de Pós-Doutorado e o Programa de Pesquisador Colaborador. Nos últimos anos, também temos desenvolvido iniciativas para estruturar melhor as atividades de pesquisa e inovação na USP, como a revisão do Guia de Boas Prática em Pesquisa e a criação de mecanismos de proteção à pesquisa.
Jornal da USP – E quem seriam os stakeholders, ou seja, as partes interessadas da Pró-Reitoria de Pesquisa e Inovação?
Paulo Nussenzveig – No fundo, podemos considerar todos como nossos stakeholders. Do ponto de vista da comunidade interna da Universidade, são os nossos docentes, pesquisadores, estudantes e pós-doutorandos. Já externamente, vários setores da sociedade têm grande interesse na geração de pesquisa e na cocriação no processo de inovação, como as empresas e o governo, em seus diferentes níveis.
Jornal da USP – Quais são as principais considerações sobre os dez objetivos estratégicos definidos para a Pró-Reitoria de Pesquisa e Inovação?
Paulo Nussenzveig – Dos 12 objetivos estratégicos gerais definidos para a Universidade como um todo, dois são voltados para a área de competência da PRPI: aprimorar as condições de infraestrutura e protocolos de pesquisa; e fortalecer a cultura do empreendedorismo e inovação. Esses também são os que encabeçam a lista dos dez objetivos específicos da pró-reitoria e são os pilares sobre os quais os outros se assentam.
Aprimorar os protocolos de pesquisa diz respeito, principalmente, à ideia de boas práticas que guiam a pesquisa na Universidade e garantem um nível de integridade e honestidade, crucial na atividade acadêmica. Sobre a questão de infraestrutura de pesquisa, nossos esforços são focados em infraestrutura que é de uso comum e que não está relacionada a um projeto específico. Isso reflete uma postura que temos adotado nesta gestão, que é a de não competir com as agências de fomento – que possuem linhas de financiamento para equipamentos e insumos para pesquisa –, mas sim garantir as condições para os pesquisadores instalarem adequadamente seus laboratórios, seus equipamentos. Nossa responsabilidade é oferecer condições para que os pesquisadores usem bem os recursos que eles obtiveram das agências de fomento. Temos lançado, sistematicamente, editais com essa perspectiva.
O segundo objetivo primordial da PRPI é o fortalecimento da cultura de empreendedorismo e inovação na Universidade. Não se trata apenas de disseminar, na comunidade interna, a importância da conexão da Universidade com o setor externo; é também mostrar para a sociedade a importância do conhecimento gerado aqui. As universidades são cruciais para a prosperidade das sociedades e não podemos nos furtar desse papel. A USP tem uma visão bem centrada do que é inovação: a partir de ideias, gerar um impacto benéfico na sociedade, isso é inovação. Desde 2022, concluímos que inovação não era originalmente, mas se tornou uma atividade-fim, uma das missões da Universidade, por isso, promover essa cultura de inovação é muito importante.
Jornal da USP – Que ações a Pró-Reitoria de Pesquisa e Inovação já vem desenvolvendo para alcançar esses objetivos?
Paulo Nussenzveig – Entre as ações que já estão implantadas na PRPI, em termos de aprimorar as condições de infraestrutura, os destaques são a criação do Programa de Incentivo à Demanda por Auxílios (Pida), que complementa verbas e incentiva a solicitação de auxílios para a Fapesp e agências internacionais de fomento, e o Escritório para Auxílios Internacionais (Grant Office), que identifica oportunidades de financiamento que, eventualmente, passariam despercebidas, fazendo uma curadoria dos editais e chamando a atenção de setores da Universidade que teriam capacidade para concorrer a financiamentos externos.
No que se refere aos protocolos de pesquisa, estamos implantando o Escritório de Integridade e Proteção da Pesquisa que deverá atuar na promoção da liberdade científica e de relações saudáveis entre pesquisadores e agentes externos, estabelecendo procedimentos para garantir a transparência das parcerias, mitigando e administrando conflitos de interesse e conscientizando sobre os riscos e as responsabilidades das atividades de pesquisa e inovação. O conhecimento é algo valioso no século XXI e nós somos uma instituição de geração de conhecimento, de transmissão de conhecimento, de troca. Temos a responsabilidade de evitar o mau uso do conhecimento que é gerado aqui.
Jornal da USP – Quais são os próximos passos da PRPI em relação aos objetivos?
Paulo Nussenzveig – Temos uma tarefa imediata que é apresentar, até dezembro, os indicadores de evolução na obtenção dos objetivos estratégicos e o cronograma do que será realizado até o final de 2025. Mas também temos que estabelecer as ações necessárias para avançar nesses objetivos nos próximos cinco anos, mais ou menos. Muito do que está colocado vai transcender esse prazo e é nossa responsabilidade garantir a continuidade dessas ações.