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“É uma honra. O prêmio tem abrangência nacional e uma seleção de filmes muito interessante”, afirma Lucas Silva Campos, formado em Audiovisual pela Escola de Comunicações e Artes (ECA) da USP. O ex-estudante já havia sido indicado ao Prêmio da Associação Brasileira de Cinematografia (ABC) pela Universidade duas vezes, com Serenata e Regresso, mas conta que ficou surpreso quando ganhou pelo seu trabalho como diretor de fotografia no curta Tempo de Ir, Tempo de Voltar (2018), uma criação estudantil coletiva.
O enredo envolve três irmãos e jovens adultos que, depois de muitos anos, voltam a morar na casa em que cresceram, repleta de fotos da infância. O mais velho dos irmãos tinha cometido suicídio e retorna da morte, mas “os fantasmas do roteiro não têm o sentido de assombração, e sim de ausência”, alerta Campos. A obra é baseada na vertente artística do realismo fantasmagórico, muito forte no Leste Asiático. “A ideia era brincar com essa interseção entre o registro real da vida de três pessoas numa casa e com a fantasmagoria desse irmão que, mesmo ausente na vida deles, volta e começa a permear as relações.”
Parte do desafio era fazer um filme experimental que tivesse personalidade, mas que fosse fluido e interessante ao espectador, pois “algumas criações trazem sutilezas muito fortes, com um tom artístico rebuscado, e as pessoas podem acabar não se envolvendo”. Uma das maneiras de trazer a fantasmagoria foi utilizar ambientes escuros na filmagem, fator que envolve a direção de fotografia.
Campos explica que a fotografia cinematográfica se diferencia da natural por não ser espontânea. “Você manipula como está a história, como está a luz (o que ela mostra ou não mostra). Isso ajuda a contar o enredo e construir um espaço cênico que seja interessante, coeso e vivo.” Dois elementos muito importantes para isso são a decoupagem, “o ponto de vista da câmera, de onde ela olha a história”, e o trabalho com a luz, “que tem o poder de moldar o espaço a partir de uma carga emotiva e visual que é muito incrível”. Além disso, essa área do cinema também trabalha em conjunto com outras artes. “É uma fotografia que faz parte de uma equação muito complexa, que envolve música, atuação, as locações e figurino.”
O ex-aluno da ECA destaca que a Universidade fornece um aporte importante aos Trabalhos de Conclusão de Curso. Tempo de Ir, Tempo de Voltar (2018) foi o TCC de Pedro Nish, diretor do filme. Por mais que Campos acredite que “não é preciso uma câmera de última geração para fazer um bom filme” e que “um bom filme é uma somatória de vários fatores“, ele ressalta que “a USP fornece câmera boa, equipamento de luz, transporte de objeto, cenografia, figurino. A USP ajudou na logística”.
Do ponto de vista da graduação, “a primeira desconstrução foi perceber que a faculdade não é um poço de conhecimento infinito em que você senta e absorve todo aquele conhecimento milenar”. Nesse sentido, a ECA colaborou por fornecer uma imersão no cinema. “É um espaço que é fértil, que tem um monte de gente politizada, engajada e diferente de você. A imersão vai no sentido de estar em um espaço em que as pessoas debatem, fazem assembleias e grupos de estudo.”
O teaser do filme pode ser visto a seguir.