Raízes do protesto negro no Brasil são expostas em seminário na USP e curso on-line

Peso do passado escravista na formação do Brasil é analisado a partir da obra de Clóvis Moura em curso de curta duração; seminário gratuito apresenta o pensamento “moreano” ao público

 29/02/2024 - Publicado há 9 meses
Brasil: as raízes do protesto negro, de Clóvis Moura – Fotomontagem de Jornal da USP com imagens de Divulgação/Editora Dandara e Vectonauta/Freepik

 

Começa no dia 9 de março um curso on-line, de curta duração, que aborda temas fundamentais do livro Brasil: as raízes do protesto negro, de Clóvis Moura. No curso, serão discutidos temas como a escravidão na formação do capitalismo brasileiro e o negro no pensamento social do Brasil.

As aulas acontecerão aos sábados, de 9 a 30 de março, e contarão com professores convidados, entre eles: Ana Paula Procópio da Silva, da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ); Petrônio Domingues, da Universidade Federal de Sergipe (UFS); Gabriel dos Santos Rocha e Dennis de Oliveira, ambos da USP. Para participar, é necessário se inscrever neste formulário.

Joselicio Junior, diretor editorial da Dandara Editora, que relançou a obra Brasil: as raízes do protesto negro, de Clóvis Moura – Foto: Arquivo Pessoal

Para abrir as atividades do curso, a Editora Dandara e a Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) promovem um seminário gratuito, aberto ao público, apresentando o pensamento de Moura. O seminário acontece no dia 6 de março, quarta-feira, às 17h30, no auditório 8 do prédio das Ciências Sociais, na FFLCH. Não é necessário se inscrever para participar.

“O Clóvis Moura é um dos grandes pensadores brasileiros. Dedicou um vida para compreender as bases da formação social do País, tendo como uma de suas contribuições olhar para as sujeitas e os sujeitos que protagonizaram as formas de organização popular que dinamizaram os conflitos e interesses de classes, como os quilombos e o associativismo negro no pós-abolição”, afirma Joselicio Junior, doutorando em Mudança Social e Participação Política pela Escola de Artes, Ciências e Humanidades (EACH) da USP e diretor editorial da Dandara, editora que promove o curso.

“Sem contar a contribuição nos campos da sociologia, historiografia, antropologia, estudos culturais, dentre outros. É motivo de muita satisfação reeditar e fazer circular o pensamento moreano”, diz.

Protesto Negro

“Tudo gira em torno da obra do Clóvis Moura, Brasil: as raízes do protesto negro”, conta Junior. A obra, originalmente publicada em 1983 pela Global Editora, foi reeditada em 2023 pela Dandara Editora.

De acordo com a divulgação, trata-se de uma coletânea de textos escritos entre 1964 e o início dos anos 1980 que reúne tópicos centrais da agenda intelectual e política do autor. Começando pelo peso do passado escravista na formação social do Brasil contemporâneo, o autor discute o papel do racismo como ideologia de dominação no chamado capitalismo dependente, que aqui se estabeleceu no Brasil após a abolição. Outros tópicos da obra em destaque no curso são a forma como o negro é tematizado no pensamento social brasileiro, além dos diversos matizes do protesto social negro no passado e no presente.

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“Nessa obra, ele aborda um conjunto muito variado de temas, mas eu pretendo evidenciar o quanto a relação entre negritude, estética e revolução é um debate caro para se pensar as características do movimento negro contemporâneo; o quanto que a noção de Teoria da Revolução Brasileira do Clóvis Moura pressupõe uma diferença na forma como outros autores discutem esse ponto, em especial Caio Prado Júnior, mas também Florestan Fernandes”, explica Marcio Farias, professor convidado do Centro de Estudos Latino-Americanos sobre Cultura e Comunicação (Celacc) da USP, que fará sua apresentação no seminário do dia 6 de março.

Nascido em 1925 e falecido em 2003, Clóvis Moura é considerado um intérprete do Brasil. “Um intelectual negro e marxista, que colocou o protesto negro – desde a escravidão ao capitalismo pós-abolição – no centro da análise sobre o processo histórico brasileiro. Publicou mais de 20 livros, a maioria no campo da História e da Sociologia, mas também foi poeta, crítico literário e jornalista de profissão”, afirma Gabriel Rocha, doutorando no Programa de História Econômica da USP e organizador de ambos os eventos.

“[Moura] foi uma referência importante para o movimento negro, sobretudo a partir dos anos 1970, assim como Lélia Gonzalez, Beatriz Nascimento, Tereza Santos, Joel Rufino dos Santos e Abdias do Nascimento”, destaca.

O curso será ministrado em formato virtual com quatro encontros de até três horas. As aulas ao vivo ocorrerão aos sábados, mas também serão gravadas e ficarão disponíveis para as pessoas inscritas, que terão certificados disponibilizados. O investimento no curso varia de R$70 a R$160, podendo incluir um livro e uma bolsa de inscrição solidária.

Curso on-line Brasil: as raízes do protesto negro – Clóvis Moura

Quando: das 10 horas às 13 horas, nos dias 9, 16, 23 e 30 de março

Valor: de R$ 70 a R$ 160

Inscrições pelo formulário on-line

Seminário Clóvis Moura – Brasil: as raízes do protesto negro

Quando: quarta-feira, 06/03, às 17h30

Onde: Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP, prédio das Sociais, Auditório 8

Gratuito e sem inscrição

Cartaz de divulgação do seminário "Clóvis Moura - Brasil: Raízes do Protesto Negro", na FFLCH, USP
Cartaz de divulgação do evento – Imagem: Divulgação/FFLCH-USP

 


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