A viagem de Lula à Europa e a guerra da Ucrânia 

Segundo Alberto do Amaral, um cessar-fogo tem que ser importante não apenas para a Europa, mas para o futuro da humanidade  

 02/05/2023 - Publicado há 11 meses

Em sucessivos pronunciamentos feitos em Portugal e na Espanha, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva condenou a invasão russa na Ucrânia e defendeu o processo de paz. Para o professor Alberto do Amaral, existem várias razões que justificam a busca da paz pelo Brasil, e a primeira é de natureza moral. “Todos devem ser favoráveis à paz e não à guerra, a paz favorece o entendimento, propicia a cooperação, enquanto a guerra traz o caos e consequências inimagináveis para a humanidade; em segundo lugar, a paz é um dever constitucional. A Constituição brasileira estabelece entre os princípios que devem governar a política externa a busca da paz, portanto, os líderes políticos, o presidente da República, o ministro das Relações Exteriores, a nossa diplomacia, enfim, devem esforçar-se por obter a paz, onde quer que isso seja necessário.”
Ele admite, porém, que existem vários obstáculos em relação à busca da paz, sobretudo a paz duradoura, “algo extremamente complexo no momento atual, porque nós estamos diante de um conflito em que há uma divergência estrutural entre Rússia e Ucrânia, a Ucrânia deseja a independência e integridade do seu território, enquanto a Rússia deseja anexar, no mínimo, parte do território ucraniano; segundo lugar, paz deve envolver a satisfação de ambas as partes, é possível buscar a paz, mas será difícil alcançá-la no presente momento. O terceiro grande obstáculo é que a paz pressupõe uma capacidade de mediar e um dos pressupostos básicos da mediação é a confiança, o mediador precisa despertar a confiança nos mediados, de modo a alcançar uma solução viável; a diplomacia brasileira, portanto, deve esforçar-se por manter-se equidistante e por construir a confiança que é indispensável para o processo de paz”.
Embora reconheça que a paz será muito difícil de ser alcançada no momento, Amaral argumenta ser possível um cessar-fogo, “ainda que o cessar-fogo não contemple todas as reivindicações dos beligerantes, ainda que alguma concessão tenha que ser feita, é necessário que essas concessões não sejam discutidas previamente somente na mesa de negociações. Somente ouvindo as partes e sendo sensível às expectativas de cada uma é que você pode chegar às concessões que serão admissíveis e aceitáveis e, portanto, pensar num cessar-fogo que possa ser importante para a Europa, importante para as relações internacionais, importante para o futuro da humanidade. Sem consequências catastróficas”, conclui o colunista.

Um Olhar sobre o Mundo
A coluna Um Olhar sobre o Mundo, com o professor Alberto Amaral, vai ao ar quinzenalmente, terça-feira às 8h, na Rádio USP (São Paulo 93,7; Ribeirão Preto 107,9 ) e também no Youtube, com produção da Rádio USP,  Jornal da USP e TV USP.

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