Revista USP – Número 130 – julho/agosto/setembro 2021 Editora: SCS/USP Idioma: Português Confira abaixo os artigos deste número e dos anteriores. A Revista USP também oferece acesso livre imediato ao seu conteúdo no Portal de Revistas da USP, seguindo o princípio de proporcionar maior democratização mundial do conhecimento

independências latino-americanas

Os processos de emancipação política e a memória nacional

O culto à ideia de liberdade – seja ela política ou no âmbito individual – sempre ocupou um espaço visceral dentro do imaginário latino-americano, sobretudo naquele que compreende as nações de língua espanhola. Mais do que em qualquer parte, portanto, na América hispânica termos como “emancipação” e “independência” adquirem um sentido profundo e simbólico, de algo em permanente processo. E em que pesem as diferenças e idiossincrasias presentes em cada região, a lembrar o escritor Gabriel García Márquez, que, no seu discurso ao receber o Nobel, sobre a solidão na América Latina, diz que os estragos da vida não são iguais para todos, a busca de uma identidade própria parece sempre trilhar os mesmos caminhos, como ele apontou, árduos e sangrentos. No vórtice dessa busca é que assoma a figura do herói libertador, seja a de Simón Bolívar, de San Martín, Hidalgo ou de tantos outros.

Pois assim chegamos a este dossiê “Independências Latino-Americanas”, no qual seus autores tentam capturar a maneira como se procedeu (ou se procede) a construção dessa identidade por meio da memória dos seus heróis, pelo modo como, ao longo do tempo, foram eleitos e representados. O dossiê, composto de sete artigos, foi organizado pela professora Gabriela Pellegrino Soares, do Departamento de História da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo, e por Rafael Dias Scarelli, doutorando da mesma FFLCH/USP. Ambos também assinam textos dentro do dossiê. Às vésperas das comemorações do Bicentenário da Independência, da nossa independência, a expectativa, como bem lembraram os organizadores na Apresentação, é que este conjunto de textos ajude a refletir sobre uma história que, para todos os efeitos, também é a nossa.

Boa leitura.

Jurandir Renovato

Apresentação

Este dossiê volta-se ao momento presente, em que se comemora, com uma diferença de poucos anos entre a efeméride decada país, o bicentenário dos processos de independência e de emergência dos Estados Nacionais na América Latina. Do grito do Ipiranga, no Brasil, ao grito de Dolores, no México, as independências latino-americanas foram marcadas por episódios emblemáticos, cristalizados na memória nacional como um momento “fundacional” e fixados como datas cívicas no calendário de cada país. Entretanto, mais do que acontecimentos decisivos em si para o desfecho da luta emancipacionista nas distintas porções da América colonial, esses eventos e seus protagonistas foram constituídos enquanto tais após um longo processo de seleção e elaboração, atravessado por intensos debates.

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                                                                                                                 Gabriela Pellegrino Soares
Rafael Dias Scarelli

  

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Este artigo lança luz sobre diferentes suportes impressos que se prestaram à construção de narrativas sobre os movimentos independentistas que deram origem ao México. Dos calendários aos catecismos, desde cedo se demarcou o terreno dos repertórios simbólicos que balizariam os cidadãos na transição para uma nova ordem.

Palavras-chave: México; calendários e catecismos; construção simbólica.

This article sheds light on different supports upon which the accounts on Mexico independence were built. From calendários to catecismos, from the very beginning we can follow the rise of references that would place citizens in the arising new order.

Keywords: México; calendários to catecismos; symbolic construction. civilizatory project; emancipatory education.

A partir da análise de Camila o la patriota de Sudamérica, escrita por Camilo Henríquez em 1817, La Pola, escrita por José Domínguez Roche em 1820, e Túpac Amaru, escrita por Luis Ambrósio Morante em 1821, o presente trabalho busca indagar as relações entre teatro e política no período das guerras de independência. O objetivo do texto é mostrar como os dramaturgos articulam a forma do drama ao discurso cívico-patriótico de modo a construir o conceito
de pátria do ponto de vista criollo e sempre refratário à ameaça espanhola.

Palavras-chave: independência; teatro; política; patriotismo

From the analysis of Camila o la patriota de Sudamérica, written by Camilo Henríquez in 1817, La Pola, by José Domínguez Roche in 1820, and Túpac Amaru, by Luis Ambrósio Morante in 1821, the present study seeks to investigate the relation between theater and politics during the Spanish American wars of independence. The goal of the text is to show how the playwrights articulated the form of drama to the civic-patriotic discourse to construct the concept of homeland from a creole’s point of view and always resistant to the Spanish threat.

Keywords: independence; theater; politics; patriotism

O presente artigo indaga sobre o surgimento da cidadania como categoria política moderna no alvorecer das repúblicas latino-americanas, especificamente no Chile pós-revolucionário. Para tanto, analisa-se um conjunto de impressos publicados entre 1810 e 1829 – bandos, panfletos e catecismos – denominados gêneros menores, nos quais são invocadas formas flexíveis de cidadania que ganharam contornos específicos em sua relação com a figura do soldado e do patriota-cristão. Desse modo, as primeiras formas de cidadania moderna necessariamente conjugaram elementos comunitários do Antigo Regime e do bem comum do republicanismo clássico.

