
“Os diretores desses seis institutos têm se encontrado para discutir diferentes formas de interação e, como todos nós estávamos preparando as comemorações dos 50 anos, surgiu a ideia de organizarmos uma congregação conjunta”, explicou o diretor do Instituto de Biociências, Marcos Silveira Buckeridge, que falou em nome dos diretores.
O grupo se autodenomina informalmente de “Clube do Matão” – uma referência à Rua do Matão, na Cidade Universitária, endereço da maior parte dessas unidades. “O fato de estarmos só seis institutos aqui nessa congregação conjunta não significa que o Instituto de Geociências e o Instituto de Oceanografia também não possam fazer parte do Clube do Matão, eles são muito bem-vindos”, brincou Buckeridge.
Originados pelo desmembramento da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras, em 1969, os seis institutos se desenvolveram, ganharam importância e se tornaram centros de pesquisa em ciência básica reconhecidos internacionalmente. Juntos, eles abrigam mais de 8 mil alunos, mil funcionários e 700 docentes, e publicam, em média, 2.200 trabalhos, com 147 mil citações por ano.
“A excelência desses institutos começou a ser construída há mais de 85 anos, antes mesmo do surgimento da USP, dentro das faculdades profissionais que já existiam no Estado de São Paulo. Em 1934, a criação da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras trouxe o espírito de uma universidade voltada para a pesquisa e o ensino de excelência, mas foi em 1969, com a reforma universitária, que a USP se consolidou e houve uma mudança radical na formação multidisciplinar”, ressaltou o reitor Vahan Agopyan.
A Congregação Conjunta foi realizada na manhã do dia 16 de dezembro, na Sala do Conselho Universitário, e contou com a presença de dirigentes, docentes, pesquisadores e funcionários das seis unidades.
Homenagens
Durante a congregação conjunta, três ex-reitores da USP, oriundos dos institutos, foram homenageados e falaram sobre o passado, o presente e o futuro das unidades: José Goldemberg, professor do Instituto de Física e reitor de 1986 a 1990; Flávio Fava de Moraes, professor do Instituto de Ciências Biomédicas e reitor de 1993 a 1997; e Adolpho José Melfi, professor do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas e reitor de 2001 a 2005.
Também foram homenageados os professores que contribuíram para o desenvolvimento de seus Institutos e para a construção de uma sociedade mais justa, ética e produtiva. O Instituto de Biociências homenageou o professor Paulo Sawaya, primeiro diretor da Unidade; o Instituto de Ciências Biomédicas homenageou o professor Crodowaldo Pavan; o Instituto de Química, o professor Paschoal Senise, primeiro diretor da Unidade; o Instituto de Física, o professor Oscar Sala; o Instituto de Matemática e Estatística, o professor Chaim Samuel Hönig; e o Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas, o professor Abrahão de Morais.
[cycloneslider id=”congregacao-conjunta”]Reforma progressista
O Decreto 52.326, assinado pelo então governador Roberto Costa de Abreu Sodré em 16 de dezembro de 1969, aprovou o novo estatuto da Universidade que, entre outras mudanças, determinava a extinção do sistema de Cátedras vitalícias e o desmembramento da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras (FFCL), dando origem à Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH), ao Instituto de Psicologia (IP), à Faculdade de Educação (FE) e aos institutos básicos, encarregados pelo ensino e pesquisa nas matérias básicas.
Apesar de ter encontrado resistência, a reforma universitária acabou introduzindo uma nova estrutura organizacional, curricular e política na USP, dinamizando o ensino e ampliando a capacidade da Universidade.
O ex-reitor José Goldemberg lembrou que “o ambiente em que ocorreu a reforma, há 50 anos, era completamente diferente do que nós temos hoje. Vivíamos em pleno Regime Militar, havia muita inquietação dentro das universidades e era difícil compreender o que significava de fato uma reforma universitária. Para muitos, ela foi vista como uma maneira de enfraquecer a Faculdade de Filosofia, que concentrava o maior número de críticos ao regime. Curiosamente, a reforma acabou se revelando uma mudança progressista, que reorganizou a Universidade, criou os institutos de pesquisa em ciências básicas e possibilitou que a USP se transformasse na universidade que é hoje”.
Goldemberg foi o primeiro diretor do Instituto de Física e ocupou o cargo entre os anos de 1970 e 1974.
“Isso mostra que o conhecimento produzido é líquido e não pode ser fragmentado. Não há como deter o avanço intelectual e da ciência. É com conhecimento e com base científica que podemos ajudar os formadores de políticas públicas a construir um país mais justo e democrático”, afirmou Buckeridge.