Exposição permite ler, ver e conhecer Boris Schnaiderman

Em cartaz na USP, mostra faz homenagem ao professor no ano do seu centenário

 25/10/2017 - Publicado há 7 anos
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A exposição sobre o Professor Emérito Boris Schnaiderman na biblioteca da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas – Foto: Marcos Santos/USP Imagens

No centenário da Revolução de Outubro, um dos maiores responsáveis pela introdução da cultura russa no Brasil, o Professor Emérito da USP Boris Schnaiderman (1917-2016), também completaria 100 anos. Falecido um dia depois de seu 99º aniversário, o professor é homenageado com a Exposição do Centenário de Boris Schnaiderman: crítica literária, tradução, vídeos, fotos, manuscritos, promovida pelo Departamento de Teoria Literária e Literatura Comparada, em parceria com o Departamento de Letras Orientais e a Biblioteca Florestan Fernandes, todas instituições da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP. A mostra permanece na biblioteca até 31 de outubro e retorna em 4 de dezembro, para então ficar exposta até 17 de março.

O intelectual já havia sido lembrado este ano durante o ciclo de debates sobre a Revolução Russa, promovido na Casa de Cultura Japonesa pelo Departamento de Letras Orientais, onde Schnaiderman dava aulas na graduação. Agora, a professora Maria Augusta Fonseca, da FFLCH, pretende dar visibilidade à ligação do professor com a pós-graduação no Departamento de Teoria Literária e Literatura Comparada. “A passagem do professor Boris pelo departamento foi muito importante. Ele orientava alunos de mestrado e doutorado. Além disso, ele é muito lembrado pela tradução, mas tem uma obra muito rica também na crítica e teoria literária, e eu queria ressaltar esse lado dele na mostra.”

Livros traduzidos e escritos por Schnaiderman estão na exposição – Foto: Marcos Santos/USP Imagens

É possível conhecer várias outras facetas de Boris Schnaiderman por meio do material exposto na Biblioteca Florestan Fernandes. A exposição é simples, com uma vitrine circular que exibe obras traduzidas pelo professor ao lado de outras em russo, livros, textos e manuscritos dele sobre tradução, crítica e teoria literária, além de fotografias e objetos de recordação, como cadernos de anotações de alunos e uma máquina de escrever. Uma estante ao lado de uma mesa com duas cadeiras convida à leitura de obras da literatura russa traduzidas por Schnaiderman e, numa sala de estudos no subsolo da biblioteca, vídeos sobre o professor são exibidos diariamente ao longo do dia.

“Oferecemos várias possibilidades de acompanhar a trajetória do professor Boris: ele pode ser lido nas obras dispostas na estante, visto no conjunto exposto na vitrine e conhecido vivo, conversando e dando entrevistas nos vídeos na sala de projeção”, diz a professora Maria Augusta.

Mostra apresenta o legado do professor também nas áreas da crítica e da teoria literária – Foto: Marcos Santos/USP Imagens

Ex-aluna de mestrado e doutorado do professor Schnaiderman, Maria Augusta montou boa parte da exposição a partir de acervo próprio e com itens cedidos por outras pessoas ligadas ao homenageado. “Procurei reunir na vitrine o Boris intelectual tanto da tradução quanto da crítica e teoria literária, a maneira como ele compreendeu a tradução, o que escreveu a respeito do processo de traduzir uma obra”, explica.

Nos vídeos em exibição diária, é possível conhecer ainda mais o professor. Às 9h45, pode-se ver a entrevista Um Espelho Russo, que mostra uma conversa com Schnaiderman sobre cinema, baseada numa experiência de infância: quando vivia em Odessa, na atual Ucrânia, presenciou sem saber a gravação de cenas do clássico do diretor soviético Serguei Eisenstein O Encouraçado Potemkin. Em referência ao episódio, o filme também foi integrado à exposição, com sessões às 14 horas. Por fim, às 18h45, o documentário O que traduz Boris? conta sua vida por meio de depoimentos de familiares, amigos e do próprio Boris. A produção traz, por exemplo, fotografias e detalhes da vinda do professor ao Brasil, seu início de carreira como agrônomo, sua participação na Segunda Guerra Mundial e entrevistas com o professor Antonio Candido, que foi seu grande amigo.

A trajetória de vida de Schnaiderman, desde o nascimento na atual Ucrânia até sua vida no Brasil, está retratada na mostra – Foto: Marcos Santos/USP Imagens

“Acho importante trazer também os vídeos para que se possa ver de fato o professor Boris. Mesmo aos 99 anos ele era  cheio de vitalidade, uma pessoa muito inteligente, vibrante, uma conversa muito agradável. Era uma pessoa preciosa, especialmente nos dias de hoje, em que faz falta esse tipo de observação do mundo com sensibilidade, um pensamento de resistência articulado, denso, não meramente panfletário. É bom que os alunos possam ver isso, os calouros que chegarão ano que vem também.”

A professora ressalta a importância do professor não apenas por trazer a cultura russa ao Brasil, mas por divulgar o pensamento crítico da região. “Só uma fina minoria intelectual tinha acesso ao pensamento de Mikhail Bakhtin, Vladimir Maiakovski, dos formalistas russos, os cubo-futuristas, futuristas naquele tempo. Boris trazia esse universo para os seus alunos, e abria horizontes para o pensamento crítico e a reflexão. Por vir da União Soviética e estudar literatura russa, ele tinha o privilégio de conseguir viajar para lá mesmo durante a ditadura, e quando voltava dividia conosco suas experiências.”

Formada na Universidade Presbiteriana Mackenzie, Maria Augusta também se recorda de quando o professor a aceitou como aluna na pós-graduação no início dos anos 70. “Na época havia uma rivalidade imensa entre USP e Mackenzie, depois da barbárie na Maria Antonia. Ele poderia ter seguido os estereótipos e me visto como uma reacionária por eu ser mackenzista, mas não houve nada disso e, mesmo sem eu ter conhecimento profundo em literatura russa, ele me abriu as portas, pois estava interessado no que as pessoas tinham a dizer.”


A professora Maria Augusta: lembranças do professor Schnaiderman – Foto: Marcos Santos / USP Imagens

“Boris era uma pessoa muito aberta, tinha um grande conhecimento sobre as vanguardas literárias do Brasil. Em nossa convivência fora da Universidade, tínhamos, além da troca intelectual, uma troca humana, em que ele me contava histórias da guerra, lembranças sofridas, conversas na surdina durante a ditadura. Mas também histórias saborosas, que esta exposição me ajuda a recordar”, completa a professora.

Maria Augusta está trabalhando também no próximo número da revista Literatura e Sociedade, do Departamento de Crítica Literária e Literatura Comparada da FFLCH, em que pretende reunir escritos de Schnaiderman que ficaram de fora dos livros sobre crítica e teoria literária e tradução.

A Exposição do Centenário de Boris Schnaiderman fica na Biblioteca Florestan Fernandes da FFLCH até dia 31 de outubro, quando será interrompida até dia 4 de dezembro, e a partir daí termina em 17 de março. O endereço da biblioteca é Avenida Professor Lineu Prestes, travessa 12, número 365, na Cidade Universitária, em São Paulo.


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