Conheça cinco compositoras que passaram pelo curso de Música da USP

Essas mulheres compositoras desenvolvem trabalhos para orquestras, cinema, teatro e dança, pesquisam sonoridades e trabalham com música experimental

 Publicado: 10/03/2025 às 17:49
Da esquerda à direita: Silvia Berg, Denise Garcia, Fernanda Aoki Navarro, Silvia Ocougne e Valéria Bonafé – Fotos: USP Imagens; CV Lattes; Reprodução/Fernanda Aoki Navarro; Renata Cheiri/Oxuma; CV Lattes

Apesar das divas pop e as grandes intérpretes da MPB darem visibilidade ao gênero feminino, o mundo da música continua sendo muito masculino, inclusive na seara da música erudita. Segundo o relatório Mulheres na música, divulgado pelo Ecad no último sábado (8) para marcar o Dia Internacional da Mulher, apenas 8,4% dos beneficiados com rendimentos de direitos autorais de músicas no Brasil em 2024 eram do gênero feminino. Em um universo de 345 mil compositores, intérpretes, músicos, editores e produtores fonográficos que receberam pela execução pública de seus trabalhos, apenas 29 mil são mulheres.

Mesmo diante dessa enorme disparidade, as mulheres seguem compondo, produzindo, criando e ensinando música, nos mais variados gêneros. O Jornal da USP destaca a trajetória de cinco mulheres compositoras que passaram pelos bancos do curso de Música da USP. Seus trabalhos vão da composição para orquestras à música experimental, passando pelo teatro, pela performance e pela pesquisa acadêmica.

Silvia Berg

Compositora, regente premiada e professora da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto (FFCLRP) da USP, Silvia Berg se formou em Música pela Escola de Comunicações e Artes (ECA) da USP e viveu por 24 anos na Dinamarca, tendo aprimorado seus estudos em regência na Universidade de Copenhague e na Universidade de Oslo, esta na Noruega. Foi fundadora e regente do Ensemble Øresund, destinado à pesquisa de música contemporânea, e esteve à frente do Ensemble AmaCantus, ambos da Dinamarca. Durante o período em que viveu na Europa, Silvia trabalhou com o cancioneiro de Gilberto Mendes e realizou mais de 200 concertos. Retornou ao Brasil em 2008, ano em que passou a integrar o corpo docente da USP. Suas composições já foram tocadas em festivais na América Latina, Estados Unidos e Europa. Foi a primeira chefe do Departamento de Música da FFCLRP, de 2011 a 2013.

Veja neste vídeo a orquestra USP Filarmônica, formada por estudantes da FFCLRP, tocando Canção de Outono, composição de Silvia Berg:

Denise Garcia

Formada em Música pela ECA em 1985, Denise Garcia fez mestrado em Artes na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e doutorado em Semiótica na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). Também realizou estudos de composição na Academia de Música Detmold e na Escola de Música de Munique, ambas na Alemanha. Ela dedica sua pesquisa e grande parte de sua produção à música eletroacústica, que combina sons eletrônicos com acústicos e pode incluir tanto gravações de instrumentos tradicionais quanto sons sintetizados e processados eletronicamente. Professora da Unicamp, Denise tem um trabalho de pesquisa interdisciplinar junto ao Lume Teatro, tendo composto para produções teatrais desse núcleo e colaborado com o departamento de dança de seu instituto. Ela tem dois discos solo publicados e várias publicações de obras em coletâneas. Denise também compôs obras para orquestras sinfônicas.

Ouça a seguir a peça Trem-pássaro, de Denise Garcia, na qual sons de pássaros e de trem se combinam para formar uma paisagem sonora:

​Fernanda Aoki Navarro

Artista, compositora e educadora, Fernanda Aoki Navarro se formou em composição na ECA e fez o doutorado no Instituto Radcliffe de Estudos Avançados da Universidade Harvard, nos Estados Unidos. Atualmente, é professora assistente na Universidade do Estado do Arizona. Fernanda trabalha com música acústica e eletroacústica, intermídia, instalações e performances. Seus trabalhos incluem música de câmara, peças para solos de diferentes instrumentos, instalações, performances e trilhas sonoras para cinema e teatro. Suas composições já foram executadas em vários países. Recentemente, Fernanda compôs a peça Sisyphus para a Chicago Composers Orchestra, que apresentou o programa nos EUA em 2024. Nas notas do programa (em inglês), a compositora discute os sentidos do mito grego sobre o trabalho de Sísifo e faz uma crítica ao status quo machista e eurocêntrico da música de orquestra. Fernanda também trabalha como produtora, organizadora e curadora de festivais de música contemporânea.

Veja a pianista Ashley Zhang interpretando Still and Still, composição de Fernanda Aoki Navarro:

Silvia Ocougne

A violonista, compositora e improvisadora Silvia Ocougne se formou em Música na ECA, onde foi colega de Silvia Berg e Denise Garcia. Fez mestrado no New England Conservatory em Boston, nos Estados Unidos. Em 1987, mudou-se para Berlim, na Alemanha, onde conheceu seus parceiros violonistas Carlo Domeniconi e Chico Mello. Silvia tem uma história curiosa sobre sua mudança para a Alemanha. A compositora desembarcou em Berlim com seus violões, violas caipiras e uma craviola. Devido ao tempo seco do inverno alemão, uma parte desses instrumentos acabou entortando e quebrando. Em vez de se desfazer dos instrumentos, Silvia decidiu modificá-los e utilizá-los para explorar novos sons para composições de música experimental. Suas composições englobam ensemble, solos, instalações, trilha sonora e música para filmes, dança e teatro. Em 2017, ela fundou o ensemble Imaginäre Musik, no qual os músicos integrantes tocam instrumentos criados por eles mesmos, geradores de som e objetos variados.

Veja performance de Silvia Ocougne em festival realizado em maio de 2021 na Akademie der Künste, em Berlim:

​Valéria Bonafé

Artista, pesquisadora e educadora, Valéria Bonafé é integrante do Núcleo de Pesquisa em Sonologia (NuSom), sediado na ECA. Valéria estudou Música na USP e também foi aluna da Universidade Estadual de Música e Artes Cênicas de Stuttgart, na Alemanha. Foi professora na Escola de Música do Estado de São Paulo – Emesp Tom Jobim. Como artista, trabalha com composição de música vocal, instrumental e eletroacústica e colabora regularmente com solistas, grupos de câmara e orquestras. Como pesquisadora, atua nas áreas de composição musical, análise musical, estudos do som e feminismos. Seus projetos mais recentes tratam de assuntos como sonoridade, oralidade, memória e afeto e cartografia sonora. É fundadora da Sonora: Músicas e Feminismos, uma rede colaborativa de artistas e pesquisadoras interessadas em manifestações feministas no contexto das artes.

Ouça Mãe-maré, peça de Valéria Bonafé para trio de cordas e piano que usa também sons de vidros, vozes gravadas e dispositivos de reprodução sonora:

*Com informações de Lorenzo Souza, do Laboratório Agência de Comunicação (LAC) da ECA

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