Como a inteligência tão humana é implementada
fora do cérebro?

Imagem Reprodução: Revista USP

Os avanços e aplicações da inteligência artificial (IA) vêm propiciando grandes mudanças na sociedade. Para apresentar aos leitores a importância das pesquisas e resultados que estão sendo desenvolvidos, a Revista USP – publicação da Superintendência de Comunicação Social (SCS) da USP – lança o dossiê “Inteligência Artificial”, que reúne artigos de pesquisadores de diversas áreas do conhecimento. A revista está disponível na íntegra neste link.

“Hoje as aplicações e implicações da inteligência artificial são inúmeras. Os avanços na área estão cada dia mais presentes na indústria, na educação, nas finanças, na medicina”, observa o editor Jurandir Renovato. “Sua importância é tanta que a Universidade de São Paulo acaba de firmar uma parceria com a empresa IBM e a Fapesp para a criação de um centro de excelência para pesquisa em IA.”

A organização do dossiê é do professor Nestor Caticha, do Instituto de Física da USP. “Este conjunto de artigos lida com alguns aspectos não exaustivos, mas importantes para desvendar um pouco o que é inteligência artificial”, explica. O professor ressalta, no entanto, que, apesar da dedicação dos especialistas na elaboração do dossiê, ainda há muito para esclarecer sobre o tema. “O interesse em inteligência artificial pode, além de trazer soluções de mercado e competitividade econômica internacional, ajudar a olhar para o que significa ser humano. Esperamos que alguns assuntos sejam tratados, no futuro, nesta revista.”

"Hoje podemos observar artefatos artificiais que controlam investimentos, que interagem com clientes, fornecendo informações e sugerindo condutas, que detectam padrões em exames e até dirigem veículos."

O futuro da pesquisa em inteligência artificial é abordado no artigo de Fábio Cozman, professor do Departamento de Engenharia Mecatrônica da Escola Politécnica da USP. “Embora o ser humano tenha um interesse antigo em artefatos artificiais com inteligência, consciência, sagacidade, humor e muitos outros aspectos normalmente ligados à cognição de alto nível, apenas na década de 50 esse interesse se tornou um programa científico concreto”, comenta. “Durante cerca de 50 anos a área de IA apresentou uma evolução marcada por períodos de euforia e depressão. Por exemplo, a década de 60 viu grandes promessas sobre a iminente programação de mestres de xadrez e especialistas em matemática, enquanto a década de 70 trouxe críticas aos resultados obtidos na área, um período frequentemente referido como o ‘inverno da IA’.”

O professor explica que os últimos dez anos, por outro lado, testemunharam um crescimento explosivo da inteligência artificial, em muitos aspectos até mais rápido do que pesquisadores da área previam na virada do século. “Hoje podemos observar artefatos artificiais que controlam investimentos, que interagem com clientes fornecendo informações e sugerindo condutas, que detectam padrões em exames, que dirigem veículos. Esse sucesso está sendo seguido com atenção pela imprensa, por governos e pela sociedade em geral. Quais são as perspectivas futuras para inteligências artificiais?”, questiona Cozman. “Não é fácil predizer como essa tecnologia irá evoluir a longo prazo, porém podemos examinar quais tendências são promissoras para a pesquisa em IA nos próximos anos. Os artefatos que emergirem dessa pesquisa contribuirão para a real evolução da área através da ação de empreendedores que conectem a fronteira de pesquisa com a prática, bem como através do debate social que levará a formas de regulação e difusão.”

Inteligência Artificial: Da Mecanização da Matéria e do Espírito ao Desenho e Construção Científica de Máquinas e Algoritmos, e do Estado Moderno como Máquina é o título do artigo de R. N. Chiappin, Jojomar Lucena, professores do Departamento de Economia da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade (FEA) da USP, e Carolina Leister, professora da Escola Paulista de Política, Economia e Negócios da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). O artigo se propõe a defender duas teses. A primeira é que há duas tradições para a pesquisa sobre inteligência artificial: uma remonta à tradição milenar das observações astronômicas, com a coleta e tratamento de dados, e a outra é a ciência moderna. A segunda tese é que a primeira e mais importante contribuição da pesquisa em inteligência artificial é a proposta, feita pelo filósofo inglês Thomas Hobbes (1588-1679), de desenhar o Estado como uma máquina autônoma, aproveitando os benefícios das máquinas de precisão para a industrialização da sociedade, e que esse modelo de Estado é o principal fator da Revolução Industrial.

