
Neste fim de semana, a Orquestra de Câmara da USP, formada por estudantes do Departamento de Música da Escola de Comunicações e Artes (ECA) da USP, se encontra com a Orquestra Mundana Refugi – composta de músicos brasileiros, imigrantes e refugiados de diversas partes do mundo –, numa interação entre vozes de diferentes culturas e formas musicais, do timbre à performance.
Os dois grupos, juntos, farão duas apresentações: nesta sexta-feira, dia 24, às 21 horas, no Auditório Ibirapuera, e neste domingo, dia 26, às 17h30, em formato pocket-show, no Instituto Tomie Ohtake, como parte da programação da exposição Histórias Afro-Atlânticas, em cartaz no local.
No palco, 68 músicos vindos do Irã, Congo, Síria, Palestina, França, Cuba, Guiné, Venezuela, Equador, Chile e Brasil interpretam repertório que mistura erudito e popular e inclui vários tipos de instrumentos: kanun, acordeom, piano, violino, bateria, percussão, cítara chinesa e bouzouki, entre outros, além de cantores como a palestina Oula Al-Saghir e a iraniana Mah Mooni.
Segundo o maestro Gil Jardim, regente da Ocam, que acompanha há anos o trabalho da Orquestra Mundana e de seu regente, o multi-instrumentista paulistano Carlinhos Antunes, “esse encontro acontece no campo da música, mas naturalmente transcende essas fronteiras artísticas e vai para uma questão que é social e mundial”.
A Mundana Refugi foi formada ao longo de dois meses dentro do projeto Refugi, idealizado por Carlinhos Antunes e pela assistente social Cléo Miranda, que oferecia oficinas musicais gratuitas no Sesc Consolação voltadas a imigrantes e refugiados. Ela sucedeu a Orquestra Mundana, que atuou durante 15 anos.

O repertório inicia com a Bachianas Brasileiras IV, de Villa-Lobos, e encerra com Caravanas, de Chico Buarque de Holanda, ora com todos os músicos no palco, ora com uma das duas orquestras, passando por Guerra-Peixe, com Tributo a Portinari, “que fala sobre os imigrantes brasileiros”, como ressalta Gil Jardim, Danças Romenas, de Bela Bartók, além de Samai Atlântico, do tunisiano Raouf Jemni, e Mungu de cá, de Carlinhos Antunes. Há ainda temas musicais sírios, árabes, ritmos africanos, além de novos arranjos do próprio Gil Jardim e de Daniel Muller. Projeções da websérie Retrato Social, de Regina Moraes e Fabi Zanin, ilustram o concerto ao lado de quadros de Portinari.
“A todo momento estamos no Brasil e em outras partes do mundo, mas sem purismos. Claro que com respeito à cultura do outro, mas com junções de ritmos e sotaques. E esse é o propósito do espetáculo, a música abraçando a todos de uma única forma”, conta o maestro, lembrando que a terminologia popular e clássica não vale nesse espetáculo. “A música indiana é a sua música clássica, que parece popular mas é clássica. Esse âmbito é permeável, as culturas se confundem e se aproximam”, explica o maestro. “Não só as fronteiras sociais ficam diluídas nesse abraço, mas as questões estéticas também. Isso é uma preciosidade”, ressalta Jardim.
“Para os bolsistas da Ocam é um crescimento que vai além da prática musical, trazendo uma grande reflexão sobre a questão do refugiado”, diz o maestro, citando uma frase de Carlinhos Antunes: “Temos que estar dispostos a ser ignorantes com a cultura alheia”. Segundo Jardim, “essa percepção traz um respeito de partida. O ouvir é algo muito importante em um encontro como esse.”
Os concertos da Orquestra de Câmara (Ocam) da Escola de Comunicações e Artes (ECA) da USP e da Orquestra Mundana Refugi acontecem nesta sexta-feira, dia 24, às 21 horas, no Auditório Ibirapuera (Avevenida Pedro Álvares Cabral, s/nº, portão 2, Parque Ibirapuera, em São Paulo), com ingressos a R$ 30,00 e R$ 15,00, e neste domingo, dia 26, às 17h30, no Instituto Tomie Ohtake (Rua dos Coropés, 88, Pinheiros, em São Paulo), com entrada gratuita. Mais informações no Facebook.