Quando o sol se põe e a escuridão surge, o que acontece com aqueles que continuam acordados? É o que se propõe a investigar a nova mostra do Cinema da USP Paulo Emilio (Cinusp), Uma Noite Não É Nada, que apresenta 21 longas-metragens com histórias que se passam durante o período noturno e que fica em cartaz até 22 de dezembro.
A noite no cinema, segundo a equipe do Cinusp, faz com que o espectador mergulhe “na sala escura para experimentar a eternidade fugidia das narrativas de personagens presos entre o breu silencioso, a vigília dos apartamentos acesos e a pulsação das luzes das ruas”. Na Sala Paulo Emilio, instalada no Centro Cultural Camargo Guarnieri, na Cidade Universitária, e na Sala Carlos Reichenbach, localizada no Centro MariAntonia, na região central de São Paulo – onde a mostra pode ser aproveitada – o público tem contato com “histórias passadas nessas horas insones, que por mais efêmeras que sejam podem dizer muito sobre a vida de seus habitantes notívagos”.
O iraniano Tijolo e Espelho (1964), do diretor Ebrahim Golestan, apresenta o dilema de um casal ao se confrontar com a decisão de manter ou se livrar de um bebê, abandonado no banco de trás do táxi do protagonista, após uma corrida noturna.
Em Eu Sei Que Vou Te Amar (1986), de Arnaldo Jabor, outro casal protagoniza a cena. Mas desta vez o dilema envolve questões do próprio relacionamento, que, recém-terminado, ainda evoca questões e emoções do passado dos personagens. A temática reaparece em Quem Tem Medo de Virginia Woolf? (1966), clássico do cinema estadunidense do então estreante diretor Mike Nichols.
Grandes nomes da direção hollywoodiana também estão presentes. É o caso de Martin Scorsese, com o sucesso de crítica Depois de Horas (1985), comédia que explora a noite nova-iorquina. O sucesso do longa foi tanto que inspirou outras obras e cineastas, como Bom Comportamento (2017), dos irmãos Benny Safdie e Josh Safdie, que acompanha Robert Pattinson no papel de Constantine Nikas em uma Nova York turbulenta e perigosa.
A noite é referenciada em outros longas apresentados na mostra – inclusive nos próprios títulos. O angustiante italiano A Noite (1961), de Michelangelo Antonioni, o enérgico japonês Até a Meia-Noite (1999), de Makoto Wada, e o sentimental belga Toda Uma Noite (1982), de Chantal Akerman, trazem a temática já em seus nomes.
A vida noturna também surge acompanhada de tabus da sociedade, como em Simone Barbès ou a Virtude (1980), da francesa Marie-Claude Treilhou, que apresenta o cotidiano de uma lanterninha de cinema pornô e suas interações com os visitantes. O cinema também é explorado em Adeus, Dragon Inn (2003), no qual o taiwanês Tsai Ming-Liang, narrativamente, explora as salas de exibição em uma história que acompanha a última sessão de um cinema decadente em Taipei. O filme assistido pelos personagens, aliás, também será exibido: A Estalagem do Dragão (1967), de King Hu, é um clássico das artes marciais que remonta ao período imperial chinês.
E, em meio a tantos breus cinematográficos, nada melhor do que um Noitão em 4K para aproveitar. O tema da vez é John Carpenter, diretor de obras como A Bruma Assassina (1980), Assalto à 13ª DP (1976), Enigma de Outro Mundo (1982) e Fuga de Nova York (1981), que serão exibidas no dia 15, sexta-feira. A noite termina com a exibição do clássico do terror que deu origem à franquia de Michael Myers, Halloween – A Noite do Terror (1978).
O francês Ascensor para o Cadafalso (1958), de Louis Malle, o estadunidense Mikey e Nicky (1976), de Elaine May, e Festa (1989), do paulistano Ugo Giorgetti, também serão exibidos em Uma Noite Não É Nada. Os Rapazes da Banda (1970), de William Friedkin, que marcou o cinema LGBTQIA+ estadunidense, e o thriller de Michael Mann Colateral (2004) completam a programação da mostra. “Os protagonistas desses filmes estão diante de um mundo fora do ordinário, em que as normas diurnas se tornam difusas e coisas incomuns podem acontecer”, escreve a equipe do Cinusp sobre os longas.
A mostra Uma Noite Não É Nada, do Cinema da USP Paulo Emilio (Cinusp), fica em cartaz de 4 a 22 de dezembro, na Sala Paulo Emilio (Rua do Anfiteatro, 181, na Cidade Universitária, em São Paulo) e na Sala Carlos Reichenbach, do Centro MariAntonia da USP (Rua Maria Antônia, 294, Vila Buarque, próximo às estações Santa Cecília e Higienópolis-Mackenzie do Metrô). Entrada grátis. A programação completa do evento e mais informações estão disponíveis no site do Cinusp.