As sociedades contemporâneas são atingidas por diversas transformações econômicas, políticas e culturais, que influenciam diretamente as temáticas abordadas por pesquisadores na produção de conhecimento sociológico. O livro Sociologia Brasileira Hoje, que acaba de ser publicado pela Ateliê Editorial, visa a apresentar as mudanças ocorridas nessa área do conhecimento, buscando esclarecer tais modificações provocadas por transformações em escala global e nacional.
O projeto, derivado da Sociedade Brasileira de Sociologia, foi organizado pelos professores Sergio Miceli, docente titular do Departamento de Sociologia da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP, e Carlos Benedito Martins, da Universidade de Brasília (UnB). O livro é constituído de artigos sobre variados temas, que foram selecionados por possuírem vertentes inovadoras e de alta qualidade intelectual.
A obra reúne as visões de gerações distintas em torno dessas temáticas. Profissionais mais jovens foram responsáveis pela elaboração dos textos sobre cada área, enquanto debatedores veteranos expressaram os seus comentários a respeito do que foi apresentado ou agiram como coautores da produção.
São foco de análise os seguintes campos: sociologia econômica, sociologia da cultura, sociologia da violência, sociologia da sociologia – que busca refletir sobre a própria disciplina – e estudos de gênero.
O pesquisador André Vereta Nahoum, doutor em Sociologia pela USP, assina o artigo que inicia o livro, A sociologia econômica no Brasil: balanço de um campo jovem. Como indicado no título, Nahoum afirma que os estudos sociais da economia ainda são muito recentes no País, caracterizando-se como um campo com pouca autonomia. O sociólogo observa que a abordagem e a escolha temática nessa área estão muito vinculadas ao que se produz em centros consolidados no assunto, presentes nos Estados Unidos e na França. Entre outros objetivos, o autor se propõe a apontar o que há de mais relevante na produção na área, além de apresentar teses elaboradas no Brasil sobre o tema.
Os comentários sobre o conteúdo produzido por Nahoum são feitos por Roberto Grün, professor aposentado da Universidade Federal de São Carlos (Ufscar), com vasta experiência em sociologia econômica.
Marcelo da Silveira Campos, doutor em Sociologia pela USP, e Marcos César Alvarez, professor do Departamento de Sociologia da FFLCH, trazem no título do seu artigo, Políticas públicas de segurança, violência e punição, as três temáticas principais que apareceram nos estudos sobre violência no Brasil realizados entre 2000 e 2016. Os autores fizeram um levantamento a partir de pesquisas publicadas em periódicos científicos.
De acordo com o texto, a produção científica com esse enfoque foi intensificada após a criação de revistas especializadas no assunto e pelo aumento de pesquisas financiadas pelo governo. Sobre isso, os pesquisadores questionam a possível interferência estatal durante o desenvolvimento desses estudos:
Até que ponto essa aproximação não implicaria uma gradativa perda de autonomia dos pesquisadores da temática, no que diz respeito à formulação de problemas de pesquisa, escolha de perspectivas teóricas e emprego de técnicas de pesquisa?
Já em Estudos de gênero no Brasil: 20 anos depois são retratadas as transformações e a expansão do estudo de gênero nas duas últimas décadas. São observados o crescimento de pesquisas sobre o assunto, a relação da questão de gênero com outras categorias, como sexualidade, por exemplo, e a criação de diversos periódicos científicos voltados para essa discussão.
O artigo foi realizado por meio de uma parceria entre Isadora Lins França, professora do Departamento de Antropologia do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH) da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), e Regina Facchini, doutora em Ciências Sociais pela mesma instituição.
As autoras afirmam ser impossível fazer um balanço sobre o campo de gênero, devido à variedade de trabalhos na área. Apesar disso, buscam fornecer tendências presentes nos últimos anos, demonstrando tamanha contribuição para as ciências sociais. O trabalho foi comentado por Bila Sorj, professora do Departamento de Sociologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e coautora do balanço bibliográfico intitulado Estudos de Gêneros no Brasil, de 1999.
Também compõem o livro os artigos Sociologia da cultura no Brasil: uma interpretação e Histórias das ciências sociais brasileiras. O primeiro, de Dmitri Cerboncini Fernandes, doutor em Sociologia pela USP, aborda o processo de autonomização da sociologia da cultura no Brasil e, para isso, são interpretadas as produções de dois autores, a de Sergio Miceli e a de Renato Ortiz, professor da Unicamp. O segundo artigo faz um panorama histórico sobre a formação da área das ciências sociais e avalia como ocorreu esse processo, examinando diversas publicações sobre o assunto feitas entre 1985 e 2016. O artigo foi produzido por Luiz Carlos Jackson, professor de Sociologia da USP, e Darlan Praxedes Barbosa, pesquisador de mestrado em Ciências Sociais também pela USP.
Leia um pequeno trecho de Sociologia Brasileira Hoje neste link, disponibilizado pela Ateliê Editorial.
Sociologia Brasileira Hoje, de Sergio Miceli e Carlos Benedito Martins (organizadores), Ateliê Editorial, 376 páginas, R$ 65,00