O futuro da pesquisa em inteligência artificial é abordado no artigo de Fábio Cozman, professor do Departamento de Engenharia Mecatrônica da Escola Politécnica da USP. “Embora o ser humano tenha um interesse antigo em artefatos artificiais com inteligência, consciência, sagacidade, humor e muitos outros aspectos normalmente ligados à cognição de alto nível, apenas na década de 50 esse interesse se tornou um programa científico concreto”, comenta. “Durante cerca de 50 anos a área de IA apresentou uma evolução marcada por períodos de euforia e depressão. Por exemplo, a década de 60 viu grandes promessas sobre a iminente programação de mestres de xadrez e especialistas em matemática, enquanto a década de 70 trouxe críticas aos resultados obtidos na área, um período frequentemente referido como o ‘inverno da IA’.”
O professor explica que os últimos dez anos, por outro lado, testemunharam um crescimento explosivo da inteligência artificial, em muitos aspectos até mais rápido do que pesquisadores da área previam na virada do século. “Hoje podemos observar artefatos artificiais que controlam investimentos, que interagem com clientes fornecendo informações e sugerindo condutas, que detectam padrões em exames, que dirigem veículos. Esse sucesso está sendo seguido com atenção pela imprensa, por governos e pela sociedade em geral. Quais são as perspectivas futuras para inteligências artificiais?”, questiona Cozman. “Não é fácil predizer como essa tecnologia irá evoluir a longo prazo, porém podemos examinar quais tendências são promissoras para a pesquisa em IA nos próximos anos. Os artefatos que emergirem dessa pesquisa contribuirão para a real evolução da área através da ação de empreendedores que conectem a fronteira de pesquisa com a prática, bem como através do debate social que levará a formas de regulação e difusão.”
Inteligência Artificial: Da Mecanização da Matéria e do Espírito ao Desenho e Construção Científica de Máquinas e Algoritmos, e do Estado Moderno como Máquina é o título do artigo de R. N. Chiappin, Jojomar Lucena, professores do Departamento de Economia da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade (FEA) da USP, e Carolina Leister, professora da Escola Paulista de Política, Economia e Negócios da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). O artigo se propõe a defender duas teses. A primeira é que há duas tradições para a pesquisa sobre inteligência artificial: uma remonta à tradição milenar das observações astronômicas, com a coleta e tratamento de dados, e a outra é a ciência moderna. A segunda tese é que a primeira e mais importante contribuição da pesquisa em inteligência artificial é a proposta, feita pelo filósofo inglês Thomas Hobbes (1588-1679), de desenhar o Estado como uma máquina autônoma, aproveitando os benefícios das máquinas de precisão para a industrialização da sociedade, e que esse modelo de Estado é o principal fator da Revolução Industrial.