Palavras-chave: cidadania; independência; impressos políticos; Chile

This article delves into the emergence of citizenship as a modern political category at the dawn of Latin American republics, especially in post-revolutionary Chile. To do that, a set of prints published between 1810 and 1829 have been analyzed, among them edicts, pamphlets and catechisms of so-called “minor genres” in which flexible forms of citizenship are brought about, with specific contours derived from their relationship with the soldier and the Christian patriot figures. Therefore, the first forms of modern  necessarily combine community elements from the Ancien Régime and notions of the common good found in classical republicanism.

Keywords: citizenship; independence; political prints; Chile.

Na Guerra de Independência peruana atuaram dois dos principais líderes militares sul-americanos do momento: os generais Simón Bolívar e José de San Martín. Enquanto San Martín proclamou a independência em 28 de julho de 1821, coube ao exército de Bolívar alcançar a vitória final contra as forças espanholas apenas três anos depois. Este artigo se propõe a examinar o lugar reservado a esses dois heróis nas narrativas construídas sobre a emancipação peruana ao longo do primeiro século da história republicana do país, partindo da análise de obras artísticas – especialmente, pinturas e esculturas – resultantes de encomendas oficiais.

Palavras-chave: Peru; Simón Bolívar; José de San Martín.

In the Peruvian War of Independence took part two of the main South American military leaders of the moment: Generals Simón Bolívar and José de San Martín. While San Mar tín proclaimed the independence on July 28, 1821, it was the Bolívar’s army that achieved the final victory against the Spanish forces just three years later. This article aims to analyze the place reserved for these two heroes in the narratives about the Peruvian political emancipation over the first century of the country’s republican history, focusing on artistic works – specially, paintings and sculptures – resulting from official commissions.

Keywords: Peru; Simón Bolívar; José de San Martín.

As celebrações dos centenários das independências na América Latina foram eventos oportunos para os governos dessas nações investirem na construção da identidade nacional por meio da edificação de monumentos cívicos nacionais. Este artigo discorre sobre dois desses projetos: o Monumento a la Revolución de Mayo, em Buenos Aires, de Luigi Brizzolara e Gaetano Moretti, e o Monumento à Independência do Brasil, em São Paulo, de Ettore Ximenes e Manfredo Manfredi. Evidenciando os sincronismos dessas propostas, pretende-se demonstrar os meios pelos quais segmentos das elites dirigentes da Argentina e do Brasil
procuraram dar materialidade a uma memória da independência.

Palavras-chave: escultura pública; monumento; Centenário da Independência; história urbana.

The Independence Centenary celebrations in Latin America were opportune events for the government of these nations to invest in the construction of the national through the edification of national civic monuments. This article discourse about two of these projects: the Monumento a la Revolución de Mayoin Buenos Aires, by Luigi Brizzolara and Gaetano Moretti, and the Monumento à Independência do Brasil, in São Paulo, by Ettore Ximenes and Manfredo Manfredi. By evidencing the similarities of these proposals, it intends to demonstrate how part of the political elite of Argentina and Brazil aimed to materialize an independence memory.

Keywords: public sculpture; monument; Independence Centenary; urban history.

Este artigo analisa o processo de construção de uma memória em torno de Simón Bolívar, uma memória polissêmica que articula os protagonistas da gesta independentista na Grã-Colômbia e a posteridade. Partimos da correspondência entre Simón Bolívar e Francisco de Paula Santander, visitamos a Colômbia e a Venezuela, contemplamos estátuas e ouvimos a Orquestra Sinfônica Simón Bolívar. Em todo esse percurso, problematizamos a polissemia do culto bolivariano, tendo em vista a centralidade das independências sul-americanas e suas implicações, tais como: o estabelecimento de uma cultura cívica republicana, a formação da comunidade de generais e a constituição da nação ideal, hojecapturada por  projetos políticos em cena na Venezuela e na Colômbia.

Palavras-chave: Simón Bolívar; Francisco de Paula Santander; correspondência; monumentos.

This article sheds light on the construction of memory regarding Simón Bolívar, a polysemic memory that intertwines the actors of the Gran Colombian independence war and posterity. We depart from letters exchanged between Simón Bolívar and Francisco de Paula Santander, visit Colombia and Venezuela, contemplate public monuments, and listen to the Simón Bolívar Symphonic Orchestra. Throughout this path, we discuss the polysemic construction of a place for Bolívar among national heroes, given the importance of the independence military campaigns in South America and their historical implications – among others, the building of a Republican civic culture, of a community of high commanders and of the notion of an ideal nation, later captured by political projects in Venezuela and Colombia.

Keywords: Simón Bolívar; Francisco de Paula Santander; letters; monuments.

Neste artigo, objetivo selecionar e discutir alguns aspectos do processo histórico de independência política da Guyana,
antiga Guiana Inglesa, ocorrida em 1966, e do Suriname, antiga Guiana Holandesa, ocorrida em 1975. A conjuntura da segunda metade do século XX, a formação multiétnica de cada sociedade e as tradições advindas de metrópoles não ibéricas são aspectos marcantespara as diferenças em relação aos demais processos de independência dos países sul-americanos.

Palavras-chave: Guyana, Suriname, independência, história

In this article, I aim to select and discuss some aspects of the historical process of political independence of Guyana, formerly English Guiana, which occurred in 1966, and Suriname, formerly Dutch Guiana, which occurred in 1975. The conjuncture of the second half of twentieth century, the multiethnic formation of each society and the traditions arising from non-Iberian metropolises are striking aspects for the differences in relation to other processes of independence in South American countries.

Keywords: Guyana; Suriname; independence; history

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