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“O culto à ideia de liberdade – seja ela política ou no âmbito individual – sempre ocupou um espaço visceral dentro do imaginário latino-americano, sobretudo naquele que compreende as nações de língua espanhola. Mais do que em qualquer parte, portanto, na América hispânica termos como ‘emancipação’ e ‘independência’ adquirem um sentido profundo e simbólico, de algo em permanente processo.”
Essas são as palavras com que o editor Jurandir Renovato abre o número 130 da Revista USP – publicação trimestral da Superintendência de Comunicação Social (SCS) da USP -, dedicado às independências latino-americanas, que acaba de ser lançado. Conforme aponta Renovato, os sete artigos que compõem o dossiê buscam apreender as formas da construção dessa identidade latino-americana. A organização dos textos ficou a cargo da professora Gabriela Pellegrino Soares, do Departamento de História da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP, e do doutorando Rafael Dias Scarelli, também da FFLCH.
“Este dossiê volta-se ao momento presente, em que se comemora, com uma diferença de poucos anos entre a efeméride de cada país, o bicentenário dos processos de independência e de emergência dos Estados nacionais na América Latina”, escrevem os organizadores. “Do grito do Ipiranga, no Brasil, ao grito de Dolores, no México, as independências latino-americanas foram marcadas por episódios emblemáticos, cristalizados na memória nacional como um momento ‘fundacional’ e fixados como datas cívicas no calendário de cada país. Entretanto, mais do que acontecimentos decisivos em si para o desfecho da luta emancipacionista nas distintas porções da América colonial, esses eventos e seus protagonistas foram constituídos enquanto tais após um longo processo de seleção e elaboração, atravessado por intensos debates.”
O primeiro artigo do dossiê, Irradiar a Independência do México para a População, é assinado por Laura Suárez de la Torre. Nele, a autora investiga as tensões na construção das narrativas sobre o processo de independência mexicana. Já em Y al Morir al Hombre Enseña, Bruno Verneck aborda as representações sociais e políticas contidas em três peças teatrais sul-americanas produzidas entre 1817 e 1821.
Por sua vez, no artigo Demarcações da Cidadania nos Gêneros Menores, Elisabet Prudant e Natalia López Rico tratam do surgimento da cidadania como categoria política moderna em panfletos publicados no Chile durante o processo revolucionário e os anos inaugurais da República. Já Rafael Scarelli, um dos organizadores do dossiê, assina O Peru Entre dois Generais, texto que aborda o lugar de Simón Bolívar e José de San Martín nas narrativas sobre a independência peruana.
Outro artigo do dossiê, Esculpir a Memória, compara projetos de monumentos cívicos em São Paulo e Buenos Aires, por ocasião de seus respectivos centenários de independência. A autora, Michelli Scapol Monteiro, se debruça sobre as estratégias das elites dirigentes dos dois países para dar materialidade à memória de suas independências.
Simón Bolívar retorna no artigo de Fabiana de Souza Fredrigo e Gabriela Pellegrino Soares, co-organizadora do dossiê. Em “Apropria-te de Mim e Refaz a Independência Sempre que Preciso”: a Polissemia e a Longevidade do Culto Bolivariano, as autoras discorrem sobre a memória polissêmica de Bolívar, personagem central das guerras de independência na América Espanhola. Fecha a seleção de artigos As Últimas Independências na América do Sul, de Iuri Cavlak, que aborda a emancipação da Guiana e do Suriname, na segunda metade do século 20.
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Completam a nova edição da Revista USP textos do professor da Escola de Comunicações e Artes (ECA) da USP Jean Pierre Chauvin sobre o poeta João Cabral de Melo Neto, do professor da Faculdade de Educação (FE) da USP Aleksandar Jovanović sobre Sándor Csoma Kőrösi, primeiro especialista ocidental na língua e na cultura tibetana, e de Marcelo Módolo e Alfredo Vital Oliveira, respectivamente professor e doutorando do Departamento de Letras Clássicas e Vernáculas da FFLCH, sobre a redação do Enem.
“Às vésperas das comemorações do Bicentenário da Independência, da nossa Independência, a expectativa, como bem lembraram os organizadores na Apresentação, é que este conjunto de textos ajude a refletir sobre uma história que, para todos os efeitos, também é a nossa”, pontua o editor Jurandir Renovato.
Revista USP, número 130, publicação da Superintendência de Comunicação Social (SCS) da USP. A revista está disponível gratuitamente neste link.