Cinema da USP explora os muitos sentidos dos sonhos

Até 26 de fevereiro, mostra de filmes “Sonhadores” exibe 17 produções de diferentes épocas e países

 06/02/2023 - Publicado há 2 anos
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Banner da mostra Sonhadores, do Cinema da USP Paulo Emílio (Cinusp) - Foto: Reprodução/Cinusp

Depois de uma pausa na programação, o Cinema da USP Paulo Emílio (Cinusp) reiniciou suas atividades com a mostra Sonhadores, que começou no dia 30 de janeiro e vai até 26 de fevereiro. Ao longo das semanas, serão exibidos 17 filmes que trazem às telas desejos e aspirações humanas em suas mais variadas facetas.

A curadoria buscou evidenciar a polissemia da palavra sonho, que pode ter diferentes significados dependendo de quem o possui. “Buscamos variar bastante nossa curadoria, procurando filmes de diferentes países e temporalidades. É curioso observar como o sonho muda de um lugar para outro e de época em época”, comenta Guilherme Guedes, curador do Cinusp.

Um dos filmes da mostra é Sal da Terra (1954), de Herbert Biberman, baseado em uma greve de mineiros mexicanos que sonhavam com melhores condições de trabalho em 1951. Segundo Guedes, a mostra quer trazer ao público não apenas sonhos individuais, mas também os que são de caráter coletivo, como o apresentado nesse filme, que foi censurado nos Estados Unidos na década de 1950.

O tema do desejo por condições dignas de vida está presente em outras obras apresentadas em Sonhadores. Em Kini e Adams (1997), da diretora Idrissa Ouedraogo, dois amigos que moram em uma vila no Zimbábue sonham em consertar um carro quebrado para irem à cidade em busca de uma vida com mais qualidade. Já em Para Onde Ir (1957), de Georges Nasser, dilemas da imigração e sonhos de prosperidade são explorados através da história de um trabalhador libanês que abandona sua família e vem ao Brasil, considerado um país de grandes oportunidades.

As Aventuras de Paddington (2014), do diretor Paul King, também lida com os sonhos e as inseguranças que envolvem a imigração. Aqui, o urso peruano Paddington é um imigrante ilegal que busca um lar e uma família em Londres. A trama tem como base os livros infantis de Michael Bond, escritor britânico que criou o personagem do urso em 1958 inspirado em crianças judias refugiadas no Reino Unido durante a Segunda Guerra Mundial.

O esporte é alvo de ambições em dois filmes da mostra. O documentário Basquete Blues (1994), do diretor Steve James, acompanha cinco anos da vida de William Gates e Arthur Agee, dois adolescentes que sonham em se tornar jogadores de basquete da NBA. Além das dificuldades enfrentadas para alavancar uma carreira esportiva, questões raciais e sociais enfrentadas pelos jovens garotos negros moradores de um subúrbio em Chicago permeiam a narrativa.

Lembrado pelas cenas em que Sylvester Stallone soca carne crua em um açougue e corre nas ruas da Filadélfia ao som de Gonna Fly Now, Rocky: Um Lutador (1976), de John Avildsen, conta a história de Rocky Balboa, desconhecido boxeador italiano que trabalha para um agiota na Filadélfia e começa a se dedicar ao esporte quando é escolhido para lutar contra Apollo Creed, detentor do título mundial de pesos pesados.

Personagens perseguem a fama em alguns dos filmes. Nasce uma Estrela (1954), de George Kukor, apresenta o desenvolvimento da carreira de uma jovem cantora e atriz. O musical escancara as contradições de Hollywood ao mostrar os problemas psicológicos que a artista aspirante desenvolve junto com a dependência química. Já o vencedor de seis Oscars, La La Land: Cantando Estações (2017), de Damien Chazelle, traz o romance de dois jovens artistas que buscam alcançar o estrelato na música e em Hollywood. 

O objetivo da seleção de filmes é expandir a escolha para filmes que não exibem apenas histórias clássicas de superação, diz o curador Guilherme Guedes. “Durante a nossa curadoria, um apontamento que surgiu foi o de que, muitas vezes, filmes podem partir de uma perspectiva meritocrática, em que bastaria um sonho e força de vontade do protagonista para que se realizasse”, detalha Guedes. 

É o caso de Pyaasa (1957), de Guru Dutt, em que um poeta pobre busca reconhecimento pela sua arte, mas é impedido pela realidade de sua vida, explica o curador. O mesmo se passa em Rio, Zona Norte (1957), em que Nelson Pereira dos Santos cria um microcosmo da desigualdade social carioca através da vida do talentoso Espírito de Luz, que sonha em viver da música.

Outro filme nacional sobre o tema da fama é de Breno Silveira, 2 Filhos de Francisco (2005), biografia da dupla Zezé Di Camargo e Luciano, que encerra a mostra. Ainda acontecerão exibições de Filhos do Paraíso (1997), Um Sonho de Liberdade (1994), A Hora da Estrela (1985), O Canto da Saudade (1952) e Noites de Cabíria (1957).

A mostra Sonhadores, do Cinema da USP Paulo Emílio (Cinusp), fica em cartaz até 26 de fevereiro, de segunda a sexta-feira, com sessões às 16 e às 19 horas, na sala do Cinusp (Rua do Anfiteatro, 109, Cidade Universitária, em São Paulo) e no Centro Universitário Maria Antonia (Rua Maria Antonia, 258/294, Vila Buarque, em São Paulo). Entrada grátis. Mais informações e a programação completa da mostra estão disponíveis no site do Cinusp.


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