Nesta segunda-feira, 14 de agosto, o Cinema da USP Paulo Emílio estreia a mostra Trauma Cultural na Irlanda e no Brasil. A seleção traz dez filmes, sete irlandeses e três brasileiros, que retratam períodos de opressão, abusos, conflitos e tensões vividos pelos dois países em diferentes momentos do século passado. A mostra é fruto de uma parceria entre o Cinusp, o Irish Film Institute, a Cátedra de Estudos Irlandeses da USP e a Associação Brasileira de Estudos Irlandeses (Abei).
Entre os dias 22 e 25 de agosto, a Abei promove na USP o 12º Simpósio de Estudos Irlandeses na América do Sul, no qual ocorrerá o evento Rethinking Cultural Trauma From Transnational Perspectives (Repensando o Trauma Cultural a Partir de Perspectivas Transnacionais, em tradução livre). “Por causa do evento, houve uma aproximação entre o Cinusp e a Cátedra de Estudos Irlandeses da USP para realizar uma mostra que tratasse dos traumas culturais da Irlanda”, explica Maria Carolina Gonçalves, uma das responsáveis pela programação.
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“O Irish Film Institute sugeriu alguns filmes, a partir disso selecionamos outros para compor a mostra e fizemos uma pesquisa para colocar também filmes brasileiros que mostrassem nossos próprios traumas culturais”, explica Maria Carolina.
Na Irlanda do Norte, entre os anos 1960 e 1990, houve uma série de conflitos políticos, chamados de the troubles, em que irlandeses sofreram abusos como prisões arbitrárias e tortura por parte dos britânicos, que resultaram na morte de 3.500 pessoas e chamaram a atenção do relatório da Anistia Internacional sobre tortura de 1975. “Refletindo sobre isso, não podíamos deixar de fazer a relação com o período da ditadura militar no Brasil, que ocorreu mais ou menos na mesma época”, diz a programadora do Cinusp.
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As produções nacionais elencadas são Cabra Marcado Para Morrer, de Eduardo Coutinho, que retrata a vida do líder camponês João Pedro Teixeira, assassinado no início dos anos 1960 por ordem de latifundiários do Nordeste; Martírio, de Vincent Carelli, sobre o genocídio do povo indígena frente ao avanço do agronegócio; e Que Bom te Ter Viva, de Lúcia Murat, em que os delírios de uma personagem anônima torturada na ditadura intercalam os depoimentos de oito ex-presas políticas do regime.
Entre as produções irlandesas que compõem a mostra, Maria Carolina destaca Fome, filme do diretor Steve McQueen premiado no Festival de Cannes, na França, sobre a greve de fome realizada em 1981 por prisioneiros políticos do IRA (Exército Republicano Irlandês), na Irlanda do Norte, em protesto contra os abusos sofridos por eles na prisão de Maze.
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Além de Fome, a responsável pela programação ressalta o documentário Nós Estivemos Lá, que mostra depoimentos de mulheres que frequentaram as prisões de Maze e Long Kesh, seja a trabalho, seja visitando familiares e amigos. De volta às prisões abandonadas, elas relatam o cotidiano, as angústias e pequenas vitórias dos prisioneiros. No dia 23 de agosto, após a sessão das 16 horas, haverá um debate com o diretor do documentário, Cahal McLaughlin.
No dia 24 de agosto, também depois da exibição das 16 horas do documentário 1916: The Irish Rebellion, o debate será com a produtora do filme e professora Bríona Nic Dhiarmada, da Universidade de Notre Dame (Estados Unidos) e a professora Laura Izarra, docente da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP e coordenadora da Cátedra de Estudos Irlandeses. 1916: The Irish Rebellion retrata o conflito que ocorreu na Semana da Páscoa daquele ano, quando um grupo de rebeldes irlandeses tomou o poder o Império Britânico em Dublin.
A mostra Trauma Cultural na Irlanda e no Brasil ocorre entre 14 e 25 de agosto no Cinusp Paulo Emílio, com sessões de segunda a sexta-feira, às 16 e às 19 horas, com entrada gratuita. O Cinusp fica no Favo 4 das Colmeias, na Rua do Anfiteatro, 181, na Cidade Universitária, em São Paulo. A programação completa está disponível no site do Cinusp.