 

"Estudos recentes mostram que a disseminação das técnicas de inteligência artificial irá alargar ainda mais a desigualdade entre as nações, fazendo com que o atraso nessa área se torne um caminho sem volta."

Rumo a Uma Política de Estado para Inteligência Artificial é o artigo assinado por Raphael Cóbe, pesquisador do Núcleo de Computação Científica da Unesp, Luiza Nonato, doutoranda do Instituto de Relações Internacionais da USP, Sérgio Novaes, diretor científico do Núcleo de Computação Científica da Universidade Estadual Paulista (Unesp), e José Ziebarth, diretor na Secretaria Especial de Desburocratização, Gestão e Governo Digital do Ministério da Economia. Os especialistas esclarecem que os conceitos e ferramentas de inteligência artificial vêm conduzindo mudanças críticas em nossa sociedade. Destacam que a IA atualmente compreende diferentes áreas, que incluem aprendizado de máquina, visão computacional, processamento de linguagem natural, reconhecimento de padrões em imagens e robótica, entre outras.

Segundo informam, avanços recentes em IA têm viabilizado a criação e o aperfeiçoamento de aplicações que vão desde veículos autônomos, diagnóstico médico e assistência física aos deficientes e idosos até a segurança pública e indústria de entretenimento. As técnicas de IA, associadas à abundante quantidade de dados digitais e ao onipresente poder de processamento paralelo entregue pela computação na nuvem, deverão suprir a alta demanda pública por serviços digitais inovadores. “O caráter transversal da IA possibilita construir soluções que permitam lidar com uma ampla variedade de problemas, trazendo melhorias socioeconômicas significativas para a sociedade. Dada essa importância, devemos estar preparados para induzir políticas públicas eficientes que contemplem aspectos técnicos, éticos e de formação de recursos humanos para permitir que acompanhemos de perto o ritmo de países que atualmente lideram os desenvolvimentos das áreas.”

Esse artigo oferece uma visão geral das estratégias nacionais lançadas nos últimos anos, com o objetivo de ressaltar a importância de que o Brasil defina uma política pública para promover a adoção da inteligência artificial. Os especialistas ressaltam: “Estudos recentes mostram que a disseminação das técnicas de inteligência artificial irá alargar ainda mais a desigualdade entre as nações, fazendo com que o atraso nessa área se torne um caminho sem volta”.

"Se já descrevemos o cérebro usando relógios de água, moinhos de trigo, telégrafos, computadores digitais, agora temos outras metáforas”

“Ao longo da história da humanidade, os modelos mecânicos para o cérebro e a mente mudaram ao acompanhar o desenvolvimento tecnológico da época. Se já descrevemos o cérebro usando relógios de água, moinhos de trigo, telégrafos e computadores digitais, agora temos outras metáforas”, destaca Nestor Caticha, o organizador do dossiê, em seu artigo Representações Internas e Processamento de Informação em Redes Neurais.

“As redes neurais artificiais (RNA) ocupam hoje esse lugar privilegiado. Além de permitir modelos de cognição ou de sistemas neuronais biológicos, as RNA estão por trás da revolução tecnológica em curso”, esclarece o professor. “Porém, o objetivo deste artigo é mostrar em casos simples como funcionam as redes neurais, essencialmente revelando os ases dentro da manga, mas devemos conceder que as redes mais complexas ainda parecem magia até para seus criadores, pois a composição de muitos elementos simples pode gerar resultados inesperados.”

Capa Revista USP

Revista USP,
dossiê Inteligência Artificial,
edição número 124.

Publicação da Superintendência de Comunicação Social da Universidade de São Paulo, 134 páginas.

Preço: R$ 20,00, nas livrarias Edusp. Para download

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