Fipe constata que crise do coronavírus agrava situação das empresas

Segundo Carlos Rocca, metade das empresas com maior liquidez do País e em funcionamento não se sustentaria por longo período

 07/04/2020 - Publicado há 4 anos
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Foto: Elsa Elena – flickr

Em meio à pandemia do coronavírus, simulação do Centro de Estudos de Mercado de Capitais (Cemec), da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe), constatou que até metade das grandes empresas em funcionamento pode ficar com caixa negativo em três meses. As reservas dessas empresas são advindas do balanço do final do ano de 2019 e não suportariam se manter sem a entrada de receita de vendas. A situação é ainda pior para pequenas e médias empresas.

Segundo Carlos Rocca, membro do Cemec da Fipe e docente da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade (FEA) da USP, a simulação utilizou dados disponíveis das organizações que geralmente são liberados em seus balanços trimestrais. A amostragem foi composta de 245 das maiores empresas e com melhor gestão do País que ainda estão em funcionamento.

A simulação não se trata propriamente do período estimado para a duração da pandemia, mas sim do período entre o fechamento do balanço das empresas, em dezembro de 2019, até três meses, sem receita de vendas. A avaliação ocorreu sob hipóteses, sendo a primeira delas de que as empresas pagariam seus fornecedores com prazo médio durante os três meses posteriores ao balanço; a segunda hipótese é de que o vencimento de dívidas financeiras e o pagamento dos juros poderia ser renegociado. Portanto, a partir do pagamento dos fornecedores, o saldo é utilizado para sanar dívidas operacionais, como folhas de pagamento e aluguéis, por exemplo. O professor informa que, claro, a situação colocada na simulação é radical e se aproxima do mercado de varejo, pois é considerado que, durante o prazo de três meses após o balanço, as empresas cessariam suas vendas e teriam receita zero.

Após a simulação, Rocca constatou que, “ao final do primeiro mês, cerca de 23% das empresas já estariam com caixa negativo, ou seja, já não suportariam um mês com zero de receita de venda. No segundo mês, esse porcentual saltaria para 37% das empresas com disponibilidade negativa. E, ao final do terceiro mês, o equivalente a 119 empresas, que dá cerca de 49%, ficariam com disponibilidade negativa”. Portanto, até o final do terceiro mês, cerca de metade da amostragem de empresas já estaria apresentando caixa negativo. O professor ainda afirma que “isso mostra como esse conjunto de empresas, que nós sabemos que estão entre as mais líquidas e com melhor gestão, cerca de metade delas, em três meses, já estaria sem condições de se manter só com a disponibilidade de fim de ano.”

Quanto à recuperação das empresas, Rocca afirma que o tempo de retomada é condicionado ao tempo de paralisia causada pela pandemia do coronavírus. “Essa recuperação pode ser apoiada na medida que, por exemplo, os financiamentos forem autorizados e criados pelo Banco Central do Brasil para pequenas e médias empresas, quase 85% são de responsabilidade do tesouro em termos de recursos e de risco, o que é crucial.” 

De acordo com o professor, o lançamento do programa, que permite o financiamento das folhas de salário das pequenas e médias empresas, cujo recurso é creditado diretamente na conta dos empregados e é coberto pelo Tesouro Nacional em até 85%, com prazos de até 36 meses para ser amortizado com juros de 3,75% ao ano, é importante para a recuperação das empresas, e que esse prazo é necessário ainda para que as organizações tenham fôlego. Rocca ressalta que a volta do funcionamento das empresas, mesmo após o controle da pandemia, não será de imediato, pois tende a ser gradativo o tempo para que as pessoas voltem às suas atividades.

Ouça a entrevista na íntegra pelo link acima.


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